Aquecimento pode gerar mais
tornados, chuvas e neve, diz especialista.
Estado foi o único a já
registrar um furacão no país, o Catarina em 2004.
SC e seus extremos
Tornados,
enchentes, calor excessivo, temperaturas negativas, neve. Santa Catarina é um
estado de extremos, com uma grande variedade de eventos climáticos que, em muitos
casos, resultam em desastres naturais. O G1 foi em busca de respostas sobre a
recorrência desses fenômenos e o que se pode esperar do futuro. Segundo
especialistas, a tendência é que nos próximos anos os fenômenos surjam com mais
frequência e intensidade.
De
acordo com o meteorologista Mário Quadro, doutor pela Universidade de São Paulo
(USP) e professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), com a elevação
da temperatura na Terra, os modelos meteorológicos apontam que deve haver mais
fenômenos extremos no estado.
Casas alagaram em Rio do Sul
neste ano.
Conforme Quadro, nos últimos
anos já foi possível sentir alguns desses fenômenos. Em 2009, 147 municípios
tiveram estiagem e 140 sofreram com enchentes e alagamentos. Ou seja, 94% do
estado foi impactado pelo clima. Em 2013, depois de mais de 50 anos, nevou na Grande Florianópolis, região litorânea. Em 2014, houve uma onda de calor forte que durou 18 dias consecutivos,
com temperaturas acima de 30ºC e sensação térmica de até 45ºC. Em Xanxerê, no
Oeste a passagem de um tornado em
abril deste ano provocou quatro mortes.
"Tanto
o fator natural das mudanças climáticas, quanto a contribuição humana no
aumento da emissão de CO2 [dióxido de carbono] devem fazer com que a
temperatura do planeta se eleve e isso provoca uma reação no ambiente. Esses
fenômenos sempre existiram e vão continuar, com aumento dessa frequência",
diz Quadro.
Para
o meteorologista, no entanto, não é possível afirmar quais fenômenos têm maior
probabilidade de acontecer em Santa Catarina. "Não quer dizer que vai ter
mais tornados, especificamente. Entretanto, eventos que são registrados
praticamente anualmente, como enchentes, podem vir com mais força",
explica o meteorologista.
Tornado causou destruição e
deixou mortos em Xanxerê.
Localização geográfica
A localização geográfica é um
dos fatores que favorecem a variedade de eventos climáticos. Santa Catarina é o
ponto onde se chocam as massas de ar quente, que vem da região tropical, e o ar
frio, que vem da região polar. "É o início para vários eventos extremos. A
proximidade com o mar, por exemplo, faz com que a umidade que vem do oceano
provoque excesso de chuvas", complementa Quadro.
"No
Vale temos os rios, quando tem chuva as cabeceiras se elevam, com enchentes. Na
Serra temos eventos de frio e neve. No Oeste temos opostos: estiagens extremas
e chuvas e tornados, que acabam ocasionando desastres", disse o professor.
Localização geográfica de SC
propicia fenômenos climáticos
Conforme
o meteorologista Leandro Puchalski, da Central RBS de Meteorologia, o
aquecimento global evidencia os fenômenos, mas é preciso ter cautela ao definir
se caracteriza uma mudança climática e ou se o fenômeno faz parte de um
ciclo do clima. "Para entender o comportamento do clima é preciso analisar
um período mais amplo, de cerca de 50 anos. Tem fenômenos que voltam a ocorrer
depois de muito tempo, que não configuram uma mudança", explica.
De
acordo com Puchalski, outros fenômenos, como o El Niño e La Niña, também
interferem no curto prazo na climatologia da região. Eles, entretanto, são
sazonais, e podem ficar até três anos sem acontecer. “Com isso, não dá pra
prever como estará uma região em longo prazo, como 10 anos. Não dá pra dizer
que uma área vai ficar alagada ou completamente seca. Isso seria subestimar a
capacidade do homem a se adaptar nessas situações”, reforça Puchalski.
Furacão Catarina veio do mar
em direção a Santa Catarina.
Furacão
Catarina foi fruto de mudança climática.
Os
meteorologistas concordam que o Catarina, que afetou o Sul de Santa Catarina em
2004, é efeito claro de uma mudança climática. De magnitude F1, primeiro nível
da escala internacional de furacões, ele foi o primeiro furacão registrado no
Atlântico Sul.
