Pesquisa da ESALQ/USP aponta que arborização proporciona
mais conforto térmico em zonas urbanas.
Pesquisa aponta qual a
quantidade de árvores necessária para diminuir o calor excessivo em determinada
área urbana.
Estudo desenvolvido na Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) USP aponta a quantidade de árvores
necessária para diminuir o calor excessivo em determinada área urbana. Segundo
a pesquisa, em Piracicaba, para diminuir 1°C na temperatura média urbana é
necessário acrescentar 14,31% de cobertura arbórea na estação seca e 27,70% na
estação chuvosa.
A pesquisa é de autoria do gestor
ambiental Gustavo Torquato Oliva, com orientação do professor Demóstenes
Ferreira da Silva Filho, do Departamento de Ciências Florestais, e avalia a
relação do conforto humano com métricas de cobertura arbórea. “A influência
benéfica de áreas verdes no conforto humano em áreas urbanas tem sido
reconhecida por estudos de diferentes campos do conhecimento”, aponta Oliva.
Para chegar ao resultado final, foram
dispostos 43 registradores higrotérmicos (que registram umidade e calor)
microprocessados dentro de estabelecimentos residenciais (quintais), durante 40
dias de coleta na estação chuvosa e na seca dos anos de 2015 e 2016, além de
uma estação meteorológica móvel, de modo a obter as variáveis de conforto
humano relacionadas com a sensação térmica relatada pelos residentes. “A
escolha dos 43 pontos priorizou estabelecimentos cuja área externa fosse
propícia à instalação dos registradores de temperatura e umidade relativa, sendo
que esses locais não poderiam ter a influência direta de parede e de outros
materiais, além de serem em locais totalmente abertos”, explica Oliva.
As árvores amenizam a
diferença entre a escala humana e outros componentes arquitetônicos, como altos
prédios, muros e grandes avenidas.
Para o orientador do projeto, a população brasileira é
essencialmente urbana e carece de melhor qualidade no que diz respeito ao
conforto nos espaços abertos públicos e privados, principalmente nos médios e
grandes centros urbanos. “Neste sentido, as árvores e o restante de verde
urbano exercem influência positiva e decisiva para condicionar um microclima
mais adequado e proteger residências dos diversos efeitos negativos existentes
nas áreas urbanas como a poluição e as ilhas de calor. Além disso, as árvores
amenizam a diferença entre a escala humana e outros componentes arquitetônicos
como altos prédios, muros e grandes avenidas”, relata o professor Demóstenes
Silva Filho.
Segundo o autor do trabalho,
atualmente não existe resposta para a quantidade de árvores necessária para
diminuir o calor excessivo em determinada área urbana. “Isso é algo bastante
desejável em tempos de alterações climáticas e com cidades em crise de
abastecimento de água e energia elétrica. Um modelo climático a partir de dados
fornecidos por sistema de informações geográficas na escala das árvores e das
pessoas seria importante como ferramenta de baixo custo para justificar
mudanças nos tecidos urbanos de nossas cidades, com intuito de melhorar o
ambiente urbano.”
A pesquisa correlacionou os dados de
temperatura do ar e umidade relativa com a porcentagem dos materiais de
cobertura do solo obtidos por classificação do tecido urbano de Piracicaba. Dos
43 pontos observados, foram selecionados quatro que apresentam diferenças com
relação ao uso e ocupação do solo urbano a fim de se inferir o conforto entre
essas áreas. Assim, os resultados foram refinados com dados de registros
realizados na região central e nos bairros Vila Fátima (região Norte),
Campestre (região Sul) e São Jorge (região Oeste).
Floresta urbana
Foram obtidos os valores do Índice de
Floresta Urbana (IFU) para os bairros estudados. “Constatamos que a Vila Fátima
e Campestre foram os que apresentaram maiores IFUs se comparados com a Cidade
Alta e o São Jorge, corroborando, por assim dizer, o maior conforto dessas
áreas e indicando o IFU como um índice que tem uma grande representatividade da
realidade local de estudo, pois melhor representa as classes de cobertura do
solo por abrangê-las totalmente.” Como consequência, o estudo comprova que,
durante o dia, a Cidade Alta e São Jorge apresentaram maiores valores de
temperatura e menores valores de umidade relativa, em contrapartida, a Vila
Fátima e o Campestre foram os bairros que apresentaram menores valores de
temperatura e maiores valores de umidade relativa para ambas as estações.
As informações
reveladas por este levantamento podem ser utilizadas como métodos de avaliação
do conforto térmico.
Sensação térmica
Além dos registros eletrônicos, os
pesquisadores da Esalq entrevistaram moradores nos quatro bairros foco do
estudo. Durante a estação chuvosa, os entrevistados dos bairros São Jorge e
Cidade Alta em nenhum momento relataram conforto mesmo em condições de sombra,
sendo que no bairro São Jorge 75% das respostas foi de o clima naquele momento
estar “Muito Quente”. Na estação seca, que coincide com o inverno, embora os
entrevistados tenham relatado sensação de conforto, a Cidade Alta e o São Jorge
foram os únicos bairros que apresentaram condições térmicas “Muito Quente”.
“Outro fato curioso é que o Bairro São Jorge foi o único também no qual os
entrevistados relataram condições de ‘Muito Frio’ nas primeiras horas do dia,
já que a ausência de vegetação explica a maior incidência de ventos, o que faz
com que a sensação térmica seja mais intensa do que em áreas vegetadas”,
complementa Oliva.
Portanto, de maneira geral, tanto na
estação chuvosa quanto na seca, constata-se que a Vila Fátima e Campestre são
os bairros que representaram menores temperaturas superficiais do solo,
confirmando que essas áreas são mais confortáveis termicamente se comparadas
com Cidade Alta e São Jorge.
As informações reveladas por este levantamento
podem agora ser utilizadas como métodos de avaliação do conforto térmico, dando
como resposta a quantidade de árvores necessária para diminuir a média de
temperatura na área urbana. “Isso deverá auxiliar profissionais no planejamento
e readequação das cidades diante dos problemas ambientais, a fim de proporcionar
maior conforto ambiental urbano para a população e inspecionar e avaliar a
situação da arborização urbana nas cidades brasileiras”, finaliza o
pesquisador. (ecodebate)
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