“Heal the world
Make it a better place
For you and for me
And the entire human race” - Michael Jackson
A Revolução Industrial e
energética que teve início no final do século XVIII colocou em funcionamento
uma máquina de produção de bens e serviços que ampliou a dominação e a
exploração da natureza e abriu um período de grande elevação do padrão de
consumo da humanidade. Nesta nova etapa do avanço civilizacional, o ano de 1776
foi marcante devido à conjugação de três acontecimentos históricos: a
Independência dos Estados Unidos; O lançamento do livro “A riqueza das nações”
de Adam Smith e a entrada em funcionamento da máquina a vapor aperfeiçoada por
James Watt que deu início à utilização dos combustíveis fósseis em larga
escala.
Entre 1776 e 2016 o
crescimento da população foi de quase 9 vezes (de cerca de 850 milhões para 7,5
bilhões de habitantes), enquanto o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
foi de 120 vezes. O aumento da renda per capita foi superior a 13 vezes. Isto
quer dizer que um cidadão médio da atualidade recebe em um mês o que um
indivíduo médio do antigo regime, antes da Revolução Francesa, levava mais de
um ano para receber. Acompanhando o crescimento da renda, houve uma melhoria
nos indicadores sociais e políticos
Os gráficos acima, do site
“Our World in Data”, mostram 6 indicadores que refletem os avanços
sociodemográficos inquestionáveis, ocorridos desde o início do século XIX, nas
áreas de pobreza, saúde, educação e democracia.
O primeiro gráfico mostra as
estimativas da participação da população mundial em extrema pobreza. Em 1820,
apenas uma pequena elite gozava de padrões de vida mais elevados, enquanto a
grande maioria das pessoas vivia em condições que hoje se chamaria de pobreza
extrema. Os dados da pobreza extrema consideram os valores abaixo de US$ 1,90/dia.
Esses números consideram as
formas de renda não monetárias (no passado, isso era importante, principalmente
por causa da agricultura de subsistência). A medida da pobreza também é
corrigida para diferentes níveis de preços em diferentes países e ajustada
pelas mudanças de preços ao longo do tempo (inflação). A pobreza é medida no
chamado dólar internacional que explica esses ajustes. Em 1820, 94% da
população mundial estavam em situação de pobreza extrema e apenas 6% estavam
fora deste patamar crítico. Quase 200 anos depois, apenas 10% da população
mundial estavam em situação de pobreza extrema e 90% fora desta condição, em
2015.
O segundo gráfico mostra o
processo de democratização da educação e confirma que o sonho iluminista de
oferecer educação básica avançou incrivelmente nos últimos 200 anos. A escola
era acessível apenas por uma pequena elite. Em 1820 apenas 17% da população
mundial possuía educação básica ou mais, sendo que 83% não tinha nenhuma
educação formal. Em 2015, os números se inverteram e 86% da população mundial
tinha educação básica ou mais e apenas 17% não tinha nem educação básica. Foram
nos últimos dois séculos que a alfabetização tornou-se a norma para toda a
população.
O terceiro gráfico mostra que
88% da população mundial eram analfabeta em 1820 e este percentual caiu para
15% em 2014. Atualmente, há 5,4 bilhões de pessoas no mundo com mais de 15
anos, sendo 85% alfabetizados, o que representa 4,6 bilhões de pessoas. Em
1800, havia menos de 100 milhões de pessoas com a mesma habilidade. Só uma
educação em massa seria capaz de movimentar a ciência e a tecnologia, que se
bem aplicadas, poderiam resolver os problemas da humanidade.
Os gráficos sobre saúde
mostram que a vacinação em massa só começou na década de 1960 e a cobertura
chegou a 86% em 2015. Com o desenvolvimento de antibióticos e vacinas, o mundo
começou a ver por que a saúde pública é importante. Todos se beneficiariam se a
vacinação for universal e com todas as pessoas obedecendo às regras de higiene
pública.
Nos últimos 200 anos a
conquista mais espetacular foi a redução da mortalidade na infância (0 a 5
anos), que era de 43% (430 por mil) em 1820 e caiu para 4% (40 por mil) em
2015. Nos países desenvolvidos esta taxa está abaixo de 1% (10 por mil). Ou
seja, a mortalidade na infância caiu mais de 10 vezes em menos de dois séculos.
A sobrevivência das crianças é não só um direito humano básico, mas é
fundamental para o próprio bem-estar dos pais. Quanto a mortalidade de crianças
é alta, em geral, a mulher passa mais tempo tendo filhos e cuidando da
sobrevivência da prole.
A queda da mortalidade
possibilita a queda da fecundidade e libera a mulher para investir seu próprio
tempo em educação e na inserção do mercado de trabalho. Não só a mulher ganha,
mas toda a família e o país como um todo, pois haverá mais pessoas atuando em
nas atividades produtivas. A esperança de vida global que estava abaixo de 30
anos no início do século XIX ultrapassou 70 anos no início do século XXI.
O gráfico sobre democracia
mostra que em 1820, somente 1% da população mundial vivia sobre regimes
democráticos e este número passou para 56% em 2015. Embora seja difícil
classificar o grau de liberdade política dos países, não há dúvidas que o mundo
ficou mais democrático. Depois da Segunda Guerra Mundial, houve a queda dos
impérios coloniais e o processo de descolonização possibilitou que mais países
se tornassem democráticos.
O fim das ditaduras na
América Latina, o fim da União Soviética e o fim do Apartheid na África do Sul
são marcos da democratização global. A liberdade política e as liberdades civis
são essenciais para o desenvolvimento científico e tecnológico e para o avanço
cultural e o aumento do bem-estar das nações.
Evidentemente, existem muitos
direitos humanos que não foram alcançados e a desigualdade social é uma
realidade que não se pode ignorar. A pobreza extrema voltou a aumentar na
América Latina e a democracia recebeu reverses com a ascensão de líderes fortes
na Rússia, Turquia, Filipinas, China, etc. Há países em guerra civil que estão
retrocedendo em ritmo acelerado como a Síria, Venezuela, Iêmen, etc. O ritmo do
mundo moderno deixa as pessoas estressadas e a sensação de desesperança é
grande.
Mas, sem dúvida, os ideais
iluministas do século XVIII se materializaram em melhores condições de vida
para a humanidade ao longo dos últimos 200 anos. As pessoas vivem mais tempo,
com maior renda e com maior padrão de consumo. Nenhum Rei ou milionário do
início do século XX tinha acesso a vaso sanitário, luz elétrica, geladeira,
telefone, celular, Internet, etc., como tem hoje em dia a maioria da população
mundial. A fome e a pobreza ainda são uma realidade para boa parte dos
habitantes do globo, mas a proporção de pessoas vivendo na miséria nunca foi
tão baixa. O acesso à informação e à educação nunca foi tão alto.
Porém, não cabe ufanismos e
comemorações míopes, pois todo esse avanço das condições de vida da humanidade
ocorreu às custas do retrocesso das condições ambientais. Enquanto a humanidade
avançou, as demais espécies vivas do Planeta regrediram e os ecossistemas foram
degradados. O ser humano usou a riqueza ecossistêmica para usufruto próprio e
reduziu as condições ambientais para as futuras gerações.
Portanto, o extraordinário
avanço antrópico ocorrido nos últimos dois séculos pode não se repetir no
futuro e diversas conquistas que pareciam sólidas podem se desmanchar no ar,
pois sem ECOlogia não há ECOnomia. (ecodebate)
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