Apesar de todo o discurso de líderes internacionais
sobre as ações que estão adotando para reduzir as emissões de gases de efeito
estufa, dados apontam que, pela primeira vez, o mundo pode registrar em 2015
uma elevação média de 1°C em comparação à Era Pré-Industrial. Dados também
revelam que, em 2014, a concentração de CO2 e outros gases de efeito
estufa bateu um novo recorde e "continua em seu aumento sem freio,
alimentando as mudanças climáticas". Para a ONU, essa tendência vai deixar
o mundo "mais perigoso e mais inóspito para as futuras gerações".
Os dados foram publicados poucas semanas antes da
Conferência do Clima da ONU, em Paris, e trazem o alerta de que o que acontece
no planeta obedece a regras da natureza e não podem ser renegociadas. "O
CO2 permanece na atmosfera por centenas de anos e, nos oceanos, por
um período ainda maior", aponta a ONU. "Emissões do passado, presente
e futuro terão um impacto cumulativo tanto no aquecimento global como nos
oceanos. As leis da física não são negociáveis", alertou a entidade.
Segundo o Escritório de Meteorologia do Reino Unido
(conhecido como Met Office), o mundo deve terminar o ano com uma temperatura
média 1°C acima da média entre 1850 e 1900 e será o mais quente da história.
Entre janeiro e setembro deste ano, a taxa já ficou 1,02ºC acima nos anos
pré-industriais. Se a tendência for mantida, o ano vai romper a barreira, pela
primeira vez.
A elevação de 1ºC seria o meio do caminho até a marca
de 2ºC e estabelecido pelos cientistas como o ponto que o planeta não poderia
ultrapassar, sob o risco de viver importantes transformações. Tanto a
concentração de gases como o novo dado sobre temperaturas deve aumentar a
pressão para uma solução entre negociadores em Paris.
"Esta é a primeira vez na história que atingimos
essa marca de 1ºC e fica claro que é a atividade humana que está levando o
clima a um território desconhecido", disse Stephen Belcher, do Met Office.
Além das emissões, o que deve contribuir para que 2015 atinja a nova marca é a
forte influência do El Nino.
O que assusta os cientistas é que o aquecimento tem se
acelerado. Em 2013, a ONU indicou que as temperaturas aumentaram em 0,85 graus
entre 1880 e 2012. Mas 2014 registrou as temperaturas mais elevadas da história
e 2015 pode superar a marca, o que ainda se repetiria em 2016.
Nas negociações diplomáticas, os governos levaram
quase 20 anos para usar a meta de 2ºC como parâmetro, apesar de ela ser
conhecida desde a década de 70. Em 1992, no Rio de Janeiro, a proposta de
colocar a marca como um teto não foi aprovada e ela somente seria reconhecida
em 2010, em Cancun.
Estufa
Parte significativa do aquecimento, segundo os
cientistas, estaria ocorrendo justamente pelo impacto dos gases de efeito
estufa e as constatações apontam para um cenário alarmante.
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM),
houve ainda um incremento de 36% do efeito de aquecimento do clima entre 1990 e
2014. Isso foi causado pela longa duração e acumulação de gases como o CO2,
o metano (CH4) e o N2O gerados por atividades
industriais, agricultura e residências.
De acordo
com os dados, a concentração atmosférica de CO2 atingiu 397,7 partes
por milhão (ppm) em 2014. No Hemisfério Norte, ela superou a marca simbólica de
400 ppm em abril de 2014. Uma vez mais, na primavera de 2015, a concentração
global de CO2 superou a marca de 400 ppm. Para 2016, a projeção é de
que essa concentração aumentará ainda mais.
O CO2
é responsável por 83% do aumento do efeito estufa nos últimos dez anos. Em
comparação ao período pré-industrial, ele sofreu um aumento de 143%.
"Todos
os anos alertamos que a concentração de gases bate recorde", apontou o
secretário-geral da OMM, Michel Jarraud. "E todos os anos dizemos que o
tempo para reverter essa tendência está acabando", disse. "Precisamos
agir urgentemente se quisermos que as temperaturas do planeta estejam em níveis
que possamos administrá-las", insistiu.
Para
Jarraud, o mundo em breve estará vivendo a realidade de uma concentração de CO2
acima de 400ppm. "Não podemos ver os gases. Eles são uma ameaça invisível,
mas muito real", disse. "Isso significa temperaturas mais elevados,
mais climas extremos, como ondas de valor, inundações, aumento dos níveis do
mar", alertou. "Isso está ocorrendo agora e estamos entrando em
território desconhecido em uma velocidade assustadora", disse.
No caso do
metano, gerado inclusive pela agricultura, a alta é de 254% em comparação aos
níveis pré-industriais e, em 2014, também bateu um novo recorde com 1833 partes
por bilhão. Já a concentração de N2O está 121% acima do ano de 1880.
Vapor
Um dos
alertas, porém, se refere à combinação cada vez mais perigosa entre o CO2
e o vapor de água. "O ar mais quente gera uma maior umidade e, portanto,
aumenta as temperaturas das superfícies causadas pelo CO2 que, por
sua vez, gera maior elevação dos níveis da vaporização das águas e, portanto,
aumenta o efeito estufa", indicou a entidade da ONU.
Num cenário
em que a concentração de CO2 fosse duplicada em comparação à Era
Pré-Industrial, o vapor de água poderia gerar um aumento do aquecimento
atmosférico três vezes maior que os demais gases. "O excesso de energia
preso no CO2 e outros gases está aquecendo a superfície do planeta,
o que pode levar a mais vapor de água, que por sua vez, poderia gerar mais
calor", alertou Jarraud. (biodieselbr)
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