A mudança climática
pode nos deixar sem Jogos Olímpicos no futuro próximo
“Agora,
o futuro da maratona em particular, e dos Jogos Olímpicos em geral, podem estar
em perigo. Um relatório que acabar de ser publicado pela revista médica
britânica The Lancet dá a entender que até o ano 2085 quase todas as cidades
que poderiam sediar os Jogos Olímpicos seriam muito quentes para realizar
eventos ao ar livre”, escrevem Amy Goodman e Denis Moynihan, em artigo
publicado por Democracy Now, 19/08/2016.
Conta
a lenda que a primeira maratona aconteceu na Grécia Antiga, em 490 a.C. Os
atenienses tinham impedido a invasão dos persas e enviaram um mensageiro para
que levasse, correndo, a notícia da vitória do lugar da batalha, a cidade de
Maratona, até a capital, Atenas. Correu cerca de 40 quilômetros, entregou a
mensagem e, ato contínuo, caiu e morreu ali mesmo. Os historiadores questionam
a veracidade da lenda, mas segue sendo um mito fundacional do popular
acontecimento.
Agora,
o futuro da maratona em particular, e dos Jogos Olímpicos em geral, podem estar
em perigo. Um relatório que acabar de ser publicado pela revista médica
britânica The Lancet dá a entender que até o ano 2085 quase todas as cidades
que poderiam sediar os Jogos Olímpicos seriam muito quentes para realizar
eventos ao ar livre.
Kirk
Smith, catedrático de saúde ambiental da Universidade da Califórnia, Berkeley,
liderou a equipe que redigiu o artigo para o The Lancet. Smith escreveu: “A
maratona é a atividade que exige maior resistência e, por conseguinte, dá uma
boa ideia de se as condições serão seguras para outros esportes olímpicos”.
O
cientista observou que as temperaturas extremamente elevadas já provocaram o
cancelamento de maratonas, como aconteceu em Chicago, em 2007. Durante as
provas classificatórias para a escolha da equipe olímpica estadunidense que
disputaria os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro este ano, realizadas em Los
Angeles, 30% dos corredores abandonaram a corrida devido ao calor.
O
relatório assinala que “em 2085, somente 8 das 543 cidades fora da Europa
Ocidental com capacidade de receber os Jogos entrariam na categoria de baixo
risco. Ou seja, apenas 1,5%”.
Os
pesquisadores do The Lancet aproveitaram o fato de que os olhares de todo o
mundo estavam voltados para os Jogos Olímpicos para apresentar um fato mais
importante: “Depois de 2050, o mundo enfrentará graves dificuldades devido a
que o grau e a velocidade da mudança climática poderiam exceder a capacidade de
adaptação da sociedade”, escreveram os cientistas.
A
metade dos trabalhadores do mundo trabalha ao ar livre, e os espaços
exteriores, assim como os espaços interiores sem refrigeração adequada, são
cada vez menos seguros. Advertem que “os ataques de calor após realizar esforço
físico e suas consequências negativas, inclusive a morte, passarão a ser uma
parte fundamental do trabalho ao ar livre em todo o mundo”.
Se
tomarmos o exemplo de outro esporte, milhares de trabalhadores estão
trabalhando em condições de calor extremo no Catar, construindo estádios para a
Copa do Mundo de 2022, que acontecerá nesse país. A Confederação Sindical
Internacional estima que “mais de 7 mil trabalhadores morrerão antes que se
chute a primeira bola na Copa do Mundo de 2022”.
Estas
terríveis condições reforçam a necessidade urgente de abordar a ameaça do
problema climático. O Acordo de Paris alcançado em dezembro aspira a colocar um
limite máximo de 1,5 a 2°C no aumento médio da temperatura mundial. A ciência
sugere, cada vez com maior contundência, que o clima está mudando mais
rapidamente do que o previsto e que é necessário adotar medidas urgentes. Cada
dia que passa em que se debate este problema e se adota soluções pela metade, o
problema torna-se cada vez mais difícil, senão mesmo impossível, de solucionar.
Os
Estados Unidos foram o maior emissor de gases de efeito estufa na história da
humanidade. Eles queimaram combustíveis fósseis de forma desenfreada durante
séculos. Segundo a Administração de Informação Energética do país, “mais de 80%
do consumo total de energia nos Estados Unidos durante os últimos 100 anos é
proveniente exclusivamente de três fontes de combustíveis fósseis: petróleo,
gás natural e carvão”.
Embora
o uso de fontes renováveis, principalmente a energia solar e eólica, esteja
aumentando, elas representam uma pequena porção do que deveriam para cumprir as
promessas feitas durante a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança
Climática realizada em Paris.
O
presidente Barack Obama acaba de anunciar o que provavelmente será sua última
ordem sobre padrões de veículos eficientes. Seu legado climático é
consideravelmente limitado (considerando-se, evidentemente, que teve que
enfrentar nestas questões a firme oposição dos negadores da mudança climática
do Partido Republicano). Mas, o que dizer sobre os dois possíveis sucessores de
Obama?
Hillary
Clinton reconhece que a mudança climática é um problema urgente, mas deu um
sinal contrário ao anunciar, esta semana, que sua equipe de transição estaria
sendo chefiada pelo Ken Salazar, ex-secretário do Interior e ex-senador dos
Estados Unidos pelo Colorado. Salazar promoveu com entusiasmo a fraturação
hidráulica e apoia a construção do oleoduto Keystone XL e o Acordo
Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP).
Donald
Trump, por sua vez, descreveu a mudança climática como um “engano”. Enquanto
Trump participou esta semana da sua primeira reunião informativa sobre
informações secretas de segurança nacional dos Estados Unidos, o Golfo do
México está sendo açoitado por chuvas torrenciais e inundações. Pelo menos 11
pessoas morreram e mais de 20 mil foram evacuadas das suas casas em Baton Rouge
e das áreas próximas.
No
sul da Califórnia, continuam os incêndios florestais provocados pelas graves
secas em consequência da mudança climática, que obrigaram mais de 82 mil
pessoas a abandonarem suas casas. Julho foi o mês mais quente da história desde
que os registros começaram a ser feitos. Como parte das informações secretas,
deveriam mostrar a Trump as conclusões do Pentágono, que durante anos
identificou a mudança climática como uma das piores ameaças à segurança
nacional. (ecodebate)
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