Mudanças climáticas colocam em risco metade das
espécies de plantas e animais dos locais naturais mais importantes do mundo.
Amazônia,
Floresta do Miombo na África e o Sudoeste da Austrália serão os lugares mais
afetados do mundo, de acordo com um novo relatório encomendado pelo WWF.
Tartaruga-oliva, Costa Rica.
Até
a metade das espécies de plantas e animais nas áreas mais naturais do mundo, como
a Amazônia e a Galápagos, podem enfrentar a extinção local até a virada do
século devido às mudanças climáticas caso as emissões de carbono continuem a
subir sem controle. Mesmo que o objetivo de 2°C do Acordo de Clima de Paris for
atingido, esses locais poderiam perder 25% de suas espécies de acordo com
um novo estudo histórico da
Universidade de East Anglia, da Universidade James Cook e do WWF.
A
dez dias da Hora do Planeta, o maior movimento global para o meio ambiente, os
pesquisadores examinaram o impacto das mudanças climáticas em quase 80 mil
espécies de plantas e animais em 35 das áreas mais diversas e naturalmente
ricas em vida selvagem do mundo. O documento explora uma série de diferentes
cenários futuros de mudanças climáticas – desde um cenário em que não haja
cortes adicionais de emissões, em que a temperatura média global aumente em
4,5°C, até um aumento de 2°C, o máximo estabelecido no Acordo de Paris. Cada
área foi escolhida por sua singularidade e a variedade de plantas e animais
encontrados.
Cachorros-selvagens
africanos.
O
relatório conclui que as florestas do Miombo, que abriga os cachorros selvagens
africanos, o sudoeste da Austrália e as Guianas da Amazônia, são as áreas mais
afetadas. Se houvesse um aumento médio global da temperatura de 4,5°C, os
climas nessas áreas deverão se tornar inadequados para muitas plantas e animais
que atualmente vivem ali. Isso significa:
•
Até 90% dos anfíbios, 86% das aves e 80% dos mamíferos poderiam ser extintos
localmente nas florestas de Miombo, África do Sul
•
A Amazônia pode perder 69% das suas espécies de plantas
•
No sudoeste da Austrália, 89% dos anfíbios podem se tornar extintos localmente
• 60%
de todas as espécies estão em risco de extinção localizada em Madagascar
•
Os fynbos na região de Cabo Ocidental da África do Sul, que está sofrendo uma
seca que levou à escassez de água na Cidade do Cabo, podem enfrentar extinções
localizadas de um terço de suas espécies, muitas das quais são exclusivas dessa
região.
Além
disso, o aumento das temperaturas médias e a menor precipitação podem se tornar
o “novo normal” de acordo com o relatório – com chuvas significativamente
menores no Mediterrâneo, Madagascar e no Cerrado-Pantanal. Os efeitos
potenciais incluem;
•
Pressão sobre o abastecimento de água dos elefantes africanos – que precisam
beber 150-300 litros de água por dia
•
96% das áreas de reprodução dos tigres de Sundarbans podem ficar submersas pelo
aumento do nível do mar
•
Comparativamente, haverá menos tartarugas marinhas macho devido à atribuição de
sexo induzida pela temperatura de ovos.
Elefantes
africanos.
Se
as espécies puderem se mover livremente para novos locais, o risco de extinção
local diminui de cerca de 25% para 20% com aumento de temperatura médio global
de 2 ° C. Se as espécies não puderem, podem não poder sobreviver. A maioria das
plantas, anfíbios e répteis, como orquídeas, sapos e lagartos não podem se
mover rapidamente o suficiente para acompanhar essas mudanças climáticas.
O
pesquisador principal, Prof. Rachel Warren, do Centro Tyndall de Pesquisa sobre
Mudanças Climáticas da UEA, disse: “Nossa pesquisa quantifica os benefícios de
limitar o aquecimento global a 2°C para espécies em 35 das áreas mais ricas em
vida selvagem do mundo. Estudamos 80 mil espécies de plantas, mamíferos, aves,
répteis e anfíbios e descobrimos que 50% das espécies poderiam ser perdidas
nessas áreas sem política climática. No entanto, se o aquecimento global for
limitado a 2°C acima dos níveis pré-industriais, isso poderá ser reduzido para
25%. Limitar o aquecimento até 1,5°C não foi explorado, mas seria esperado
proteger ainda mais animais selvagens”.
Em
geral, a pesquisa mostra que a melhor maneira de proteger contra a perda de
espécies é mantendo o aumento da temperatura global o mais baixo possível. Os
compromissos do Acordo de Paris, feitos por países, reduzem o nível esperado de
aquecimento global de 4,5°C para cerca de 3°C, o que reduz os impactos. Porém,
há melhorias ainda maiores a 2°C – e é provável que o limite de aumento da
temperatura em 1,5°C proteja mais animais selvagens.
É
por isso que, no dia 24 de março, milhões de pessoas em todo o mundo se
reunirão para a Hora do Planeta, para demonstrar seu compromisso de proteger a
biodiversidade e ser parte das conversas e soluções necessárias para construir
um futuro saudável e sustentável – e para todos. De acordo com a CEO da WWF-UK,
Tanya Steele, a mobilização global provocada pela Hora do Planeta também envia
uma mensagem clara às empresas e ao governo de que existe uma vontade global de
mudar essa trajetória.
“Dentro
da vida de nossos filhos, lugares como as Ilhas Amazônicas e Galápagos podem
tornar-se irreconhecíveis, com a metade das espécies que vivem lá, destruídas
pelas mudanças climáticas causadas pelo homem. É por isso que esta Hora do
Planeta pedimos a todos que façam uma promessa para o planeta e que façam as
mudanças diárias para proteger nosso planeta”.
Orquídea,
Brasil.
Impactos no Brasil
Para
o diretor-executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, a pesquisa é importante
porque traduz de forma direta quais são os impactos do aquecimento global na
nossa biodiversidade. Um exemplo é a diminuição de espécies na Amazônia, cuja
extinção poderia levar consigo várias soluções medicinais ainda
não-descobertas. Além disso, Voivodic ressalta a urgência de trabalharmos as
questões relativas às mudanças climáticas.
“Os
dados do estudo são alarmantes e as consequências estão cada vez mais próximas.
Para garantir a sobrevivência das espécies, é fundamental diminuirmos as
emissões globais, com mais ambição nas metas do Acordo de Paris, reduzirmos a
pressão sobre as florestas, além de aumentarmos as áreas de proteção ambiental
e de conectividade entre elas. Sem isso, a biodiversidade está em risco e a
nossa qualidade de vida também”, comenta o diretor-executivo. (ecodebate)
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