Gastar menos energia ‘suja’ é a
melhor ação contra o aquecimento global
Uso eólico priorizado e menos
energia suja são melhores alternativas ao aquecimento.
A
meta internacional de manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC pode não ser
cumprida se o foco das ações for apenas na implantação de tecnologias de
emissões negativas de carbono. Procurar gastar menos energia “suja”, como
petróleo, carvão, e priorizar o uso eólico, solar e de biomassa são as melhores
alternativas.
O
alerta consta do estudo Biophysical and economic limits
to negative CO2 emissions, publicado em 07/12/15, na revista especializada Nature Climate Change.
“As
emissões negativas são tecnologias que permitem você remover da atmosfera o gás
carbônico e outros gases do efeito estufa que já foram lançados na atmosfera”,
explica o professor José Moreira, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE)
da USP, coautor do estudo que foi liderado pelo professor Pete Smith, da
Universidade de Aberdeen (Reino Unido).
A
discussão de formas de conter o aquecimento global é importante,
principalmente, neste momento, quando está ocorrendo a Conferência do Clima de
Paris (COP 21), na França. De 30 de novembro a 12 de dezembro, lideranças de
196 países do mundo discutem um acordo mundial para conter o aquecimento global
abaixo dos 2ºC até ao final do século. Esse limite de 2ºC foi acordado pela
primeira vez em Copenhague, em 2009 e, depois, aprovado na Cúpula do Clima em
Cancún, em 2010.
Segundo
o professor Moreira, a preocupação dos cientistas é de que alguns políticos
mundiais estejam “se esforçando pouco” em diminuir as emissões de gás
carbônico, principal responsável pelo aumento da temperatura terrestre. “Isso
pode ser consequência da crença de alguns dos tomadores de decisão em
avaliações científicas de que se poderá usar, no futuro, tecnologias de
emissões negativas de gás carbônico para evitar o aquecimento do planeta”.
Por
isso, a pesquisa apresentada na Nature Climate Change demonstra os impactos das tecnologias
de emissões negativas sobre o uso da terra, emissões de gases de efeito de
estufa, uso da água, refletividade da Terra e esgotamento de nutrientes do
solo, além dos requisitos de energia e de custos para cada tecnologia.
“A
mensagem-chave do nosso estudo é que não devemos contar ainda com estas
tecnologias não amplamente comprovadas para salvar nosso futuro. Em vez disso,
cortes rápidos e agressivos nas emissões de gases de efeito estufa são
necessários agora. A janela de oportunidade está se fechando rapidamente, por
isso é imperativo obter um acordo global em Paris este mês para avançar nesse
sério problema”, afirma Pete Smith.
O
professor da Universidade de Aberdeen disse ainda que as tecnologias de
emissões negativas têm limitações significativas e é preciso investir em
pesquisa e desenvolvimento para tentar superar essas limitações.
Emissão
negativa
Moreira
destaca que são poucas as opções de tecnologias de emissões negativas. As
abordadas no estudo foram: o florestamento e reflorestamento (plantar mais
árvores para absorver gás carbônico), uso de produtos químicos para absorver
gás carbônico do ar, aumento da produção de biocombustíveis (com a captura do
gás carbônico liberado durante o seu processamento e, em seguida, armazenamento
permanente abaixo do solo), trituração de rochas que, naturalmente, absorvem
gás carbônico, espalhando-as sobre os solos para que elas removam o gás mais
rapidamente.
O
estudo aponta que muitas dessas ações podem ser inviáveis em grande escala e
geram potenciais impactos ambientais, econômicos e de energia. Moreira dá o
exemplo da produção de biocombustível com a captura do gás carbônico liberado
durante o seu processamento e armazenamento abaixo do solo. Apesar de ser uma
fonte alternativa e renovável para a produção de energia, o seu processo pode
causar riscos que ainda não estão totalmente avaliados.
“O
bioetanol utilizado no Brasil é um exemplo desse tipo de combustível. Se o
bioetanol fosse adotado por todos os países, precisaríamos de uma quantidade
enorme de cana-de-açúcar para atender a demanda e com isso deslocaríamos
culturas alimentares, deixando de produzir milho, trigo e gerar um problema de
não atender as necessidades básicas da população em relação à alimentação”,
disse o professor, ele ainda ressalta que mais estudos são necessários para
confirmar ou negar esses riscos.
Outra
tecnologia de emissão negativa de carbono que possui limitações de uso são os
produtos químicos para absorver gás carbônico do ar. “Existe a tecnologia, mas
gasta-se muita energia para fazer isso, e se a fonte de energia for petróleo ou
carvão, por exemplo, o processo é inútil, pois se tira gás carbônico e lança
mais na atmosfera”, conta o professor.
“Nossa
recomendação é de que continuem os esforços de mitigação, ou seja, de procurar
gastar menos energia que não sejam sujas, do tipo eólica, solar e biomassa
(como a cana-de açúcar) as quais agregam pouco gás carbônico na atmosfera,
comparado com os combustíveis fósseis, porque não é confiável acreditar, nesse
momento, que a ciência pode usar essas emissões negativas em grande escala no
futuro”, complementa Moreira.
Efeito
estufa
O
efeito estufa é um fenômeno natural de aquecimento térmico da Terra, ele é
ocasionado pela ação de gases que compõem a atmosfera (gás carbônico, metano,
óxido nitroso, entre outros). Eles impedem que parte da energia do sol
absorvida pela Terra durante o dia seja emitida de volta para o espaço e,
assim, contribuem para a manutenção da temperatura média terrestre.
Entretanto
a concentração natural desses gases está aumentando por causa da ação humana,
como a queima de combustíveis fósseis — petróleo e carvão, por exemplo
— e o desmatamento, que resultam no lançamento de mais gases na atmosfera,
como o gás carbônico. O excesso desses gases na atmosfera faz com que parte dos
raios solares não consigam voltar para o espaço, provocando uma elevação na
temperatura de todo o planeta, o aquecimento global.
Uso eólico priorizado e menos energia suja são as melhores alternativas ao aquecimento
Uso eólico priorizado e menos energia suja são as melhores alternativas ao aquecimento
O
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês)
da ONU, que conta com a participação de cientistas e técnicos para avaliar e
relatar as variações climáticas e impactos ambientais, desenhou diferentes
cenários para o aquecimento da Terra. Se nada for feito e o mundo continuar no
caminho atual, poderá haver um aumento médio global da temperatura de 4ºC até
ao final deste século.
Devido
às emissões de carbono feitas até o momento, a temperatura média global subiu
0,85ºC. De acordo com o IPCC, esse pequeno aumento causou grandes impactos:
quase metade das calotas polares do Ártico derreteram, milhões de hectares de
árvores no oeste americano morreram devido a pragas relacionadas com o calor e
os maiores glaciares no oeste da Antártida — com dezenas de milhões de
metros cúbicos de gelo — começaram a se desintegrar. (ecodebate)
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