domingo, 19 de agosto de 2018

Mundo deve ter onda de calor a cada dois anos

Países como Canadá e Japão foram assolados por temperaturas elevadas recentemente, as quais deixaram dezenas de mortos. A tendência é o mundo seguir esquentando, com consequências dramáticas, alertam especialistas.
Especialistas apontam ligação entre aquecimento global e incêndios florestais.
Quase todo mundo adora os dias ensolarados e gosta de reclamar quando chove. No entanto, o céu azul e o brilho do sol do verão no Hemisfério Norte ocultam o fato nada agradável de que, em todo o globo, as temperaturas máximas alcançaram um nível preocupante. As consequências são incêndios florestais, safras destruídas e a morte de muitas pessoas.
O ano de 2016 acusou as temperaturas mais elevadas desde as primeiras medições. A culpa foi uma combinação do evento climático El Niño com o aquecimento global. Embora em 2018 se vivencie o fenômeno contrário, La Niña, que faz baixarem as temperaturas, este foi o junho mais quente já registrado, o que indica uma onda de calor.
Tecnicamente, uma onda de calor é quando em pelo menos cinco dias seguidos as temperaturas ultrapassam as médias em 5ºC ou mais. Dias extremamente quentes isolados, por sua vez, não são atribuídos a uma onda de calor ou ao aquecimento global.
Segundo a porta-voz da Organização Mundial de Meteorologia Clare Nullis, "a tendência é continuarmos tendo ondas de calor extremas, como consequência das mudanças climáticas".
Para os habitantes do sul da Europa, 30ºC no verão não são nada demais. Para alguém do Reino Unido ou da Irlanda, em contrapartida, isso é mais do que fora do comum, pois lá as temperaturas em junho normalmente mal ultrapassam os 20ºC.
Em 28 de junho de 2018, os termômetros marcaram 31,9ºC em Glasgow, na Escócia. Em Shannon, na Irlanda, eles chegaram aos 32ºC, estabelecendo um novo recorde.
Os alemães, por sua vez, já se acostumaram a mais de 30ºC em maio e junho, e em parte até gostam do calor. Na Geórgia, por outro lado, mediu-se em junho o recorde absoluto de 40,5ºC. Em Ouargla, cidade saariana na Argélia, registraram-se incríveis 51,3ºC.
Montreal, no Canadá, acusou no início de julho suas maiores máximas em 147 anos. A onda de calor custou a vida a mais de 70 pessoas, sobretudo devido a problemas circulatórios; da mesma forma que a 14 no Japão, onde mais de 2 mil tiveram que ser hospitalizadas.
Do sono a insetos
Em face do atual cenário de mudança climática global, ondas de calor deverão ocorrer "a cada dois anos, na segunda metade do século 21", prediz Vladimir Kendrovski, responsável pelo Departamento de Mudança Climática e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Nas últimas décadas, a onda de calor na Europa causou mais mortes do que qualquer outro fenômeno meteorológico extremo". A razão para tal é que, sob certas condições, as temperaturas altas resultam em "smog veranil", agravando afecções circulatórias e respiratórias, enquanto o pólen no ar provoca ataques de asma mais frequentes.
Assista ao vídeo sobre os “Incêndios florestais castigam a Suécia”
O calor igualmente perturba o sono. Então, embora o corpo precise se recuperar urgentemente do estresse adicional, não consegue fazê-lo nem durante a noite. "Crianças pequenas e idosos são os que mais sofrem", explica Simone Sandholz, do Instituto Universitário de Meio Ambiente e Segurança Humana das Nações Unidas.
A maioria das vítimas das ondas de calor "vive em cidades densamente habitadas, com pouca ventilação", complementa Sandholz. Segundo Nullis, a combinação de calor e umidade revela-se especialmente fatal.
Até mesmo o cérebro deixa de funcionar devidamente, se o tempo é quente demais, podendo perder até 10% de sua velocidade. Uma pesquisa realizada em escolas de Nova York concluiu que, devido ao calor, 90 mil alunos talvez tenham fracassado em exames em que normalmente passariam.
O clima quente igualmente oferece condições perfeitas à reprodução de vespas e outros insetos agressivos. Na Inglaterra, as chamadas de emergência devido a picadas de insetos quase duplicaram em julho.
No entanto, bem mais perigoso do que os que provocam um doloroso calombo são os mosquitos, como potenciais transmissores de malária, dengue e outras doenças infecciosas. Kendrovski, da OMS, está seguro da correlação entre as mudanças climáticas e as moléstias transmitidas por esses vetores.
Florestas e colheitas destruídas
Incêndios florestais são outra consequência do sol ardente. Só no Reino Unido, Suécia e Rússia, 80 mil hectares de florestas foram devastados devido a fenômenos meteorológicos extremos.
Campos cultivados também secam e até pegam fogo. No Reino Unido, os fazendeiros estão tendo dificuldade de cobrir a demanda de verduras frescas e ervilhas, devido às safras insuficientes ou mesmo ausentes. Em menor escala, plantações de trigo, repolho e brócolis estão ameaçadas.
