sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Aquecimento pode matar baleias

Baleias já começam sentir efeitos do aquecimento global.
Animais estão magros e com parasitas, cansados por êxodos mais longos para se reproduzir e com ciclos migratórios alterados.
Ação do homem é a principal causa.
Aquecimento global: um flagelo para as baleias.
Magras e com parasitas, cansadas por êxodos mais longos para se reproduzir e com ciclos migratórios alterados pelo aumento da temperatura das águas: as baleias, animal fundamental para o ecossistema marinho, também sofrem o impacto do aquecimento global.
"Dá para ver os ossos, doentes, com parasitas, e isso é uma coisa que a gente não via antes", disse à AFP a bióloga equatoriana Cristina Castro, enquanto observa o éden desses mamíferos, os maiores do mundo, em frente a Puerto López, 295 km ao sudoeste de Quito.
Neste ponto do trópico, as baleias chegam da Antártida para ter suas crias.
Os rituais de acasalamento são repetidos em outras áreas costeiras da América Latina, como em Cabo Blanco, no Peru, ou em Bahia Málaga, na Colômbia, e também em Puerto Pirâmides, no Atlântico argentino. Em todos esses lugares, é possível sentir o impacto da mudança do clima.
Com águas mais quentes, diminuem as fontes de alimentação, o que as torna menos propensas a se reproduzir. A maior temperatura do oceano também as confunde, modificando a duração e o alcance de suas migrações.
"Quando a alimentação das baleias na zona antártica é afetada, mudam seus ciclos de migração. Antes, elas chegavam aqui em julho e, agora, chegam em maio", aponta Castro, que há 18 anos estuda as baleias jubarte (Megaptera novaeangliae).
Além disso, já não chegam somente até a linha equatorial como antes, mas avançam inclusive até a Costa Rica, explica a especialista, que estima entre 8.000 e 10.000 a população de jubartes nas áreas de reprodução do Pacífico.
Diretora de pesquisa da ONG norte-americana Pacific Whale Foundation (PWF) no Equador, Cristina Castro também menciona mudanças no Atlântico.
"Detectamos migrações de mais de 10.000 km ao passar da península Antártica até áreas de alimentação do Brasil e possivelmente da África", relata.
Menos krill, menos baleias
A acidificação dos oceanos pelo aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera também afeta as baleias, porque reduz o plâncton com o qual se alimentam.
"As fêmeas dão à luz apenas quando as condições para alimentar suas crias são favoráveis", aponta o cientista norte-americano Roger Payne, que dedicou 45 anos à observação desses animais na Patagônia argentina.
"Nada é tão importante quanto a ameaça que esse efeito traz", alerta em conversa com a AFP este zoólogo, famoso por descobrir o canto das baleias jubarte.
Da Península de Valdés, onde trabalha com Payne, o argentino Mariano Sironi afirma que "tudo está ligado": quando falta o krill, crustáceo fundamental na dieta das baleias, a procriação diminui nos santuários de cetáceos a milhares de quilômetros de distância.
"Quando há menos krill, registramos um número menor de crias, ou, às vezes, também é possível que afete o nível de sobrevivência das crias que nascem", explica este especialista na espécie franca-austral (Eubalaena australis).
As baleias devem ingerir várias toneladas de krill por dia para ganhar peso e, então, conseguir encarar suas travessias e ter reservas de energia suficientes para a gestação.
"Uma mãe mal alimentada gera um leite de pior qualidade, e isso também se traduz em novas baleias pior alimentadas", anota Florencia Vilches, coordenadora do Programa de Adoção da Baleia Franca-Austral em Península Valdés.
El Niño, ameaça crescente
As baleias e suas crias saltitam em Puerto López, em um assombroso espetáculo convertido em atração turística sobre o qual os riscos do El Niño, um fenômeno meteorológico agravado pelo aquecimento global, parecem distantes.
Segundo os especialistas, é muito provável que tais efeitos "devastadores" do El Niño sejam sentidos pelas espécies marinhas das Ilhas Galápagos, localizadas a 1.000 km da costa do Equador.
O El Niño, resultante da interação entre o oceano e a atmosfera nas zonas oriental e central do Pacífico equatorial, já provocou o desaparecimento de 90% das iguanas marinhas, de 50% dos lobos marinhos, de 75% dos pinguins e de quase todas as crias menores de três anos das focas de Galápagos.
"Infelizmente, espera-se que os efeitos globais do aquecimento global se reflitam em grande medida nos causados pelo El Niño" com seus eventos de 1982-83 e 1997-98, dois dos três mais fortes desde 1950, alertou em relatório recente o Parque Nacional Galápagos.
Este parque protegido conta com uma reserva marinha de 138.000 km2, onde podem ser vistas baleias jubarte, orcas (Orcinus orca), baleias-piloto (Globicephala), de Bryde (Balaenoptera brydei) e azuis (Balaenoptera musculus).
A população destas últimas gera, sem dúvida, muita preocupação.
"Não há sinais de aumento", diz à AFP a presidente do Centro de Conservação Cetácea do Chile, Bárbara Galletti, após 15 anos de monitoramento desse mamífero.
Salvar as fezes
O aquecimento global atinge em particular as baleias, que paradoxalmente parecem ter a chave para contê-lo, já que suas fezes colaboram para o crescimento da maioria das plantas que absorvem CO2.
A grande quantidade de ferro no excremento das baleias, que ajuda no crescimento de algas microscópicas, é fundamental para o equilíbrio do ecossistema marinho.
"Esse aspecto mantém o resto do oceano vivo", destaca Payne, explicando como as baleias buscam o alimento nas profundezas do mar, mas comem e defecam na superfície, permitindo a circulação de nutrientes. (yahoo)

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