Cidades costeiras são mais vulneráveis às mudanças climáticas, em especial ao aumento do nível do mar
O Rio de Janeiro é uma das cidades costeiras mais preparadas para lidar com as mudanças climáticas.
As cidades brasileiras situadas em zonas costeiras são mais vulneráveis às mudanças climáticas, em especial ao aumento do nível do mar, mas também a eventos como fortes chuvas, tempestades, inundações e erosão costeira, que causa destruição e impactos à infraestrutura desses municípios.
O dado consta do relatório especial Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas, que o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) divulgou no Rio de Janeiro. Este é o segundo documento sobre mudanças climáticas e cidades elaborado pelo organismo científico criado em 2009 pelos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e Meio Ambiente. O primeiro foi divulgado durante a Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 21), da Organização das Nações Unidas (ONU), no Marrocos, em 2016.
No relatório especial, foram avaliados os cenários de mudanças climáticas para o Brasil e como essas cidades poderão ser impactadas pelo aquecimento global. De acordo com o estudo, 18 das 42 regiões metropolitanas brasileiras se encontram na zona costeira ou sofrem influência dela. O documento abordou municípios costeiros das regiões Nordeste, Sudeste e Sul.
Nível do mar
Os cenários mais pessimistas citados
no relatório apontam que o nível do mar pode chegar a subir 40 centímetros até
2050, provocando perdas econômicas de até US$ 1,2 bilhão para as 22 maiores
cidades costeiras latino-americanas. Não há ainda, entretanto, mensuração no
Brasil dos custos econômicos provocados pelas mudanças climáticas.
De acordo com a presidente do comitê
científico do PBMC, Suzana Kahn, professora do Instituto Alberto Luiz Coimbra
de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (Coppe/UFRJ), a elevação do nível do mar e das temperaturas têm impacto
muito maior no Brasil, porque grande parte das regiões está localizada nas
áreas litorâneas. “Não há como evitar os danos, mas sim implantar soluções, no
sentido de que possamos nos adaptar a uma nova realidade”, externou.
Além do nível do mar, os eventos
extremos de chuvas também são citados como causas dos problemas ambientais nas
regiões costeiras, acarretando riscos de deslizamento de terras, enxurradas e
enchentes. Também foi constatada nas cidades litorâneas a forte emissão de
gases poluentes. De acordo com o relatório do PBMC, o Rio de Janeiro se destaca
com a maior emissão de gás carbônico (CO2) por habitante, da ordem
de 3,47 toneladas.
Mapeamento
Entre as cidades mais vulneráveis estão
o Rio de Janeiro, Santos, Fortaleza, Recife, Salvador e, no Sul do Brasil, o
Vale do Itajaí. A costa de Santa Catarina, apresenta risco não só o aumento do
nível do mar, mas também a possibilidade de se tornar rota de furacões. As
fortes tempestades na região, com ventos superiores a 80 quilômetros por hora,
já são indicativo da tendência, disse à Agência Brasil a secretária executiva do comitê científico do Painel,
Andrea Santos.
O relatório recomenda que sejam
realizadas novas avaliações de risco de desastres associados, de aumento na
frequência de extremos de clima e aumento do nível do mar nas cidades
costeiras, sobretudo no Norte e Nordeste do país. Segundo o comitê científico
do Painel, esses estudos podem permitir a reavaliação dos riscos para os quais
municípios e populações estão preparados.
O Rio de Janeiro e Santos são os
únicos municípios que já estão investindo em relação às mudanças do clima,
aponta o estudo. “São duas cidades que estão atuando em política pública no
sentido de promover ações de adaptação”, disse Andrea.
O relatório atesta que a maioria das
cidades que fizeram políticas de clima não conseguem monitorar as metas
anunciadas. “A gente não tem visto o acompanhamento dessas políticas, tanto de
mitigação, para redução das emissões de gases de efeito estufa, tanto das
políticas e ações integradas no âmbito de medidas de adaptação”, afirmou a
secretária-executiva do comitê.
Medidas
A secretária executiva do comitê
indicou que a infraestrutura de todas essas cidades costeiras está suscetível a
impactos físicos, em razão das mudanças climáticas e seus efeitos. O documento
faz recomendações de políticas públicas que sejam construídas pela União,
estados e municípios para atenuar esses impactos. Ela citou como exemplos
novamente o Rio de Janeiro e Santos, que “estão pensando no planejamento de
médio e longo prazo, mas também têm ações que podem ser feitas no curto prazo”.
Entre elas, destacou a construção de
um piscinão na Praça da Bandeira, centro do Rio de Janeiro, que durante anos
passou por inundações e alagamentos. Andrea Santos considerou que reservatório
subterrâneo construído naquela área pode ser considerado uma medida de
adaptação, já que, na prática, evitou novas enchentes.
Além de barreiras de proteção contra a
elevação do nível do mar, a secretária do comitê científico do PBMC recomendou
que as cidades costeiras preservem seus ecossistemas. O mangue tem um papel
fundamental ao conter o avanço da água salina.
Medidas de curto prazo como a integração do
transporte público também são recomendadas. O transporte rodoviário é o mais
afetado em inundações e sistemas integrados podem diminuir o impacto das chuvas
no dia a dia de usuários. Outra medida simples, em que a população tem um papel
a cumprir, diz respeito à destinação de resíduos. “Se a população não joga lixo
na rua, isso facilita”, observou. (ecodebate)
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