O transporte de cargas no
Brasil emitiu em 2016 quatro vezes mais gases de efeito estufa do que a Noruega
emite anualmente. Apenas os caminhões lançaram no ar 84,5 milhões de toneladas
de CO2 equivalente*, mais do que todas as termelétricas fósseis em
operação no país (54,2 milhões de toneladas).
Os caminhões lançaram 84,5
toneladas de CO2 equivalente, mais do que todas as termelétricas
fósseis em operação no país.
Os dados são de uma nova
análise das emissões do setor de energia do SEEG (Sistema de Estimativas de
Emissões de Gases de Efeito Estufa), publicada em 13/06/18 pelo Observatório do
Clima. O relatório mostra que a frota de caminhões foi o principal emissor de
poluentes climáticos do setor de energia no Brasil naquele ano, o mais recente
para o qual há dados disponíveis. E indica como será difícil descarbonizar esse
segmento da economia, em especial após a greve dos caminhoneiros, que resultou
num aumento do subsídio ao óleo diesel.
Transporte de cargas no Brasil
é campeão em emissões.
Em 2016, o setor de energia
emitiu 423,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente, ou 19% do
total nacional. São as emissões causadas pela queima de combustíveis fósseis,
em especial petróleo e derivados – que respondem por 70% do total emitido.
Diferentemente de outros países, nos quais o carvão para geração de
eletricidade é a fonte mais importante de poluição climática, no Brasil o
principal usuário de combustíveis fósseis é o transporte, em especial o
rodoviário: são 204 milhões de toneladas emitidas nesse segmento, divididas
igualmente entre carga e passageiros (102 milhões de toneladas cada).
A necessidade de
descarbonizar a matriz de transportes esbarra na grande dependência que o país
tem do modal rodoviário como opção para transportar cargas. Dos seis países com
maior extensão territorial do mundo, o Brasil é o que mais usa caminhões (65%
da carga transportada, contra 53% na Austrália, o segundo colocado, e apenas 8%
na Rússia). Segundo o Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), responsável
pelas estimativas de emissões do setor de energia no SEEG, esse predomínio deve
se manter pelo futuro previsível do planejamento governamental.
É possível reduzir as
emissões no setor através da transferência de parte do transporte regional de
cargas para modos menos intensivos em carbono, como o ferroviário e o
aquaviário. Aumentar a eficiência energética dos caminhões ou encontrar fontes
de energia alternativas que possam movê-los é outras estratégias. Mas todas têm
limitações.
“A greve dos caminhoneiros escancarou a enorme
dependência que o Brasil tem do óleo diesel”, diz André Ferreira,
diretor-presidente do Iema e coautor do relatório, juntamente com David Tsai,
Marcelo Cremer, Munir Soares e Felipe Barcellos e Silva. “É preciso pensar em
soluções como a eletrificação da logística, que reduzam essa dependência, mas
sem aumentar os custos do transporte de cargas.”
O transporte de cargas no
Brasil emitiu em 2016 quatro vezes mais gases de efeito estufa do que a Noruega
emite anualmente.
Crise
O relatório analítico do SEEG
também mostra que as emissões do setor de energia sofreram uma redução de 7,3%
em 2016 em relação ao ano anterior. Isso se deveu à recessão, que impactou a
indústria e o transporte de cargas, à recuperação parcial dos reservatórios das
hidrelétricas – que permitiu desligar termelétricas fósseis que vinham sendo
acionadas para fazer frente à estiagem –, ao aumento do uso de etanol no
transporte de passageiros e à expansão das usinas eólicas.
O documento engloba, além do
setor de energia, o de processos industriais e uso de produtos. Ele integra a
série de cinco documentos de análise que todo ano são publicados alguns meses
após o lançamento dos dados do SEEG. Nas próximas semanas serão lançados o
relatório analítico do setor de agropecuária e um documento-síntese com
recomendações para a governança climática do Brasil. (biodieselbr)
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