Aumento da emissão de
gases estufa afasta o Rio do combate às mudanças climáticas.
“O
esgoto a céu aberto afeta o bem estar da população” Carolina Dubeux
Pesquisadora da CoppeUFRJ.
A emissão de gases de
efeito estufa no estado do Rio aumentou 40% em 10 anos, segundo um inventário
divulgado pelo Centro Clima, coordenado pela CoppeUFRJ.
O levantamento, que
considerou a liberação de poluentes entre 2005 e 2015, revela a dificuldade de
setores econômicos como produção energética e recuperação de bacias
hidrográficas em seguir projetos que exigem a redução drástica do envio de CO2
para a atmosfera.
O consumo de energia
quase dobrou — passou de 38,9 mil para 70,2 mil gigas gramas de CO2
(cada giga grama equivale a mil toneladas), especialmente nos setores públicos,
comerciais, de transporte e indústria. Para os pesquisadores, a multiplicação
do valor pode ser explicada pela crise hídrica ocorrida em 2015. Devido à falta
de chuvas e ao baixo rendimento das hidrelétricas, as termelétricas, que são
fonte de energia mais poluente, precisaram ser acionadas. O setor industrial,
por sua vez, foi impactado com a inauguração no estado da Companhia Siderúrgica
do Atlântico em 2010.
— Ainda não há tecnologia
para produzir aço com pouca emissão de carbono — destaca Emilio La Rovere,
coordenador do Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa e professor de
Planejamento Energético da Coppe UFRJ. — Mesmo assim, a siderúrgica conseguiu
bons resultados, porque sua liberação média de poluentes é menor do que nas
indústrias chinesas. LONGE DAS METAS Um decreto de setembro de 2011 instituiu a
Política Estadual sobre Mudança Global do Clima e Desenvolvimento Sustentável,
que prevê compromissos para a redução de emissões de gases de efeito estufa.
Por enquanto, a indústria ainda não conta com metas estabelecidas. Outros
setores, porém, já têm um cálculo estabelecido, e estão cada vez mais longe de
obedecê-lo.
De acordo com a política
estadual, em 2030 o setor de transportes deve limitar suas emissões a 10,91
gigas gramas de CO2. Em 2015, no entanto, a liberação de poluentes
ultrapassa a marca de 15 gigas gramas de CO2. O calcanhar de Aquiles
para atingir o marco está na Região Metropolitana, por onde se deslocam mais de
12 milhões de habitantes.
Emilio
ressalta que os projetos estaduais têm dificuldade para controlar o aumento da
poluição nos transportes.
— As emissões do setor
estacionaram entre 2010 e 2015, mas é difícil baixa-las, porque o preço da
gasolina diminuiu e falta estímulo para a adoção do etanol. O governo deve
promover esta iniciativa — reivindica. — Isso pode ser revertido com uma
política de incentivo a combustíveis renováveis, cujo nível de emissão é muito
mais baixo.
Coordenadora técnica do
estudo e pesquisadora do Centro Clima da Coppe UFRJ, Carolina Dubeux sublinha
outro fator que pode reduzir a presença de poluentes em meios de transportes:
— O pico das emissões no
setor ocorreu porque estávamos em uma fase de crescimento econômico. Com a
crise, a demanda caiu, principalmente por transportes individuais, como os
automóveis.
O consumo energético do
setor público deveria ter a emissão restrita a 203,11 gigatoneladas de CO2
em 2030. No entanto, o levantamento aponta que, em 2015, a liberação de gases
estufa do setor era de 694,82 gigatoneladas.
A restrição aos esgotos
urbanos também está distante da meta — em 2015, era responsável pela emissão de
79,24 gigatoneladas de CO2. Em 2030, precisa ser restrita a 23,78
gigatoneladas. Carolina, porém, acredita que as metas ainda são viáveis.
— O
custo da energia eólica e solar diminui a cada ano. Portanto, será cada vez
mais requisitada — avalia. — A renovação da frota e a demanda por veículos
elétricos contribuirão para o corte de poluentes no setor de transportes. Quanto ao esgoto, trata-se de um
imbróglio institucional. É inevitável que as autoridades elaborem políticas
para saneamento das lagoas da Barra da Tijuca e da Baía de Guanabara. O esgoto
a céu aberto provoca doenças, afeta o bem estar da população, causa prejuízos
ao turismo. Não se trata apenas de um problema ambiental. AVANÇO NOS ATERROS
SANITÁRIOS O inventário, no entanto, também trouxe uma boa notícia. A liberação
de resíduos sólidos urbanos caiu de 378 para 186 gigatoneladas de CO2
entre 2010 e 2015. Está no caminho para, em 2030, restringir-se a 112
gigatoneladas.
— Este é o resultado da
política nacional de resíduos sólidos, uma grande ação do governo para acabar
com os lixões — explica Carolina. — Os aterros sanitários fluminenses estão
queimando metano e usando-o para a produção de energia. Trata- se de uma
política sanitária que também provocou um impacto climático positivo.
— Já temos projetos bem
sucedidos para aterros sanitários. Agora, falta trabalhar o esgoto — analisa
Emilio, que admite a possibilidade de revisar os compromissos da política
estadual, abraçando compromissos menos ambiciosos. — As metas não estão
escritas em uma pedra. Se for necessário, podem ser revisadas. Precisamos
verificar a atual conjectura e as tendências para, depois, desenhar o futuro,
saber qual será o nosso foco.
Depende de nossas
condições financeiras e de vontade política. É uma cobrança constante a
governos, empresas e à academia.
Nove lixões foram
fechados nos últimos anos — sobraram 18. Em alguns, como o de São Gonçalo, os técnicos
da Secretaria estadual de Ambiente esbarram em problemas de segurança, porque
são áreas dominadas por traficantes e milicianos.
André Corrêa, que está à
frente da pasta, comemora o avanço do combate ao desflorestamento. O governo
estima que precisaria de R$ 8 bilhões para implementar políticas de plantio de
árvores. Diante da falta de recursos, foi necessário eleger prioridades.
— Vamos privilegiar as
áreas que tenham interferência direta no abastecimento de água do estado —
anuncia. — A região de Rio das Flores, por exemplo, vai ganhar 60 mil mudas. E
também vamos tentar recuperar locais como o Rio Carioca, cuja nascente é no
Parque Nacional da Tijuca.
Segundo
um levantamento recente, o estado ainda preserva 30% da cobertura florestal de
Mata Atlântica. Agora, as análises de satélite, que detectavam apenas áreas de
desmate superiores a 3 hectares, estão mais sofisticadas e conseguem verificar
cortes de árvore em regiões de apenas 1 hectare. Corrêa admite que a tecnologia
traz um novo desafio — o combate à devastação de pequenos regiões é mais
complexo. (aarffsa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário