sexta-feira, 27 de abril de 2018

A superpopulação é mito?

“É sempre bom lembrar, que o copo vazio, está cheio de ar” - Copo Vazio, de Chico Buarque.
Superpopulação é mito? Com essa pergunta o youtuber Pirula tenta responder a outra pergunta: Será que ocupamos apenas 3% da superfície do planeta?
O vídeo que Pirula disponibiliza no Youtube traz uma mensagem bastante simples e útil para mostra de forma didática como o globo está ocupado pelas atividades antrópicas. Ele explica que realmente as manchas urbanas ocupam apenas 3% da área habitável do Planeta. Mas, evidentemente, a humanidade não vive apenas dos recursos fornecidos pelas áreas das cidades.
Pirula mostra que a produção de alimentos ocupa 40% da área terrestre do Planeta. Mas os outros 57% dos continentes estão divididos em cerca de 20% de desertos, áreas geladas da Antártica, do Ártico, da Groenlândia, florestas, pântanos, etc. Ou seja, é ilusório pensar que a humanidade poderia ocupar 100% da superfície da Terra e que haveria espaço de sobra para a expansão humana.
Há seis anos, escrevi dois artigos tratando do mesmo assunto. No primeiro artigo “A população do mundo cabe na cidade de São Paulo?”, tentei mostrar que de fato São Paulo poderia abrigar toda a população mundial, mas apenas se colocarmos, teoricamente, 5 pessoas em pé em todos os metros quadrados da cidade. Mas evidentemente isto só seria possível se houvesse uma grande terraplanagem para eliminar toda a vegetação, as águas e os declives dos diversos terrenos (ou uma verticalização exponencial). Além disto, ninguém poderia se deitar para dormir, nem ir ao banheiro e todo mundo precisaria viver de brisa.
Ou seja, mesmo que coubesse, seria inviável colocar toda a população mundial em São Paulo. Primeiro porque cada pessoa precisa de uma cama para dormir, se possível um quarto, no mínimo, poderia compartilhar um banheiro, uma cozinha, uma sala, uma dispensa, etc. Ou seja, as pessoas precisam de moradia e toda construção ocupa espaço. Os indivíduos também precisam de escola, hospitais, mercadinhos ou supermercados, farmácias, lojas diversas, áreas de lazer, ruas, estradas, etc. Ainda tem a energia proveniente das refinarias, do carvão, dos lagos das hidrelétricas, dos insumos agrícolas para o biocombustível, etc. Portanto, o impacto das atividades antrópicas vai muito além do espaço urbano, mesmo que se adotasse uma grande verticalização.
No segundo artigo “Territórios vazios?”, tentei mostrar que um país não é feito só de gente, mas sim de toda uma riqueza natural e biológica. Os demais seres vivos deveriam ter direito à vida, mesmo porque nenhuma espécie consegue viver sozinha e a maioria das espécies da flora e fauna brasileira estão aqui no território brasileiro antes da chegada dos seres humanos. A humanidade vive em uma comunidade biótica e sem biodiversidade haveria um holocausto biológico que levaria ao colapso qualquer civilização. O ecocídio é também um suicídio.
Como mostrou Ron Patterson “Há 10.000 anos os seres humanos e seus animais representavam menos de um décimo de um por cento da biomassa dos vertebrados da terra. Agora, eles são 97 por cento”. Ao invés do crescimento populacional e da expansão da pegada civilizacional o que o mundo precisa é de reselvagerizar os territórios nacionais, preservando metade do Planeta para a vida selvagem (Alves, 2014).
Portanto, é sempre bom lembrar que o território vazio (de humanos) está, em geral, cheio de vida não humana. A economia é um subsistema da ecologia. Não é possível manter a sustentabilidade do Planeta com uma população humana crescendo indefinidamente, enquanto promove a 6ª extinção em massa das espécies. Só não haveria superpopulação humana se, ao mesmo tempo, fosse possível manter a população das demais espécies vivas da Terra.
A superpopulação e o superconsumo estão fazendo a Terra perder plantas, animais e água limpa em um ritmo alarmante. Quatro relatórios sobre a biodiversidade, divulgados pela ONU (em 23/03/2018), mostram que nenhuma região do planeta está em boas condições e que a tendência à destruição é causada, fundamentalmente, pela atividade humana. Durante três anos, mais de 500 especialistas de mais de 100 países, reunidos na Plataforma Intergovernamental sobre Serviços de Ecossistemas e da Biodiversidade (IPBES), analisaram o estado da fauna e flora no mundo e constaram: “A biodiversidade, a variedade essencial de formas de vida na terra, continua a diminuir em todas as regiões do mundo em ritmo alarmante”.
De acordo com o relatório, apenas 25% da superfície terrestre permanece livre de impactos substanciais causados por atividades humanas. E o índice deve cair para meros 10% até 2050, segundo a IPBES. Apenas algumas regiões nos polos, desertos e as partes mais inacessíveis das florestas tropicais permanecem intactas. Até o ano de 2014, mais de 1,5 bilhão de hectares de ecossistemas naturais foram convertidos em áreas agrícolas. Plantações e pastagens cobrem atualmente mais de um terço da superfície do planeta. Os processos mais recentes de desmatamento estão ocorrendo nas regiões do globo mais ricas em biodiversidade. A expansão não sustentável de áreas dedicadas à agricultura e à pecuária é apontada no relatório como uma das principais causas do problema, que tende a se agravar com a crescente demanda por alimentos e biocombustíveis. O uso de pesticidas e fertilizantes deve dobrar até 2050, agravando o processo de eutrofização.
Um evento real e simbólico da perda de biodiversidade, por exemplo, foi a morte do último rinoceronte-branco do norte macho, chamado Sudan, no Quênia aos 45 anos. Quando Sudan nasceu em 1973, em Shambe, no Sudão do Sul, havia quase 700 exemplares vivos. Em tese, a morte de Sudan significa a extinção dessa subespécie de rinoceronte.
Portanto, como mostrou Pirula, a superpopulação não é mito. Superpopulação e superconsumo é uma realidade arrasadora do meio ambiente no Antropoceno. Triste realidade que está provocando a 6ª extinção em massa das espécies. Não são apenas os grandes mamíferos que estão desaparecendo, também os insetos. Estudo publicado na revista científica Plos One (18/10/2017) revela queda de 75% no número de insetos voadores na Alemanha (Insectageddon). Os dados foram obtidos em áreas protegidas do país, mas o resultado têm implicações para todas as regiões onde a paisagem é dominada pela agricultura. De acordo com os autores da pesquisa, a constatação é preocupante, já que os insetos têm um papel crucial no funcionamento dos ecossistemas, polinizando 80% das plantas e fornecendo alimento para 60% das aves.
A Terra é finita e o crescimento da população, junto a sua insaciável gula por todos os tipos de alimentos e sua ambição por acumulação de consumo conspícuo, tem provocado um holocausto biológico. A humanidade precisa deixar de ser egoísta e reconhecer que as demais espécies vivas do Planeta também têm direito à vida e à liberdade. (ecodebate)

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