O
ano de 2016 foi o mais quente já registrado. Pior, os três últimos anos foram
os mais quentes desde o início da série de medição iniciada em 1880, com uma
temperatura média 0,94ºC acima da média do século XXI, em 2016, 0,9ºC em 2015 e
0,74ºC, em 2014. O clima fez um hat-trick.
Dos
17 anos mais quentes já registrados, 16 estão no século XXI. E o pior é que os
dois primeiros meses de 2017 indicam que a temperatura do ano vai continuar
alta, provavelmente menor do que 2016, mas mais elevada do que a de 2014 e
talvez 2015. Tanto as temperaturas de janeiro (0,89ºC) e fevereiro (0,98ºC) de
2017 foram as segundas mais altas da série histórica para os respectivos meses,
desde 1880. Parece que o calor veio para ficar.
Estas
medições são importantes, especialmente porque os acordos internacionais falam
em limitar o aquecimento global, no melhor cenário, a 1,5ºC em relação ao
período pré-industrial, ou seja, em relação ao período anterior ao início da
utilização generalizada dos combustíveis fósseis.
Para
se ter uma linha base mais próxima do período pré-industrial, a maioria dos
cientistas que estudam o aquecimento global compara as temperaturas de hoje com
as do final do século XIX. Mas um novo estudo mostra que o aquecimento já tinha
se iniciado em meados do século XIX e registra o quanto o mundo já está perto
de romper as metas de aquecimento do Acordo de Paris.
Em
estudo, detalhado, em janeiro de 2017, no boletim do jornal da American
Meteorological Society, os autores sugeriram o uso de 1720-1800 como um período
pré-industrial, porque é antes de as atividades industriais de gases de efeito
estufa começarem a aumentar a concentração de CO2 na atmosfera. Foi
também o período que se seguiu à chamada “Pequena Idade do Gelo”, impulsionado
por erupções vulcânicas e atividade solar.
Hawkins
e co-autores calcularam as diversas linhas de base da quantidade de aquecimento
global desde o século XVIII e mostraram que o uso da linha de base do final do
século XIX captura a maior parte do aquecimento causado pelas atividades
humanas.
Os
resultados do aquecimento, com a linha de base de 1850-1900, estão
representados no gráfico acima, que mostra que o limite de 1,5ºC está próximo
de ser ultrapassado. Uma primeira versão deste gráfico em espiral fez grande
sucesso no ano passado e foi apresentado para o mundo todo na abertura dos
Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Maiores detalhes podem ser obtidos no artigo
Thompson (2017)
O aquecimento global é uma realidade cada vez
mais incômoda e impactante. Assim, mesmo depois de três anos de aumento sem
precedentes da temperatura (2014, 2015 e 2016) o mês de fevereiro bateu recorde
de temperatura nos Estados Unidos, como mostra Hirji (2017).
Fevereiro
de 2017 foi o segundo mais quente no registro de 123 anos para os Estados
Unidos. Isto está antecipando a primavera e trazendo diversos desafios para a
adaptação da flora e da fauna. O aquecimento global deve continuar afetando a
vida no Planeta, não só no futuro como também no presente, como o calor extremo
na Austrália, nos Estados Unidos, como as fortes chuvas em Louisiana e outros
eventos climáticos extremos nos últimos anos.
Relatório
da Organização Meteorológica Mundial (WMO), publicado dia 21 de março, mostra
que o ano de 2017 mantém a mesma tendência do aquecimento global de 2016 (com o
nível um pouquinho mais baixo) e, segundo os cientistas da instituição:
“Estamos vendo mudanças profundas ao redor do planeta que estão desafiando os
limites de nosso entendimento sobre o sistema climático. Estamos de fato em um
território desconhecido”.
Por
exemplo, no primeiro trimestre de 2017, o Ártico registrou três ondas de calor,
com poderosas tempestades vindas do Atlântico. A calota de gelo do Ártico
normalmente cresce durante os meses de inverno e geralmente atinge seu máximo
no início de março. Segundo o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo (NSIDC),
da NASA em 07/03/2017, o gelo do mar do Ártico alcançou sua extensão máxima
para o ano, em 14,42 milhões km2, o menor registrado por satélite em
38 anos. A extensão máxima deste ano foi de 1,22 milhão km2 abaixo
do máximo médio de 1981 a 2010 de 15,64 milhões km2. Ou seja, a
perda de gelo foi maior do que a área da região Sudeste do Brasil (de 924.511
km2).
Abaixo
do Equador, as temperaturas do ar na Antártica durante o outono e inverno foram
acima da média, embora menos do que no Ártico. As temperaturas da Antártica no
primeiro trimestre de 2017 foram de 1 a 2,5°C acima da média de 1981 a 2010.
Como consequência, a área mínima de gelo do ano foi atingido em 03/03/2017, com
2,11 milhões km2, a menor já registrada por satélites. A extensão
mínima de gelo da Antártida foi de 2,33 milhões km2, enquanto o
mínimo médio de 1981 a 2010 foi de 2,85 milhões de quilômetros quadrados. A
quantidade mínima de gelo da Antártica foi pouco maior do que a soma das áreas
das regiões Sul (576.774 km2) e Nordeste (1.558.000 km2)
do Brasil. O gráfico abaixo mostra como a concentração de gelo global (Ártico +
Antártica) tem diminuído e batido todos os recordes desde outubro de 2016,
prosseguindo até o mês de março de 2017.
Portanto,
o mundo está ficando mais incerto e mais perigoso. Como disse a WMO os humanos
estão entrando em um “território desconhecido”. Enquanto o aumento da
temperatura acelera o degelo global e eleva o nível dos oceanos, cerca de 2
bilhões de pessoas que vivem em áreas de até 2 metros do nível do mar passam a
ser altamente vulneráveis com o avanço das marés. Além disto, os eventos
extremos ameaçam grandes contingentes populacionais. Toda a vida no Planeta
será afetada.
O
impacto social do aquecimento global não vai ser sentido apenas no futuro. As
gerações atuais, especialmente, os jovens, vão viver grandes desafios
climáticos na atualidade e nas próximas décadas. (ecodebate)
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