‘2015 foi um ano muito ruim’, dizem ambientalistas do
Amazonas.
Queimadas
e redução de órgãos públicos preocupam especialistas. Desmatamento e
agronegócio devem ter atenção em 2016, segundo eles.
Especialistas
ligados à área de meio ambiente e desenvolvimento sustentável avaliam que o
2015 pode ser considerado “um ano muito ruim”. Eles ressaltam que pontos como o
desmatamento, aumento de invasões em áreas urbanas e avanço do agronegócio na
Amazônia devem ter atenção em 2016.
Segundo
ambientalistas, o alto índice de queimadas em áreas de floresta, o impacto da
crise econômica no desenvolvimento de pesquisas, a redução no número de
instituições públicas e a participação do Amazonas na Conferência da ONU sobre
Mudanças Climáticas – COP 21 são alguns dos fatos que marcaram o ano de 2015.
Para
o médico veterinário, especialista em conservação e analista ambiental do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Diogo
Lagroteria, muitos aspectos negativos podem ser destacados por profissionais do
setor de meio ambiente em 2015.
“Foi
um ano de retrocessos, tanto na parte de legislação ambiental, como na parte de
ações voltadas para o meio ambiente. O que a gente teve foi um grande avanço de
pautas relacionadas ao desenvolvimento a qualquer custo, que é um
desenvolvimento muito voltado para questão econômica mesmo. Isso acabou
atropelando uma série de questões ambientais. No meu ponto de vista, 2015 na
parte ambiental foi um desastre”, avalia Lagroteria.
Desmatamento
Desmatamento
O
especialista destaca que foi registrada alta no índice de desmatamento no
Amazonas durante o ano de 2015. “Aquele antigo discurso de que o Amazonas é o
estado que mais preserva a floresta, que aqui é o estado que menos se desmata
isso já não é mais verdade. O Amazonas foi o estado que mais desmatou
proporcionalmente esse ano comparado com o ano passado. É só ver como foram os
meses de setembro, outubro e novembro aqui em Manaus. A gente acordava todo dia
com aquela poluição, aquela fumaça horrível, um monte de problema, era difícil
até para respirar”, disse.
Lagroteria
acredita que outro problema pode ser intensificado em 2016: o desmatamento em
áreas urbanas na capital, que causa morte de espécies como o sauim-de-coleira.
“Ano de eleição é um ano que a gente costuma ter um incremento nas invasões
aqui no entorno de Manaus por questões políticas. A gente sabe que quase sempre
tem um aumento nas invasões em ano de eleições municipais”, alerta.
Política
e economia
Segundo
o mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia e
superintendente técnico-científico da Fundação Amazonas Sustentável (FAS),
Eduardo Taveira, questões políticas e econômicas impactaram diretamente
atividades na área do meio ambiente.
“Primeiro
foi a reestruturação do sistema estadual de meio ambiente e desenvolvimento
sustentável. Houve um corte muito grande na estrutura que faz o suporte às
ações e implementação das políticas públicas desse setor do estado. Foi um
início do ano que começou com bastante incerteza de como seriam encaminhadas
essas questões. Na minha opinião, no início até o momento da reestruturação
houve uma perda. Esse é um ponto negativo. Do início do segundo semestre pra cá
houve uma tentativa da secretaria de meio ambiente de se reestruturar a partir
dessa nova realidade. O ponto positivo foi que a secretaria criou um canal de
diálogo melhor, inclusive com as instituições de terceiro setor. Os desafios
para implementação da política de meio ambiente e desenvolvimento sustentável
para um estado como o nosso são enormes”, afirma.
Taveira
diz que 2015 também foi marcado por mudanças na legislação. “De ponto positivo
tivemos a aprovação da lei de serviços ambientais do estado do Amazonas. Abre
uma nova frente na captação de recursos para minimizar o enfraquecimento da
estrutura de meio ambiente do estado. O desafio é fazer com que a lei que está
no papel sai de fato e consiga principalmente em relação as questões ligadas a
crédito de carbono consiga dar um passo importante na direção de fazer com que
a floresta em pé tenha resultados econômicos, ambientais e sociais adequados
para o que a gente espera para o desenvolvimento sustentável da região”, disse
o superintendente ao G1.
BR-319
Para
Taveira, é preciso acompanhar os trabalhos desenvolvidos na BR-319. “A abertura
de estradas é um ponto que você tem de pressão sobre a floresta. Na liberação
para concluir as obras da 319 deve vir reforçado uma ação de conservação do seu
entorno para que não haja a longo prazo a fragilidade dos índices que a gente
tem conseguido manter de conservação da floresta”, valia.
O
superintendente técnico-científico da FAS acredita em um cenário mais positivo
para 2016. “Procuro ter uma visão mais otimista. A COP 21 demonstrou a
importância que áreas de floresta e principalmente o Amazonas vão ter para que
as metas estabelecidas tenham a sua relevância, sejam atingidos. A gente passa
a ter um papel de destaque em relação a isso. Acho que cada vez mais temos que
ter um alinhamento da política de desenvolvimento do estado com a sustentabilidade
efetiva da floresta”.
Clima
De
acordo com o geógrafo e ecólogo Carlos Durigan é preciso ficar atento ao
impacto das ações humanas no clima. Ele destaca pontos como o agronegócio e as
queimadas.
“Realmente
foi um ano muito complicado por conta de vários motivos. Vimos essa correlação
entre um ano seco e o processo de expansão das fronteiras do agronegócio na
Amazônia. Isso acabou gerando esse cenário onde nós tivemos alto índice de
queimadas e incêndios que caracterizam a abertura de áreas principalmente para
pecuária. Esse foi um ponto bem negativo”, pondera.
Para
Durigan, decisões de hoje podem acarretar impactos negativos ao meio ambiente,
que só devem ser sentidos nos próximos anos. Ele acredita que desastres como o
deslizamento de barragens em Mariana, Minas Gerais, devem servir como exemplos
para que se repense a forma como se exploram os recursos naturais.
“Não
é buscar flexibilizar ou transformar nossos grandes e ricos biomas em canteiros
de obras. Isso vai ter consequências como tivemos esse ano. Tivemos dois
grandes exemplos que temos que dar um passo atrás e começar as coisas de uma
forma mais harmônica. Um deles foi a questão das queimadas que afetaram demais
a Amazônia e outro foi a tragédia em Minas Gerais”, disse Durigan. (amazonia)
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