Na Alemanha, os agricultores já se acostumaram com a ideia de que a safra de cereais será muito inferior à dos anos anteriores.
"Novamente vamos ter uma colheita muito abaixo da média", queixa-se Joachim Rukwied, presidente da Federação dos Agricultores Alemães (DVB). Ele revela que alguns fazendeiros consideram sequer fazer a colheita, mas sim destruí-la logo, já que o trabalho envolvido não compensaria.
Adaptação e urbanismo
Com tais temperaturas, o acesso a condicionadores de ar e refrigeradores parece ser um fator de grande importância. No entanto ele também tem seu lado negativo, uma vez que a eletricidade consumida por esses sistemas provém sobretudo de fontes fósseis. Portanto, quanto mais se refrigera, mais se contribui para a mudança climática e mais as temperaturas sobem, formando-se um círculo vicioso.
Em termos de combate aos efeitos da mudança do clima global, Kendrovski ressalta que "se o sistema de saúde fosse mais bem adaptado aos sistemas meteorológicos, seria possível evitar muitos problemas de saúde causados pela onda de calor".
Lançando o apelo "Não devemos subestimar o calor", Sandholz, por sua vez, prefere apostar no planejamento urbano: parques ou corredores de vento poderiam minorar o efeito das altas temperaturas sobre as cidades, defende a funcionária da ONU.
Estiagem muda paisagem na Alemanha.
Apelo de prefeituras
A falta de chuva neste verão na Alemanha está mudando a paisagem, tanto urbana quanto rural. Em algumas cidades, a grama dos parques está amarelada, e as árvores, ameaçadas. Algumas prefeituras inclusive estão apelando para que os moradores ajudem a regar locais públicos.
Seca incomum
Enquanto em algumas áreas isoladas chuvas torrenciais provocaram destruição, no nordeste da Alemanha quase não choveu nos últimos meses. O Serviço Alemão de Meteorologia informa que o estado de Saxônia-Anhalt teve 15 litros de chuva por m2, cerca de um quarto da média. Em toda a Alemanha, caíram apenas 50 litros de chuva por m2, metade do valor normal.
Alerta de incêndio
O perigo de incêndios florestais é extremamente alto em todo o país. A ameaça maior é no estado de Brandemburgo, onde já houve mais de 100 focos de fogo nas últimas semanas. As autoridades informaram que 90% dos incêndios foram causados ​​por humanos. Na foto, uma placa adverte para o alto risco de incêndio em Bad Düben, na Saxônia.
Estresse para bombeiros
Quarenta bombeiros levaram 13 horas para debelar o fogo em campo de cereais em Brandemburgo. Em Rostock (foto), um incêndio foi causado por um pássaro. A polícia disse que o animal provocou um curto-circuito num cabo de eletricidade, que então incendiou um campo próximo.
Falta de água
O grande número de incêndios causou escassez de água, e os bombeiros de Saxônia-Anhalt tiveram de ser criativos na busca por novos recursos. Esta guarnição acabou abastecendo o caminhão em uma piscina.
Colheita antecipada
O clima excepcionalmente seco obrigou muitos agricultores a colher bem mais cedo. Segundo a Associação Alemã de Agricultores, até abril estava muito quente e seco. Por isso, o trigo amadureceu muito mais rápido do que o esperado. Mas a falta de chuva causou um baixo rendimento, e, ao mesmo tempo, chuvas torrenciais repentinas causaram destruição nas plantações.
Agricultores temem consequências financeiras
Batatas, beterraba e milho geralmente são colhidos no outono na Europa, por se tratarem de plantas que exigem muito mais água do que trigo e colza. Devido à seca, os pés de milho estão sofrendo. O presidente da Associação Alemã de Agricultores, Joachim Rukwied, adverte que a estiagem causará problemas financeiros a muitos produtores.
Estiagem nos campos
Os animais criados soltos são atingidos não só pela água escassa, mas pela falta de pasto verde, como na foto, perto de Schönebeck, no leste alemão. Os campos, normalmente verdes e exuberantes, estão tão secos que se assemelham a uma paisagem de estepe.
Rios baixos
A falta de chuva traz consequências também para o transporte fluvial. No Reno e em outros rios, navios de carga não podem mais transitar com carga total. Na foto, o rio Oder, na fronteira entre Alemanha e Polônia, está tão baixo que mostra seus bancos de areia.
Sequelas do aquecimento global
A pouca chuva que caiu nos últimos meses foi distribuída de forma muito irregular. Enquanto o serviço alemão de meteorologia adverte que nesta semana a temperatura no país pode atingir os 37ºC, em áreas isoladas, chuvas torrenciais vêm causando alagamentos e destruição, como neste domingo no circuito de Hockenheim, onde um túnel sob a pista de Fórmula 1 foi inundado. (dw)

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