RIGOTTO (1998) explicitando o
que apropria como “assimetria” destaca que sob a cortina de um mundo
globalizado, de uma suposta “aldeia global” homogeneizada pela superação dos
limites do espaço e tempo, se esconde um processo estruturalmente assimétrico.
Ele designa papeis e limites específicos a cada segmento ou geografia, mediante
nova divisão internacional do trabalho, que aprofunda as desigualdades inter e
intranacionais.
Os países industrializados
passaram a ser exportadores de tecnologia cientifica e muitos “países
subdesenvolvidos” passaram a ser os “novos países industrializados”, num
processo desigual tanto do ponto de vista socioeconômico quanto ambiental, no
tocante à distribuição dos riscos ambientais e ocupacionais (RODRIGUES apud
SOBRAL, 1997).
O Brasil, como outros países
periféricos, está buscando seu ajuste a esta nova ordem mundial, de acordo com
suas possibilidades (BACELAR, 1997).
De fato, tendo como base
concreta a incorporação de inovações tecnológicas e organizacionais à esfera
produtiva, esta revolução abre possibilidades técnicas muito importantes, como
é a fantástica ampliação da comunicação humana em tempo real, representada hoje
pela internet.
Mas a questão é mais complexa
e precisa ser contemplada também por outros ângulos. A reestruturação produtiva
rompe com a hegemonia do Estado e a política de bem-estar do pós-guerra e afeta
o interior do processo produtivo, a divisão do trabalho, o mercado de trabalho,
o papel dos sindicatos, as negociações coletivas.
Tendem a prevalecer, até o
momento, os interesses de se rearranjar por maior competitividade, questionando
direitos e conquistas dos trabalhadores e das sociedades democráticas (MATTOSO,
1995).
Surgem, assim, novos
problemas para o mundo do trabalho como os efeitos sobre o nível e composição
dos empregos, sobre as qualificações requeridas ao trabalhador, o valor dos
salários e sua relação com a massa de lucro apropriada pelas empresas, as
condições de trabalho, a gestão e controle da mão de obra e as relações
sindicais (DIEESE, 1994).
Esta alteração produz o desemprego estrutural, resultante da desregulação da concorrência e dos mercados, da ausência de políticas macroeconômicas apropriadas, dos efeitos da globalização financeira sobre o investimento e o crescimento econômico (MATTOSO, 1995).
Esta alteração produz o desemprego estrutural, resultante da desregulação da concorrência e dos mercados, da ausência de políticas macroeconômicas apropriadas, dos efeitos da globalização financeira sobre o investimento e o crescimento econômico (MATTOSO, 1995).
Se consolida um brutal
aprofundamento da fragmentação da classe trabalhadora, que sofre retalhamento
em segmentos com perfis de vida muito diferenciados.
Parece, assim, que mais duas
características ou tendências devem ser acrescentadas à Reestruturação
Produtiva, pela forma como vem sendo conduzida em especial nos países
periféricos:
Ocorre a consolidação de
segmentos com pouca mobilidade entre si, com níveis de vida muito desiguais, ao
tempo em que, pela ampliação estrutural do desemprego, se condena parte
considerável da população à condição de desnecessária ao mercado de trabalho e
de consumo. São os excluídos.
Agravam-se os mecanismos
geradores de desigualdades entre os segmentos sociais, ao aprofundar o abismo
entre ricos e pobres. Em 1991, um “quinto mais rico da população do mundo
apropriava-se de 84,7% do PIB mundial, enquanto um quinto mais pobre estava
reduzido a 1,4%. Em 30 anos, a disparidade das rendas entre estes dois extremos
passou, de 30 por um, para 60 por um” (SACHS,1995).
Este quadro aponta para o
aumento da heterogeneidade no interior das macrorregiões, coexistindo áreas
dinâmicas e “integradas” com outras estagnadas (BACELAR, 1997).
A saúde humana é
profundamente marcada pela forma como se vive, no Brasil e no mundo. O processo
de globalização e de reestruturação produtiva é mediado pelas mudanças urbanas,
as transformações no processo de trabalho e a difusão ampliada dos riscos
industriais e ambientais. 0 modo de vida desenhado por este modelo redefine os
padrões de saúde-doença das populações:
“A incorporação de milhares
de novas substâncias químicas, o aumento das plantas industriais, dos volumes
produzidos e transportados e da aplicação de diversas formas de energia
trouxeram, indubitavelmente, a ampliação da grandeza e do alcance dos impactos
sócio ambientais das atividades humanas nas sociedades contemporâneas. Assim,
os padrões de produção e consumo passaram a definir, cada vez mais
profundamente, tanto o estado das águas, do ar, dos solos, da fauna e flora,
quanto as próprias condições da existência humana: seus espaços de moradia e de
trabalho, seus fluxos migratórios, as situações de saúde e de morte.” (FRANCO e
DRUCK,1997 p.25)
Estas autoras apontam que,
nos espaços urbano-industriais, que hoje concentram mais de dois terços da
população, rompem-se as fronteiras entre o ambiente intra e extra-fabril, como
demonstram os acidentes industriais de grande porte.