Na
época, ocorreu uma tempestade que veio do mar, fazendo o caminho oposto das
tempestades, que saem da terra em direção ao oceano. A massa era giratória, com
um 'olho' no meio.
Casa ficou virada com o teto
para baixo depois do Furacão Catarina
"O
Catarina foi um evento excepcional principalmente porque nunca tinha ocorrido,
nem era previsto", explica o meteorologista Michel Nobre Imuza,
coordenador no Brasil de um projeto internacional sobre mudanças climáticas
chamado Vacea (Vulnerabilidade e Adaptação a Mudaças Climáticas Extremas nas
Américas). Até 2016, os pesquisadores levantarão dados para sugerir ações
governamentais, ambientais e sociais para que populações convivam com as
mudanças climáticas.
Fenômenos
climáticos marcantes de SC
Das
tragédias relacionadas a fenômenos climáticos, as enchentes são as que mais
matam no estado. Em Tubarão, em 1974, 119 morreram. O Vale do Itajaí é
frequentemente castigado pelas chuvas. Em 1983, 1984 e 2008, mais de 1,5 milhão
de pessoas foram impactadas, 175 morreram e 70 cidades decretaram emergência.
O
único furacão registrado no país, o Catarina, atingiu o Sul catarinense.
Tornados já castigaram cidades como Forquilhinha, em 1999, Criciúma, em 2005,
Guaraciaba, em 2009, e Xanxerê, em 2015.
“Tem
desastres em todos os meses do ano e com as mais diversas características. É
difícil a gente apontar qual é o desastre que caracteriza Santa Catarina”,
afirma o diretor de Prevenção da Defesa Civil, Fabiano de Souza.
O
meteorologista Leandro Puchalski listou cinco episódios climáticos marcantes da
história de Santa Catarina.
1974 - Enchente
em Tubarão
O Rio Tubarão
transbordou e cerca de 90% da cidade ficou embaixo da água. Dos 70 mil
habitantes, quase 60 mil perderam os bens. A correnteza levou animais, imóveis
e pessoas.
A
estrada de ferro Dona Tereza Cristina invadida pelos destroços.
Ocorrida em 23 e 24 de março de 1974 esta enchente
foi devastadora, varrendo praticamente as margens do Rio Tubarão, da nascente
até sua foz, bem como todos os seus afluentes.
1983 - Enchente
em Blumenau
O Rio Itajaí-Açu transbordou e por de 32 dias a
cidade ficou alagada, entre julho e agosto. Casas foram arrastadas, a água
chegava à altura dos semáforos. Foram 40 mil pessoas desabrigadas e 406 ruas
alagadas. Outros 168 municípios foram afetados.
Prefeitura Municipal de Blumenau.
Vista Blumenau Centro Rua 15 de Novembro - Torre e
escadaria da Igreja Matriz.
1984 e 2013 - Neve no Morro da Cambirela, Palhoça
O pico da montanha ficou coberto com cerca de 40
cm de neve. Outros municípios do Litoral também registraram o fenômeno, incomum
na região.
Paisagem inusitada surpreendeu moradores da Grande
Florianópolis.
Morro do Cambirela, em Santa Catarina, ficou
coberto de neve e pode ser visto na capital Florianópolis.
2004 - Furacão Catarina em Araranguá
Os ventos chegam a 160km/h e 27 mil ficaram
desalojados e 36 mil casas ficaram danificados. Ao todo, 11 morreram e 518
ficaram. 14 municípios decretaram calamidade pública e 7 situação de
emergência.
Furacão
Catarina devastou parte do Sul de SC. Na foto, casas atingidas no Balneário
Gaivota.
Imagem
do furacão vista pelo satélite.
2009 - Tornado
em Guaraciaba
Os ventos chegaram a quase 200 km/h e 80 famílias
tiveram residências e plantações destruídas. O prejuízo estimado foi de R$ 160
milhões ao município.
Tornado incrível em Guaraciaba filmado por
cinegrafista amador no final da tarde, durante a temporada de tornados no
Brasil.
Registro de tornado que devastou Guaraciaba
completa cinco anos. Mais de 80 famílias tiveram residências e plantações destruídas. Fenômeno
foi registrado em 07/09/2009. (g1)
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