domingo, 17 de julho de 2016

Os sete anos mais quentes do Antropoceno

“A natureza não depende dos seres humanos. Os seres humanos dependem da natureza”. Conservation International















O Holoceno foi um período de estabilidade climática. Holoceno é um termo geológico para definir o período que se estende desde 10 mil anos atrás – quando terminaram os efeitos da última glaciação – até a contemporalidade. A população humana no início desse período era de cerca de 5 milhões de habitantes (menor do que o número atual de moradores da cidade do Rio de Janeiro). Mas o Holoceno propiciou as condições climáticas para o desenvolvimento da humanidade, pois foi neste período que as populações começaram a expandir as atividades agrícolas, a domesticação dos animais e a construção de cidades. Foi também o período em que as migrações se ampliaram por todos os cantos do Planeta, em várias ondas sucessivas de globalização.
Depois da Revolução Industrial e Energética iniciada na segunda metade do século XVIII, o volume da presença humana no Planeta aumentou de forma exponencial. Nos 240 anos entre 1776 a 2016, a população mundial cresceu 9,5 vezes e a economia global multiplicou por cerca de 125 vezes. A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera passou de 280 partes por milhão (ppm) para mais de 400 ppm em 2015. Isto deslanchou um processo de aquecimento global que está mudando toda a composição química do Planeta, afetando o clima, acidificando os oceanos e afetando os ecossistemas.
As atividades humanas se tornaram tão volumosas que equivalem a uma força geológica. Por conta disso, o químico e prêmio Nobel, Paul Crutzen, passou a usar o termo Antropoceno, que é uma combinação dos termos gregos anthropo- (que significa humano) e -ceno que significa “novo”. Todas as épocas da Era Cenozoica terminam em -ceno. Crutzen diz que a intervenção humana no planeta avançou em tal ordem, que está se tornando um novo período geológico.
Nota-se na figura abaixo que o clima variou bastante nos últimos 3 milhões de anos, mas quase sempre abaixo da média da temperatura atual. O homo sapiens surgiu há 200 mil anos, época de alta variabilidade climática. Por volta de 30 mil e 12 mil anos houve um forte glaciação, o que levou ao desaparecimento do homem de Neardenthal. Porém, no Holoceno (de 10 mil anos atrás até meados do século XX), o clima ficou estável, com pequena variação de 0,5oC para cima ou para baixo, em relação à temperatura média dos 10 milênios.
O período mais frio do Holoceno ocorreu na chamada “pequena era do gelo medieval” que ocorreu entre os séculos XV e XVIII. Entre o século XIX e metade do século XX a temperatura subiu ligeiramente. Mas no Antropoceno a temperatura do Planeta disparou. O ano de 1908 teve uma temperatura 0,44°C abaixo da média do século XX. A temperatura de 1975 ficou exatamente na média do século. Mas a partir daí o aquecimento se acelerou. O ano de 1998 foi o mais quente do século XX, com temperatura 0,63°C acima da média secular. 
Todavia, o ritmo acelerado aumentou ainda mais no século XXI. O ano de 2015 foi o mais quente na série que começou em 1880, atingindo uma temperatura de 0,9°C acima da média do século passado. Esse aumento acendeu uma luz vermelha e assustou os cientistas. Mas o aquecimento aumentou de forma surpreendente em 2016. As anomalias foram de 1,04°C em janeiro, de 1,21°C em fevereiro, de 1,22°C em março, de 1,1°C em abril e 0,95º C, em maio de 2016. Na média dos 5 primeiros meses de 2016 a anomalia ficou em 1,1º C, bem acima de tudo que já foi registrado desde 1880.
Tudo indica que o ano de 2016 será o mais quente desde 1880. Será a primeira vez que as temperaturas sobem por três anos seguidos. O calor bateu todos os recordes em maio de 2016 na Groenlândia e, numa situação extrema, o derretimento de todo o gelo pode fazer o nível dos oceanos subir 6 metros.
Os níveis de dióxido de carbono sobre a Antártida cresceram 2,6% nos últimos seis anos e atingiram o patamar de 400 partes por milhão (ppm). Um recorde histórico. Numa situação extrema, o derretimento de todo o gelo da Antártida pode fazer o nível dos oceanos subir 70 metros, inundando imensas áreas agrícolas e a maioria das cidades costeiras.
Neste ritmo, o impacto na economia mundial será desastroso. Por exemplo, o aquecimento acelera o degelo do Ártico liberando o gás metano do permafrost (solo permanentemente congelado) da Sibéria e Alasca. O gás deve acelerar o aquecimento global e contribuirá para piorá-lo. Segundo os estudos econômicos, a emissão de 50 bilhões de toneladas de metano aprisionados na região causaria um aumento de 15% no impacto financeiro descrito no relatório Stern, que estimava em US$ 400 trilhões a perda econômica gerada pelo aquecimento até 2100.
Os cientistas estão alertando para o estado de emergência climática. Artigo de Damian Carrington (The Guardian, 17/06/2016) diz: “A série de recordes globais quebrados, particularmente o extraordinário calor ocorrido em fevereiro e março de 2016, provocou uma reação impressionante de cientistas do clima, que estão alertando que a mudança climática atingiu níveis sem precedentes e não é mais apenas uma ameaça para o futuro.
Juntamente com o aumento das temperaturas, outros recordes são quebrados em todo o mundo, como o degelo do Ártico, uma seca lancinante na Índia e o branqueamento da Grande Barreira de Corais. “O Reino Unido tem experimentado inundações recorde que devastaram comunidades em todo o país e os cientistas preveem que as inundações vistas na Europa vão aumentar no futuro”.
O ser humano não está preparado para grandes variabilidades climáticas. Assim, o aquecimento global acelerado pode levar a uma grande crise econômica, social e ambiental (além de uma grande extinção em massa de espécies). O aumento da temperatura já está agendado e, no ritmo atual, será difícil de ser evitado. O pior é que não há para onde fugir, pois só existe um Planeta com vida no sistema solar. Depois do Antropoceno, a Terra pode ficar parecida com Marte e não haverá marcianos para nos salvar. (ecodebate)

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