Os riscos gerados na
atividade produtiva expandem seu raio de ação, se movimentam pelo espaço
geográfico por meio de dutovias e outros meios de transporte, ampliando a
população a eles exposta. A biotecnologia e novos materiais geram novos meios
de agressão aos mecanismos de regulação da biosfera e lesam os organismos
humanos com efeitos cumulativos que podem resultar em mutagênese, teratogênese,
carcinogênese (FRANCO e DRUCK, 1997).
Por outro lado, as doenças
infectocontagiosas emergentes e as reemergentes, como a tuberculose, a dengue e
a cólera se associam às doenças crônico-degenerativas e ao crescimento das
causas externas, como a violência, os acidentes de trânsito e de trabalho e as
intoxicações de origem ambiental ou ocupacional. É o registro, no corpo das
pessoas, da perversa sobreposição de padrões de pobreza e miséria aos padrões
“modernos” de desgaste da saúde (MINAYO, 1995).
Retrocesso nas políticas
sociais, como tem sido visto na questão da previdência social ou do
financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), com sérios impactos sobre a
qualidade da atenção prestada à saúde da população.
Ocorre tendência à “privatização” do controle ambiental, relegado às leis do mercado e à iniciativa privada, sem participação do Estado ou da sociedade civil, como no caso dos sistemas de certificação ISO 14000 e 9000 (SOBRAL, 1997; VILELA & IGUTI, 1997).
Também ocorre tendência ao crescimento da violência, pelo agravamento da questão social, com os seus reflexos sobre o perfil de morbi-mortalidade da população com assaltos, homicídios, dependência de drogas, gangues urbanas, delinquência juvenil e acidentes de trânsito.
Ocorre tendência à “privatização” do controle ambiental, relegado às leis do mercado e à iniciativa privada, sem participação do Estado ou da sociedade civil, como no caso dos sistemas de certificação ISO 14000 e 9000 (SOBRAL, 1997; VILELA & IGUTI, 1997).
Também ocorre tendência ao crescimento da violência, pelo agravamento da questão social, com os seus reflexos sobre o perfil de morbi-mortalidade da população com assaltos, homicídios, dependência de drogas, gangues urbanas, delinquência juvenil e acidentes de trânsito.
Com a introdução de inovações
tecnológicas e, em especial, de novas formas de organizar o trabalho, surge a
exigência de um novo perfil do trabalhador. O saber já possuído por ele não
interessa mais, há demanda de aquisição permanente de novos conhecimentos,
somada à exigência de polivalência.
RIGOTTO (1998) indica que o
medo da demissão assola os trabalhadores e gera profunda insegurança quanto ao
futuro. Ele sobrepõe-se à preocupação permanente em “garantir-se” no emprego,
num clima de “salve-se quem puder” que deteriora as relações humanas no
trabalho e submete os trabalhadores a um cotidiano estressante.
Tendência à redução da
jornada de trabalho, com repercussões sobre tempo de lazer, convivência
familiar e social, hábitos culturais.
Possibilidade de reflexo
sobre o perfil de morbimortalidade: acentuar tendência já verificável de aumento
das doenças mentais, psicossomáticas, cardiovasculares e crônico-degenerativas.
Não seria correto cair no
determinismo tecnológico e execrar as novas tecnologias como os demônios
responsáveis por nossos males. Os impactos das tecnologias dependem das
políticas sociais que acompanham sua implantação (NEVES, 1991).
A vida torna-se uma
fatalidade. “A do desemprego, da marginalidade opressiva, da solidão, da
ociosidade, da angústia, da neurose, ou a da cultura, da criação, da pesquisa,
da reinvenção do meio ambiente, do enriquecimento dos modos de vida e de
sensibilidade” (GUATTARI, 1990).
Outro mundo é possível. Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoise sistêmica para o arranjo social, é urgente. Como está explicitamente mais do que demonstrado. (ecodebate)
Outro mundo é possível. Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoise sistêmica para o arranjo social, é urgente. Como está explicitamente mais do que demonstrado. (ecodebate)
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