O aquecimento global é o maior risco da sociedade
contemporânea. Em artigo anterior, com base em um relatório divulgado no mês de
maio de 2016 pela Christian Aid, mostrei como 20 grandes cidades serão afetadas
pelo aquecimento global. Os últimos dados mostram que a temperatura nos
primeiros 12 meses de setembro de 2015 a agosto de 2016 ficou 1ºC acima da
média do século XX.
Quanto mais a temperatura esquenta, maiores são as
áreas de degelo da Groenlândia, da Antártica e dos glaciares. A água que
derrete aumenta o nível do mar. Uma avaliação do Banco Mundial estima que se as
temperaturas globais subirem 2°C até 2100, o aumento médio do nível do mar
poderá ficar entre 80 cm e 1 metro até o final do século. Além disto, o
aquecimento global deve provocar tempestades e furacões como o tufão Haiyan que
devastou as Filipinas em 2013. Chuvas mais fortes e a elevação do nível do mar
vão provocar grandes inundações nas áreas costeiras das grandes cidades dos
países mais populosos.
O relatório da Christian Aid mostra que a população
exposta ao risco, no total dos 25 países mais vulneráveis, era de 510 milhões
no ano 2000, deve passar para 824 milhões em 2030 e atingir 1,3 bilhão de
pessoas até 2060.
A China será o país mais afetado com 245 milhões de
pessoas sob risco das mudanças climáticas em 2060. A Índia vem em segundo lugar
com 216 milhões de pessoas. Bangladesh vem em seguida com 110 milhões de
pessoas. Em quarto lugar aparece a Indonésia com 94 milhões e em quinto o
Vietnã com 80,4 milhões de pessoas em risco. Dois países da África aparecem na
ordem seguinte, sendo o Egito com 63,5 milhões e a Nigéria com 57,7 milhões de
pessoas sob risco de inundações.
Os Estados Unidos aparecem em oitavo lugar com 43,9
milhões de pessoas sob risco. O Brasil aparece em 15º lugar, com 18,7 milhões
de pessoas sob risco dos efeitos do aquecimento global e do aumento do nível do
mar.
O Reino Unido aparece em 22º lugar, com uma população
de 8,8 milhões de pessoas sob risco de inundações. Um aquecimento de dois graus
pode colocar Londres debaixo d’água, como mostra a ilustração abaixo. As perdas
seriam incalculáveis para toda a Grã-Bretanha.
Evidentemente, os prejuízos não ficarão restritos a
estes 25 países. Todo o planeta será afetado. O relatório da Christian Aid
conclui com a seguinte reflexão:
“A mudança climática não é um conceito abstrato, mas sim uma realidade
cada vez mais sentida por milhões de pessoas em todo o mundo. Para aquelas que
vivem em regiões costeiras e têm suas vidas ameaçadas, este relatório mostra
que esse impacto só vai ficar mais grave ao longo das décadas. As alterações
climáticas desempenharão um papel cada vez maior nos desastres humanitários,
especialmente ao longo do litoral. Por isso que é vital que tenhamos alguma
reflexão conjunta e que a mitigação do clima e a adaptação se tornem uma parte
essencial dos esforços nacionais e internacionais para fazer face às crises
humanitárias. Ano passado houve o Acordo de Paris e a Cúpula Humanitária. Se
quisermos garantir o padrão de vida das populações costeiras, com resiliência
em face às ameaças humanitárias, é essencial que estas duas vertentes atuem
conjuntamente com um objetivo único”.
Relatório do Banco Mundial (GFDRR, 2016) mostra que,
em 2050, um montante de US$ 158 trilhões em ativos estarão em risco de
inundação e o número de 1,3 bilhão de pessoas estarão em risco de se tornarem
“refugiados” do clima. O relatório considera que os prejuízos causados por
desastres já estão aumentando ao longo das últimas décadas e a tendência é
piorar, impulsionado em grande parte pela mudança climática e a urbanização. Em
relatório anterior (GFDRR, Bringing Resilience to Scale), divulgado na
conferência de riscos, nas últimas duas décadas, os eventos climáticos extremos
já afetaram mais de quatro bilhões de pessoas, matando mais de 600.000 e
causando $ 1,9 trilhão em perdas econômicas.
Os crescentes prejuízos provocados pelas mudanças
climáticas devem aumentar a probabilidade de a economia internacional entrar na
fase conhecida como “estagnação secular”, com baixa produtividade e baixo
crescimento econômico. Numa situação de aumento das desigualdades, o mundo pode
ver o encontro do choque ambiental e o choque social.
Malé, Capital das Maldivas.
O aquecimento global é um fenômeno típico da
“Sociedade de Risco”, como definiu Ulrich Beck. Crescem as externalidades
negativas. As mudanças climáticas, provocadas pela concentração de CO2
tal como descrito acima, não são fenômenos naturais, mas “incertezas
fabricadas” que podem gerar uma grande catástrofe global. Segundo Beck, estas
“incertezas fabricadas” caracterizam-se por três aspectos: “deslocalização”
(suas causas e consequências não se limitam a um local ou espaço geográfico –
são onipresentes); “incalculabilidade” (são incalculáveis); e
“não-compensabilidade” (é o fim do sonho da segurança da modernidade em tornar
os perigos cada vez mais controláveis). O desafio do aquecimento global é um
fenômeno que se encaixa na definição de Beck sobre imperativos cosmopolitas: se
não houver cooperação haverá fracasso!
Portanto, é urgente reverter a tendência de aumento
das emissões de gases de efeito estufa e evitar as consequências nefastas do
aumento da temperatura global. Caso contrário, toda a humanidade e a vida na
Terra estarão em risco. (ecodebate)
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