O
aumento dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera teve uma alta recorde em
2016, em um momento em que o agravamento das mudanças climáticas faz com que o
planeta fique mais perigoso e mais suscetível aos eventos climáticos extremos.
Por
exemplo, os meses de maio e junho foram marcados por diversas catástrofes
naturais decorrentes destes eventos extremos. Em maio, uma onda de calor na
Índia quebrou o recorde de temperaturas. Em 19/05/16, foram registrados 51°C na
cidade de Phalodi, no estado desértico do Rajastão. Dois dias depois um ciclone
deixou 23 mortos e 500 mil deslocados em Bangladesh. Em 30/05/2016 um temporal
deixou 900 desalojados em três cidades do Grande Recife. Ainda em maio, um
imenso incêndio florestal provocou a evacuação da cidade petroleira canadense
de Fort McMurray e arredores. Cerca de metade dos 1.550 bombeiros da província
combateram o fogo que devastou mais de 2.500 km2 de floresta, além
de destruir 2.400 casas na cidade e nos arredores de Fort McMurray, onde cerca
de 100.000 personas foram evacuadas.
Em
junho, um fenômeno de microexplosão atingiu Campinas e o interior de São Paulo
em 05 de junho, provocando a destruição de muitas casas e benfeitorias. No
mesmo dia, um incêndio fez 5 mil pessoas serem evacuadas na região de Los
Angeles, nos Estados Unidos. Ainda em junho, enchentes e deslizamentos de terra
deixaram ao menos 24 pessoas mortas e 26 desaparecidas e danificaram milhares
de casas na região central da ilha indonésia de Java após chuvas torrenciais no
dia 19 de junho 2016. Inundações na Virgínia Ocidental, nos EUA, dia
24/06/2016, provocou a morte de 26 pessoas e gerou danos enormes nos dias
seguintes. Houve também inundações na Louisiana, na China, nas Filipinas e em
quase todos os países.
Portanto,
o aquecimento global já está provocando efeitos sobre as gerações atuais e vai
prejudicar ainda mais as gerações futuras. Em abril de 2014, as concentrações
mensais de CO2 na atmosfera ultrapassaram 400 partes por milhão
(ppm), atingindo o nível mais alto dos últimos 800.000 anos, ressaltou a NOAA.
Possivelmente, nos últimos 3,5 milhões de anos a concentração desse gás-estufa
jamais ultrapassou 300 ppm.
Em
grandes quantidades, o CO2 é um poderoso e perigoso gás-estufa,
resultado das atividades humanas como a combustão de combustíveis fósseis
(carvão e petróleo), e desmatamento. Juntos com outros dois gases do efeito de
estufa produzidos pelas atividades antrópicas, o metano (a pecuária é grande
produtora deste gás) e o óxido nitroso aceleram o aquecimento global. O
aquecimento global provoca acidificação dos solos e dos oceanos e acelera o
degelo dos polos e dos glaciares elevando o nível do mar, o que ameaça as áreas
costeiras do mundo.
Trabalho
da Academia Nacional de Ciência da Alemanha (PNAS, 2014) diz que a inundação de
apenas 1,2 metro (4 pés) de elevação do nível do mar teria um impacto no
deslocamento de até 310 milhões de pessoas, causando um prejuízo de até US$ 210
trilhões em danos materiais em 2100. Filme da Grist (2016) mostra que o nível
do mar pode subir mais de 2 metros até 2100 e as estimativas ficam mais
catastróficas na medida em que aumentam as emissões de GEE.
No
mês de maio de 2016 as concentrações globais de dióxido de carbono (CO2)
atingiram um recorde de média global de 407,7 partes por milhão (ppm), sendo
que a média do período pré-industrial estava abaixo de 280 ppm. “Pela primeira
vez desde que medimos a concentração de dióxido de carbono na atmosfera global,
a concentração mensal deste gás de efeito estufa ultrapassou 407 partes por
milhão (ppm)”, informou a Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA).
O
mais grave é que a média anual de crescimento da concentração de CO2
na atmosfera vem aumentando nas últimas décadas, conforme mostra o gráfico
abaixo. Na década de 1960 o aumento médio estava em 1 ppm por ano, passando
para mais de 2 ppm ao ano nos anos 2000.
A
concentração de CO2 é um indicador climático registrado no
Observatório do Mauna Loa, no alto do vulcão homônimo no Havaí, que mede a
variação na concentração do principal gás de efeito estufa na atmosfera. A
concentração de CO2 sobre uma variação sazonal. O gráfico abaixo
mostra que os níveis sobem de setembro a maio todos os anos e caem de maio a
setembro.
No
ritmo atual vai ser muito difícil atingir as metas estabelecidas no Acordo de
Paris, da COP-21. O aumento da concentração de gases de efeito estufa vai
acelerar o aquecimento global e se a temperatura passar de 2ºC, o mundo vai entrar
em uma era de enormes incertezas. As externalidades negativas podem
inviabilizar a economia como mostrou Herman Daly (2005): “Teremos, então, o que
denomino crescimento deseconômico, produzindo ‘males’ mais rapidamente do que
bens – tornando-nos mais pobres, e não mais ricos”.
As
emissões de GEE provocam o aquecimento global que provoca a acidificação dos
solos e das águas, a degradação dos ecossistemas e a subida do nível do mar. O
aumento da temperatura dos oceanos é o “maior desafio latente da nossa
geração”, pois está alterando a composição de espécies marinhas, encolhendo
zonas de pesca e espalhando doenças para os seres humanos, de acordo com
relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN),
envolvendo o trabalho de 80 cientistas de uma dúzia de países. Os oceanos já
sugaram uma enorme quantidade de calor devido a crescentes emissões de GEE,
afetando espécies marinhas, dos micróbios às baleias. As profundas mudanças em
curso nos oceanos estão começando a impactar pessoas e a economia nacional e
internacional.
Estes
fenômenos, combinado ao “crescimento deseconômico” são típicos da “Sociedade de
Risco”, como definiu Ulrich Beck. As externalidades negativas ganham relevância
sobre a geração de riqueza. As mudanças climáticas, provocadas pela
concentração de CO2 tal como descrito acima, não são fenômenos
naturais, mas “incertezas fabricadas” que podem gerar uma grande catástrofe
global.
Segundo
Beck, estas “incertezas fabricadas” caracterizam-se por três aspectos:
“deslocalização” (suas causas e consequências não se limitam a um local ou
espaço geográfico – são unipresentes); “incalculabilidade” (são incalculáveis);
e “não-compensabilidade” (é o fim do sonho da segurança da modernidade em
tornar os perigos cada vez mais controláveis). O desafio do aquecimento global
é um fenômeno que se encaixa na definição de Beck sobre imperativos
cosmopolitas: coopere ou fracasse! (ecodebate)
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