segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

2015 foi um ano ruim pro Amazonas

‘2015 foi um ano muito ruim’, dizem ambientalistas do Amazonas.
Queimadas e redução de órgãos públicos preocupam especialistas. Desmatamento e agronegócio devem ter atenção em 2016, segundo eles.
Especialistas ligados à área de meio ambiente e desenvolvimento sustentável avaliam que o 2015 pode ser considerado “um ano muito ruim”. Eles ressaltam que pontos como o desmatamento, aumento de invasões em áreas urbanas e avanço do agronegócio na Amazônia devem ter atenção em 2016.
Segundo ambientalistas, o alto índice de queimadas em áreas de floresta, o impacto da crise econômica no desenvolvimento de pesquisas, a redução no número de instituições públicas e a participação do Amazonas na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas – COP 21 são alguns dos fatos que marcaram o ano de 2015.
Para o médico veterinário, especialista em conservação e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Diogo Lagroteria, muitos aspectos negativos podem ser destacados por profissionais do setor de meio ambiente em 2015.
“Foi um ano de retrocessos, tanto na parte de legislação ambiental, como na parte de ações voltadas para o meio ambiente. O que a gente teve foi um grande avanço de pautas relacionadas ao desenvolvimento a qualquer custo, que é um desenvolvimento muito voltado para questão econômica mesmo. Isso acabou atropelando uma série de questões ambientais. No meu ponto de vista, 2015 na parte ambiental foi um desastre”, avalia Lagroteria.
Desmatamento
O especialista destaca que foi registrada alta no índice de desmatamento no Amazonas durante o ano de 2015. “Aquele antigo discurso de que o Amazonas é o estado que mais preserva a floresta, que aqui é o estado que menos se desmata isso já não é mais verdade. O Amazonas foi o estado que mais desmatou proporcionalmente esse ano comparado com o ano passado. É só ver como foram os meses de setembro, outubro e novembro aqui em Manaus. A gente acordava todo dia com aquela poluição, aquela fumaça horrível, um monte de problema, era difícil até para respirar”, disse.
Lagroteria acredita que outro problema pode ser intensificado em 2016: o desmatamento em áreas urbanas na capital, que causa morte de espécies como o sauim-de-coleira. “Ano de eleição é um ano que a gente costuma ter um incremento nas invasões aqui no entorno de Manaus por questões políticas. A gente sabe que quase sempre tem um aumento nas invasões em ano de eleições municipais”, alerta.
Política e economia
Segundo o mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia e superintendente técnico-científico da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Eduardo Taveira, questões políticas e econômicas impactaram diretamente atividades na área do meio ambiente.
“Primeiro foi a reestruturação do sistema estadual de meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Houve um corte muito grande na estrutura que faz o suporte às ações e implementação das políticas públicas desse setor do estado. Foi um início do ano que começou com bastante incerteza de como seriam encaminhadas essas questões. Na minha opinião, no início até o momento da reestruturação houve uma perda. Esse é um ponto negativo. Do início do segundo semestre pra cá houve uma tentativa da secretaria de meio ambiente de se reestruturar a partir dessa nova realidade. O ponto positivo foi que a secretaria criou um canal de diálogo melhor, inclusive com as instituições de terceiro setor. Os desafios para implementação da política de meio ambiente e desenvolvimento sustentável para um estado como o nosso são enormes”, afirma.
Taveira diz que 2015 também foi marcado por mudanças na legislação. “De ponto positivo tivemos a aprovação da lei de serviços ambientais do estado do Amazonas. Abre uma nova frente na captação de recursos para minimizar o enfraquecimento da estrutura de meio ambiente do estado. O desafio é fazer com que a lei que está no papel sai de fato e consiga principalmente em relação as questões ligadas a crédito de carbono consiga dar um passo importante na direção de fazer com que a floresta em pé tenha resultados econômicos, ambientais e sociais adequados para o que a gente espera para o desenvolvimento sustentável da região”, disse o superintendente ao G1.
BR-319                    
Para Taveira, é preciso acompanhar os trabalhos desenvolvidos na BR-319. “A abertura de estradas é um ponto que você tem de pressão sobre a floresta. Na liberação para concluir as obras da 319 deve vir reforçado uma ação de conservação do seu entorno para que não haja a longo prazo a fragilidade dos índices que a gente tem conseguido manter de conservação da floresta”, valia.
O superintendente técnico-científico da FAS acredita em um cenário mais positivo para 2016. “Procuro ter uma visão mais otimista. A COP 21 demonstrou a importância que áreas de floresta e principalmente o Amazonas vão ter para que as metas estabelecidas tenham a sua relevância, sejam atingidos. A gente passa a ter um papel de destaque em relação a isso. Acho que cada vez mais temos que ter um alinhamento da política de desenvolvimento do estado com a sustentabilidade efetiva da floresta”.
Clima
De acordo com o geógrafo e ecólogo Carlos Durigan é preciso ficar atento ao impacto das ações humanas no clima. Ele destaca pontos como o agronegócio e as queimadas.
“Realmente foi um ano muito complicado por conta de vários motivos. Vimos essa correlação entre um ano seco e o processo de expansão das fronteiras do agronegócio na Amazônia. Isso acabou gerando esse cenário onde nós tivemos alto índice de queimadas e incêndios que caracterizam a abertura de áreas principalmente para pecuária. Esse foi um ponto bem negativo”, pondera.
Para Durigan, decisões de hoje podem acarretar impactos negativos ao meio ambiente, que só devem ser sentidos nos próximos anos. Ele acredita que desastres como o deslizamento de barragens em Mariana, Minas Gerais, devem servir como exemplos para que se repense a forma como se exploram os recursos naturais.
“Não é buscar flexibilizar ou transformar nossos grandes e ricos biomas em canteiros de obras. Isso vai ter consequências como tivemos esse ano. Tivemos dois grandes exemplos que temos que dar um passo atrás e começar as coisas de uma forma mais harmônica. Um deles foi a questão das queimadas que afetaram demais a Amazônia e outro foi a tragédia em Minas Gerais”, disse Durigan. (amazonia)

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