terça-feira, 11 de julho de 2017

Poluição sem limites

Aumento da emissão de gases estufa afasta o Rio do combate às mudanças climáticas.
“O esgoto a céu aberto afeta o bem estar da população” Carolina Dubeux Pesquisadora da CoppeUFRJ.
A emissão de gases de efeito estufa no estado do Rio aumentou 40% em 10 anos, segundo um inventário divulgado pelo Centro Clima, coordenado pela CoppeUFRJ.
O levantamento, que considerou a liberação de poluentes entre 2005 e 2015, revela a dificuldade de setores econômicos como produção energética e recuperação de bacias hidrográficas em seguir projetos que exigem a redução drástica do envio de CO2 para a atmosfera.
O consumo de energia quase dobrou — passou de 38,9 mil para 70,2 mil gigas gramas de CO2 (cada giga grama equivale a mil toneladas), especialmente nos setores públicos, comerciais, de transporte e indústria. Para os pesquisadores, a multiplicação do valor pode ser explicada pela crise hídrica ocorrida em 2015. Devido à falta de chuvas e ao baixo rendimento das hidrelétricas, as termelétricas, que são fonte de energia mais poluente, precisaram ser acionadas. O setor industrial, por sua vez, foi impactado com a inauguração no estado da Companhia Siderúrgica do Atlântico em 2010.
— Ainda não há tecnologia para produzir aço com pouca emissão de carbono — destaca Emilio La Rovere, coordenador do Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa e professor de Planejamento Energético da Coppe UFRJ. — Mesmo assim, a siderúrgica conseguiu bons resultados, porque sua liberação média de poluentes é menor do que nas indústrias chinesas. LONGE DAS METAS Um decreto de setembro de 2011 instituiu a Política Estadual sobre Mudança Global do Clima e Desenvolvimento Sustentável, que prevê compromissos para a redução de emissões de gases de efeito estufa. Por enquanto, a indústria ainda não conta com metas estabelecidas. Outros setores, porém, já têm um cálculo estabelecido, e estão cada vez mais longe de obedecê-lo.
De acordo com a política estadual, em 2030 o setor de transportes deve limitar suas emissões a 10,91 gigas gramas de CO2. Em 2015, no entanto, a liberação de poluentes ultrapassa a marca de 15 gigas gramas de CO2. O calcanhar de Aquiles para atingir o marco está na Região Metropolitana, por onde se deslocam mais de 12 milhões de habitantes.
Emilio ressalta que os projetos estaduais têm dificuldade para controlar o aumento da poluição nos transportes.
— As emissões do setor estacionaram entre 2010 e 2015, mas é difícil baixa-las, porque o preço da gasolina diminuiu e falta estímulo para a adoção do etanol. O governo deve promover esta iniciativa — reivindica. — Isso pode ser revertido com uma política de incentivo a combustíveis renováveis, cujo nível de emissão é muito mais baixo.
Coordenadora técnica do estudo e pesquisadora do Centro Clima da Coppe UFRJ, Carolina Dubeux sublinha outro fator que pode reduzir a presença de poluentes em meios de transportes:
— O pico das emissões no setor ocorreu porque estávamos em uma fase de crescimento econômico. Com a crise, a demanda caiu, principalmente por transportes individuais, como os automóveis.
O consumo energético do setor público deveria ter a emissão restrita a 203,11 gigatoneladas de CO2 em 2030. No entanto, o levantamento aponta que, em 2015, a liberação de gases estufa do setor era de 694,82 gigatoneladas.
A restrição aos esgotos urbanos também está distante da meta — em 2015, era responsável pela emissão de 79,24 gigatoneladas de CO2. Em 2030, precisa ser restrita a 23,78 gigatoneladas. Carolina, porém, acredita que as metas ainda são viáveis.
— O custo da energia eólica e solar diminui a cada ano. Portanto, será cada vez mais requisitada — avalia. — A renovação da frota e a demanda por veículos elétricos contribuirão para o corte de poluentes no setor de  transportes. Quanto ao esgoto, trata-se de um imbróglio institucional. É inevitável que as autoridades elaborem políticas para saneamento das lagoas da Barra da Tijuca e da Baía de Guanabara. O esgoto a céu aberto provoca doenças, afeta o bem estar da população, causa prejuízos ao turismo. Não se trata apenas de um problema ambiental. AVANÇO NOS ATERROS SANITÁRIOS O inventário, no entanto, também trouxe uma boa notícia. A liberação de resíduos sólidos urbanos caiu de 378 para 186 gigatoneladas de CO2 entre 2010 e 2015. Está no caminho para, em 2030, restringir-se a 112 gigatoneladas.
— Este é o resultado da política nacional de resíduos sólidos, uma grande ação do governo para acabar com os lixões — explica Carolina. — Os aterros sanitários fluminenses estão queimando metano e usando-o para a produção de energia. Trata- se de uma política sanitária que também provocou um impacto climático positivo.
— Já temos projetos bem sucedidos para aterros sanitários. Agora, falta trabalhar o esgoto — analisa Emilio, que admite a possibilidade de revisar os compromissos da política estadual, abraçando compromissos menos ambiciosos. — As metas não estão escritas em uma pedra. Se for necessário, podem ser revisadas. Precisamos verificar a atual conjectura e as tendências para, depois, desenhar o futuro, saber qual será o nosso foco.
Depende de nossas condições financeiras e de vontade política. É uma cobrança constante a governos, empresas e à academia.
Nove lixões foram fechados nos últimos anos — sobraram 18. Em alguns, como o de São Gonçalo, os técnicos da Secretaria estadual de Ambiente esbarram em problemas de segurança, porque são áreas dominadas por traficantes e milicianos.
André Corrêa, que está à frente da pasta, comemora o avanço do combate ao desflorestamento. O governo estima que precisaria de R$ 8 bilhões para implementar políticas de plantio de árvores. Diante da falta de recursos, foi necessário eleger prioridades.
— Vamos privilegiar as áreas que tenham interferência direta no abastecimento de água do estado — anuncia. — A região de Rio das Flores, por exemplo, vai ganhar 60 mil mudas. E também vamos tentar recuperar locais como o Rio Carioca, cuja nascente é no Parque Nacional da Tijuca.
Segundo um levantamento recente, o estado ainda preserva 30% da cobertura florestal de Mata Atlântica. Agora, as análises de satélite, que detectavam apenas áreas de desmate superiores a 3 hectares, estão mais sofisticadas e conseguem verificar cortes de árvore em regiões de apenas 1 hectare. Corrêa admite que a tecnologia traz um novo desafio — o combate à devastação de pequenos regiões é mais complexo. (aarffsa)

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