A
agroecologia é um sistema de produção agrícola alternativa que busca a
sustentabilidade da agricultura familiar resgatando práticas que permitam ao
agricultor pobre produzir sem depender de insumos industriais como agrotóxicos,
por exemplo. – Charge por Latuff, no Humor Político.
GOUZY
(2015) é uma das autoras, de uma série de 13 artigos de diferentes indivíduos
envolvidos em análises teóricas e experiências práticas de comunidades rurais e
dos seus sistemas produtivos, localizados em sete países, a saber, Chile,
Estados Unidos, Cuba, Colômbia, México, Espanha e Nicarágua. Onde são
realizados arranjos que gerem princípios e estratégias socioecológicas que
explicam como comunidades e sistemas produtivos conseguem se recuperar de
eventos climáticos extremos.
O
enfoque é a busca da fundamentação da resiliência socioecológica através da
agroecologia e dos seus princípios. Estes princípios e conceitos apresentados
nos trabalhos coletados são de especial interesse para a sociedade atual, que
já enfrenta problemas na agricultura, devido às mudanças nos regimes de
temperatura e chuvas, comprometendo assim a segurança alimentar de inúmeras
comunidades, conforme afirma GOUZY (2015).
Se
procura entender as estratégias e a dinâmica da resiliência socioecológica que
estas comunidades constroem. Estes sistemas tradicionais são chamados de
“patrimônio cultural mundial”, graças ao valor da sua diversidade e às suas
adaptações ambientais. São sintetizadas as relações identificadas entre
conceitos como resiliência socioecológica e agroecologia e seu papel no desafio
da adaptação à realidade de mudança climática global.
A
ameaça da mudança climática global preocupa, já que a produção agrícola de todo
o mundo poderia ser seriamente afetada com mudanças radicais nos regimes de
temperaturas e chuvas, comprometendo a segurança alimentar tanto a nível local
como mundial.
Muitos
efeitos adversos na agricultura são silenciosos e lentos, mas nem por isso são
menos importantes. Por exemplo, a erosão de solos é ligada profundamente tanto
às condições locais do clima como às atuações culturais dos grupos humanos que
dependem desse solo.
Outro
exemplo é a incidência de pragas, já que os efeitos do aquecimento global
repercutem também no comportamento das populações de organismos nocivos que
coabitam nos sistemas agrícolas. Estes problemas não são isolados e também são
consequências dos modelos agrícolas prevalecentes, que ajudam a deteriorar a
base dos recursos naturais, reduzir o carbono nos solos e romper equilíbrios
ecossistêmicos.
Assim,
enquanto o clima está se tornando cada vez mais extremo, os sistemas agrícolas
convencionais intensivos se tornam cada vez menos resistentes e mais
vulneráveis. Infelizmente, o setor agrícola mais afetado, segundo as previsões,
serão os agricultores mais pobres nos países em desenvolvimento, conforme enfatiza
GOUZY (2015).
Contudo,
existem diversos exemplos de agricultura que alcançam condições que conseguem
manter a resiliência dos seus agroecossistemas. É o que ocorre com muitas
populações indígenas e camponesas que estão expostas a estas mudanças. Se é
verdade que são elas mais vulneráveis por estarem intimamente dependentes dos
recursos naturais em ecossistemas marginais, muitas delas estão respondendo
positivamente às mudanças, demostrando inovação das comunidades e resiliência
dos seus agroecossistemas.
Um
exemplo é Cuba, onde os efeitos mais notáveis da mudança climática são ciclones
tropicais cada vez mais frequentes, com longos períodos de seca, chuvas
torrenciais em períodos curtos, aumento da temperatura média anual e aumento do
nível do mar, entre outras. Mas, neste país têm sido desenvolvidas políticas
efetivas de adaptação, redução de riscos e resposta a desastres junto aos
camponeses, que podem servir de exemplo a outros países assinala GOUZY (2015).
Particularmente,
a agroecologia se interessa por entender a resiliência socioecológica dos
agroecossistemas. Ganha destaque a definição que GOUZY (2015) propõem para
agroecossistemas: “são sistemas socioecológicos constituídos por sistemas
agrícolas e suas interações com os sistemas sociais e ecológicos com os quais
se relacionam”.
Por
sua vez, o conceito de resiliência socioecológica é abordado. Os componentes e
características deste conceito são as estratégias de organização social como
redes de solidariedade, intercâmbio de alimentos e outras, utilizadas pelos
agricultores para enfrentar circunstâncias difíceis impostas por eventos
extremos.
A
adaptação sociocultural também é relevante, indicando processos mediante os
quais os indivíduos e grupos humanos modificam os seus padrões de comportamento
para se ajustar a novas pautas ou normas que imperam no seu meio social. Esta
adaptação desenvolve-se em base às habilidades sociais presentes no grupo.
Pesquisas antropológicas e agroecológicas têm demonstrado que os conhecimentos
locais adquiridos e transmitidos de geração em geração permitem às populações
locais lidar com fenômenos e mudanças climáticos e atmosféricos.
GOUZY
(2015) argumenta que existem várias razoes de se encontrar maior resiliência
nos sistemas agroecológicos camponeses devido à diversificação do sistema, à
compensação biológica ou o efeito das medidas preventivas de saneamento e
podas, à recuperação biológica por causa da maior diversidade de estratos
vegetais, e a recuperação ou resiliência humana fundamentada na família.
Essas
interações costumam gerar resiliência mais forte, já que estão diretamente
relacionadas com a riqueza de espécies e a possibilidade de transferência de
funções ecológicas entre elas. Estes elementos, sucintamente examinados aqui,
são parte da análise que a agroecologia faz nos agroecossistemas que estuda.
É
defendida a proposta da agroecologia como estrutura para estudar a resiliência
socioecológica, já que a mesma se fundamenta na complexidade própria dos
problemas da realidade, e torna relevante a importância do papel dos atores
envolvidos, que permitem integrar as diferentes formas de conhecimento
necessárias para entender a complexidade dos sistemas.
O
enfoque agroecológico é mais sensível às complexidades das agriculturas locais,
ao ampliar os objetivos e critérios agrícolas para incluir as propriedades de
sustentabilidade, segurança alimentar, estabilidade biológica, conservação dos
recursos naturais e equidade, junto com a produtividade. A agroecologia pode
ser definida como uma transdisciplina, já que o seu objeto de indagação, a
resiliência socioecológica dos agroecossistemas, não é abrangido por outras
ciências.
É
por tais razoes que a agroecologia é a mais apropriada e abrangente
transdisciplina para realizar estes estudos, citada por GOUZY (2015). Não só no
nível acadêmico e teórico, mas também no nível prático, a agroecologia oferece
respostas antes perdidas no universo estreito da especialização do conhecimento
e das práticas da agricultura convencional.
Existem
problemas ambientais relacionados à agricultura convencional que ainda não
foram resolvidos, como a erosão, o desmatamento, a queda dos rendimentos, a
dependência de insumos químicos e a perda de diversidade. Por sua vez, a
agroecologia pode guiar um desenvolvimento agrícola sustentável, buscando
conservar os recursos naturais, manter níveis contínuos de produção, minimizar
os impactos no meio ambiente, satisfazer as necessidades de renda e responder
às necessidades sociais das famílias e comunidades rurais.
A
agroecologia e as suas práticas podem conseguir isso por meio do entendimento e
da prática dos princípios agroecológicos. A identificação destes princípios nos
diferentes estudos citados é uma contribuição para o entendimento a fundo dos
mecanismos de resiliência socioambiental que estuda a agroecologia. Este
exercício de transversalização da teoria em diferentes casos convida a
cientistas e agricultores à análise lúcida e pertinente da complexidade dos
diversos agroecossistemas ameaçados pelas mudanças climáticas.
Que
sejam bem-vindos os sistemas agroecossistêmicos que ampliam resiliências em
todas as dimensões e são integradores. Que favorecem a permanente busca de
equilíbrio ecossistêmico e homeostase planetária. Que se consideram os vetores
indutores de melhorias da qualidade ambiental e melhoria de qualidade de vida
de todas as populações. (ecodebate)
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