São Paulo é a maior cidade do Brasil.
O município tem uma população maior do que a grande maioria dos Estados do
país. Segundo dados do censo demográfico de 2010, do IBGE, se a cidade de São
Paulo fosse uma Unidade da Federação ela ficaria atrás em número de habitantes
apenas dos Estados de São Paulo (41.262.199), Minas Gerais (19.597.330), Rio de
Janeiro (15.989.929) e Bahia (14.016.906). A população da cidade de São Paulo equivalia,
em 2010, à soma dos 2.333 municípios brasileiros de menor tamanho populacional.
Portanto, o que acontece com os
paulistanos têm um grande peso nacional.
Assim como o Brasil, o município de
São Paulo está passando por uma transição religiosa, que significa queda das
filiações católicas, aumento das filiações evangélicas, aumento de outras
religiões e aumento das pessoas que se declaram sem religião. Ou seja, está
havendo uma mudança de hegemonia entre os dois grandes grupos cristãos e um
aumento da pluralidade religiosa.
Em 1991, São Paulo tinha 9,6 milhões
de habitantes, sendo 78,1% católicos, 8,3% evangélicos, 7,5% de outras
religiões e 6,1% sem religião. Em 2010, a população de São Paulo passou para
11,3 milhões de habitantes, com 58,2% católicos, 22,1% evangélicos, 10,3%
outras e 9,4% sem religião. O declínio dos católicos foi de 1,05% ao ano, o
aumento dos evangélicos foi de 0,73% ao ano, o aumento das outras religiões foi
de 0,15% ao ano e o aumento dos sem religião foi de 0,17% ao ano.
Supondo que essas tendências das duas
últimas décadas permaneçam nas duas décadas seguintes, podemos fazer uma
projeção linear sobre o percentual de cada grupo religioso até 2030. Na tabela
acima, usamos a projeção populacional da Prefeitura de São Paulo, que estima
11,8 milhões de habitantes em 2020 e de 12,3 milhões em 2030.
O que a projeção mostra é que haverá
um empate técnico entre católicos (37,3%) e evangélicos (36,6%) em 2030. Sendo
que, ceteris paribus, os evangélicos passarão os católicos em 2031. As outras
religiões somadas devem representar 13,3% e os sem religião 12,8% da população
paulistana em 2030. Assim, os cristãos (católicos + evangélicos) que
representavam 86,4% em 1991, caíram para 80,3% em 2010 e devem ficar com 73,9%
em 2030. Isto quer dizer que a cidade de São Paulo deve assistir a mudança da
hegemonia entre católicos e evangélicos e uma maior pluralidade religiosa no
início da década de 2030.
Este exercício de projeção não tem o
objetivo de acertar na mosca qual vai ser o panorama religioso da cidade de São
Paulo no futuro próximo. A ideia aqui é apenas mostrar o que aconteceria se as
tendências ocorridas entre 1991 e 2010 fossem mantidas. Este tipo de cenário é
interessante para confrontar com os dados reais e, quando forem publicados os dados
dos censos demográficos de 2020 e 2030, avaliar se as tendências se aceleraram
ou desaceleraram.
Existem indicações de que a transição
religiosa no Brasil continua no mesmo ritmo ou até se acelerou. Pesquisa
Datafolha, divulgada no dia de Natal (25/12/2016), mostra que a percentagem de
católicos caiu de 63% em 2010 para 50% em 2016, os evangélicos subiram de 24%
para 29%, os sem religião de 6% para 14% e as outras denominações ficaram
constante em 7%, no mesmo período, segundo a Datafolha. Entre 1994 e 2016 a
perda dos católicos tem sido de 1,14% ao ano, superior ao que aponta os censos
demográficos do IBGE.
O dinamismo das atividades evangélicas
pode ser exemplificado pela realização da “Marcha para Jesus”, que é um evento
interdenominacional (realizado conjuntamente por diversas denominações
evangélicas) realizado anualmente no feriado de Corpus Christi. A primeira
Marcha na cidade de São Paulo ocorreu em 1992 e, segundo os organizadores,
reuniu 350 mil pessoas. A última ocorreu no dia 15 de junho de 2017 e, segundo
os organizadores, reuniu 2 milhões de pessoas.
Pesquisa encomendada à Universidade
Municipal de São Caetano pela Diocese de Santo André para diagnosticar a
transformação do Grande ABC e sua população desde os anos 1960 até 2016,
apontou que a Igreja Católica vem gradativamente perdendo fiéis. Cinquenta e
seis anos atrás, dos 499.398 moradores da região, 90,7% eram católicos. Em
2010, das 2,5 milhões de pessoas, 56,5% se declararam seguidoras do catolicismo
e, neste ano, elas representam 46,8% em universo de 2,7 milhões de habitantes.
Portanto, os católicos perderam quase 10 pontos em apenas 6 anos. O que mostra
que a transição está se acelerando e não se reduzindo (Oliveira, 07/12/2016).
A capital mais adiantada na transição
religiosa é Rio Branco, no Acre. Das grandes capitais, a cidade do Rio de
Janeiro (segunda maior cidade do Brasil) está mais adiantada do que São Paulo,
sendo que os evangélicos, ceteris paribus, devem passar os católicos antes de
2030 (mais precisamente em 2027). A pluralidade também é maior na capital
fluminense. O fato de o Rio ter um prefeito que também é bispo de uma igreja
evangélica neopentecostal é apenas um sinal dos tempos. Tempos de mudança no
panorama religioso nacional.
Outro sinal de mudança no sentido da
secularização são as enormes paradas gays de São Paulo. A parada do orgulho
LGBT é uma parada em prol da garantia dos direitos civis da população de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Trangêneros e Queer
(LGBTTTQ) e aconteceu, pela primeira vez em São Paulo, em 1997, quando reuniu
cerca de duas mil pessoas. A 21ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo
que ocorre em 18/06/2017, com o tema “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todas e
todos por um estado laico“, reuniu, segundo os organizadores, cerca
de 3 milhões de pessoas.
No curto espaço de três dias, São
Paulo reuniu duas multidões com cores e propósitos bem diferentes. Esse artigo
não teve como foco avaliar se são bons ou ruins a transição religiosa e o
processo de secularização em curso no Brasil e na maior cidade do país.
O fato é que a composição das
filiações religiosas e a sociedade estão se modificando rapidamente. Isto é um
fato inédito nos mais de 500 anos de história do Brasil, desde que foi rezada a
primeira missa, em Cabrália, na Bahia, supostamente no dia 26 de abril de 1500.
Nos artigos disponíveis nos links abaixo, há uma discussão mais aprofundada da
transição religiosa brasileira. Quem tiver interesse nessa discussão pode
acessar gratuita e livremente os trabalhos indicados abaixo. (ecodebate)
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