Estudo revela florestas 'escondidas'
que equivalem a uma Amazônia.
Uma extensa equipe
internacional de 31 pesquisadores em 13 países analisou dados de satélites e
concluiu que a Terra tem 9% mais florestas do que se estimava. Estes 4.270.000
km² de floresta até agora "escondidos" têm metade da área territorial
do Brasil e equivalem à toda a floresta amazônica.
É uma boa notícia para a
ciência melhorar a compreensão da dinâmica e potencial dos sorvedouros de
carbono terrestres como as florestas, apesar de o problema ambiental básico
continuar o mesmo.
O planeta continua passando
por uma mudança climática global, que é acelerada pela emissão de carbono por
atividades industriais e agrícolas humanas.
O novo estudo procurou
descobrir se as zonas áridas também abrigariam trechos de florestas. Essas
regiões mais secas se caracterizam por apresentar uma precipitação (chuva) que
é contrabalanceada pela evaporação de água das superfícies e pela transpiração
das plantas.
"Os biomas das zonas
secas cobrem cerca de 41,5% da superfície terrestre. Elas contêm alguns dos
ecossistemas mais ameaçados, embora desconsiderados, incluindo sete dos 25
hotspots de biodiversidade, enquanto enfrentam a pressão das mudanças
climáticas e da atividade humana", escreveram os autores do estudo na
revista científica americana "Science".
Entre os
"hotspots", "pontos quentes" de diversidade animal e
vegetal, está o semiárido brasileiro, caracterizado por regiões como o cerrado
e a caatinga.
O mapeamento da cobertura
vegetal em áreas semiáridas no Brasil ficou a cargo de pessoal do Insa
(Instituto Nacional do Semiárido) em parceria com a FAO (Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura).
A participação brasileira
integrou o projeto Global Forest Survey (Pesquisa Florestal Global) da
organização e foi coordenada no país pelo analista da FAO, o brasileiro Marcelo
Rezende, um dos coautores do estudo na "Science". Ignacio Salcedo, do
Insa, também está entre os autores, mas ele morreu no mês passado, antes da
publicação do estudo. O projeto procura mapear as dinâmicas de florestas para
entender mudanças no uso da terra.
"Para coletarmos dados
sobre biomas tão diferentes nas terras áridas, trabalhamos com diversos
institutos ao redor do mundo. O melhor formato para essa colaboração é a
transferência de conhecimento técnico entre a FAO e o parceiro. Collect Earth,
a ferramenta gratuita desenvolvida pela FAO e utilizada na coleta de dados foi
apresentada para o Insa em um workshop em 2015", declarou Rezende à
reportagem.
Mais de vinte participantes
foram selecionados pelo Insa e treinados no uso dessa nova ferramenta, na
metodologia de avaliação e ao mesmo tempo auxiliaram no estudo das terras
áridas. "Os participantes eram, em sua maioria, estudantes de graduação e
pós-graduação da região, que conheciam bem as formações vegetais do cerrado e
da caatinga. Alguns professores também participaram do treinamento",
afirma o consultor da FAO.
Segundo Rezende, "as
informações geradas vão contribuir para a elaboração de medidas de conservação
e proteção mais assertivas, levando em consideração a real extensão e condições
das formações vegetais do cerrado e da caatinga".
As estimativas prévias de área florestal em
regiões de semiárido variavam muito em função de diferentes graus de precisão
das imagens de satélite -diferenças na sua "resolução espacial"-,
enfoques de cartografia e mesmo a definição daquilo que constitui uma floresta.
"Dados anteriores a
nível global eram baseados em imagens de satélites de média e baixa resolução,
que nem sempre captavam as características da vegetação esparsa das formações
vegetais do semiárido. Collect Earth faz uma ponte entre várias plataformas
disponíveis gratuitamente pela Google e coloca a disposição do usuário imagens
de altíssima resolução e acesso a um catalogo de imagens históricas para uma
precisa avaliação da área", afirma o pesquisador brasileiro.
Um hectare (ha) é uma unidade
de medida de área que equivalente a 10.000 m² -um terreno na forma de um
quadrado de cem metros de cada lado. Um campo de futebol típico tem em torno de
7.000 ou 8.000 m² -ou exatos 7.140 m², no caso dos campos padronizados para o
Campeonato Brasileiro.
Para entender a extensão das
florestas, a unidade usada é o Mha -isto é, um milhão de hectares.
"Nossa estimativa é 40 a
47% maior do que as estimativas anteriores da extensão da floresta em terras
secas. Isto potencialmente aumenta em 9% a área global com mais de 10%
cobertura de copas de árvore [5.055 Mha em vez de 4.628 Mha] e por 11% a área
global de floresta [4.357 Mha em vez de 3.890 Mha]", escreveu a equipe
coordenada por Jean-Francois Bastin, da Universidade Livre de Bruxelas,
Bélgica, e também da FAO.
A diferença destes 9% a mais
-427 milhões de hectares ou 427.000.000.000.000 m² (427 trilhões de m²)- equivale
a mais de 59,8 bilhões de campos de futebol. Cada um dos 7,2 bilhões de
habitantes da Terra teria direito a uma área de floresta "escondida"
do tamanho de 8,3 campos de futebol.
"Você precisa entender
que comparamos nossos resultados com diferentes mapas e relatórios existentes.
Portanto, tivemos que adotar, para cada comparação, a mesma definição de
'floresta' do que esses relatórios", afirmou Bastin.
"Alguns mapas estão
usando apenas o limite de cobertura de árvores para definir a cobertura florestal.
Este é o caso, por exemplo, dos dados de Matt Hansen. Usando o limite de 10%,
ele estima uma área total de 4.628 Mha onde temos 5.055Mha. Isto corresponde a
um aumento de 9%", disse Bastin à reportagem.
"Alguns mapas estão
usando o limiar de 10%, mas também estão certificando-se de que essas árvores
não são parte de qualquer área de cultivo ou povoação. Este é o caso, por
exemplo, dos dados do estudo Global FRA Remote Sensing. Eles relatam 3.890 Mha
onde relatamos 4.357 Mha. Isso corresponde a um aumento de 11%", continua
o pesquisador da Bélgica.
Algumas regiões tiveram
florestas "escondidas" de tamanho inesperado. "Você vai ver que
a maior parte das diferenças são encontráveis na África e Oceania; os números
são muitas vezes dobrados", diz Bastin.
"Essas diferenças são
como a área total de floresta úmida tropical na Amazônia", conclui a
equipe.
Segundo Bastin, as
descobertas não mudam nada em relação ao acúmulo de dióxido de carbono na
atmosfera.
Mas muitos cientistas que trabalham no orçamento
de carbono destacam que faltam alguns sumidouros de carbono que ainda precisam
ser identificados e quantificados para equilibrar o ciclo do carbono. Nossos
resultados estão, portanto, trazendo novos elementos aqui", diz o
pesquisador.
"Além
disso, nossos resultados mostram que as terras secas são muito mais adequadas
para a floresta do que aquilo que pensávamos anteriormente. Portanto, e como
não há competição por outras atividades, como terras de cultivo intensivo, isso
significa que essas áreas consistem em grandes oportunidades para a restauração
florestal. Nossos dados ajudarão a avaliar áreas adequadas para a restauração
florestal, para combater a desertificação e, portanto, para combater as
mudanças climáticas", afirma Bastin. (noticiasagricolas)
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