Países como Canadá e Japão
foram assolados por temperaturas elevadas recentemente, as quais deixaram
dezenas de mortos. A tendência é o mundo seguir esquentando, com consequências
dramáticas, alertam especialistas.
Especialistas apontam ligação
entre aquecimento global e incêndios florestais.
Quase todo mundo adora
os dias ensolarados e gosta de reclamar quando chove. No entanto, o céu azul e
o brilho do sol do verão no Hemisfério Norte ocultam o fato nada agradável de
que, em todo o globo, as temperaturas máximas alcançaram um nível preocupante.
As consequências são incêndios florestais, safras destruídas e a morte de
muitas pessoas.
O ano de 2016 acusou as
temperaturas mais elevadas desde as primeiras medições. A culpa foi uma
combinação do evento climático El Niño com o aquecimento global. Embora em 2018
se vivencie o fenômeno contrário, La Niña, que faz baixarem as temperaturas,
este foi o junho mais quente já registrado, o que indica uma onda de
calor.
Tecnicamente, uma onda de
calor é quando em pelo menos cinco dias seguidos as temperaturas ultrapassam as
médias em 5ºC ou mais. Dias extremamente quentes isolados, por sua vez, não são
atribuídos a uma onda de calor ou ao aquecimento global.
Segundo a porta-voz da
Organização Mundial de Meteorologia Clare Nullis, "a tendência é
continuarmos tendo ondas de calor extremas, como consequência das mudanças
climáticas".
Para os habitantes do sul da
Europa, 30ºC no verão não são nada demais. Para alguém do Reino Unido ou da
Irlanda, em contrapartida, isso é mais do que fora do comum, pois lá as
temperaturas em junho normalmente mal ultrapassam os 20ºC.
Em 28 de junho de 2018, os
termômetros marcaram 31,9ºC em Glasgow, na Escócia. Em Shannon, na Irlanda,
eles chegaram aos 32ºC, estabelecendo um novo recorde.
Os alemães, por sua vez, já
se acostumaram a mais de 30ºC em maio e junho, e em parte até gostam do calor.
Na Geórgia, por outro lado, mediu-se em junho o recorde absoluto de 40,5ºC. Em
Ouargla, cidade saariana na Argélia, registraram-se incríveis 51,3ºC.
Montreal, no Canadá, acusou
no início de julho suas maiores máximas em 147 anos. A onda de calor custou a
vida a mais de 70 pessoas, sobretudo devido a problemas circulatórios; da mesma
forma que a 14 no Japão, onde mais de 2 mil tiveram que ser
hospitalizadas.
Do sono a insetos
Em face do atual cenário de
mudança climática global, ondas de calor deverão ocorrer "a cada dois
anos, na segunda metade do século 21", prediz Vladimir Kendrovski,
responsável pelo Departamento de Mudança Climática e Saúde da Organização
Mundial da Saúde (OMS).
"Nas últimas décadas, a
onda de calor na Europa causou mais mortes do que qualquer outro fenômeno
meteorológico extremo". A razão para tal é que, sob certas condições, as
temperaturas altas resultam em "smog veranil", agravando afecções
circulatórias e respiratórias, enquanto o pólen no ar provoca ataques de asma
mais frequentes.
Assista ao vídeo sobre os “Incêndios
florestais castigam a Suécia”
O calor igualmente perturba o
sono. Então, embora o corpo precise se recuperar urgentemente do estresse
adicional, não consegue fazê-lo nem durante a noite. "Crianças pequenas e
idosos são os que mais sofrem", explica Simone Sandholz, do Instituto
Universitário de Meio Ambiente e Segurança Humana das Nações Unidas.
A maioria das vítimas das
ondas de calor "vive em cidades densamente habitadas, com pouca
ventilação", complementa Sandholz. Segundo Nullis, a combinação de calor e
umidade revela-se especialmente fatal.
Até mesmo o cérebro deixa de
funcionar devidamente, se o tempo é quente demais, podendo perder até 10% de
sua velocidade. Uma pesquisa realizada em escolas de Nova York concluiu que,
devido ao calor, 90 mil alunos talvez tenham fracassado em exames em que
normalmente passariam.
O clima quente igualmente
oferece condições perfeitas à reprodução de vespas e outros insetos agressivos.
Na Inglaterra, as chamadas de emergência devido a picadas de insetos quase
duplicaram em julho.
No entanto, bem mais perigoso
do que os que provocam um doloroso calombo são os mosquitos, como potenciais
transmissores de malária, dengue e outras doenças infecciosas. Kendrovski, da
OMS, está seguro da correlação entre as mudanças climáticas e as moléstias
transmitidas por esses vetores.
Florestas e colheitas destruídas
Incêndios florestais são
outra consequência do sol ardente. Só no Reino Unido, Suécia e Rússia,
80 mil hectares de florestas foram devastados devido a fenômenos
meteorológicos extremos.
Campos cultivados também
secam e até pegam fogo. No Reino Unido, os fazendeiros estão tendo dificuldade
de cobrir a demanda de verduras frescas e ervilhas, devido às safras
insuficientes ou mesmo ausentes. Em menor escala, plantações de trigo, repolho
e brócolis estão ameaçadas.
Na Alemanha, os agricultores
já se acostumaram com a ideia de que a safra de cereais será muito inferior à
dos anos anteriores.
"Novamente vamos ter uma
colheita muito abaixo da média", queixa-se Joachim Rukwied, presidente da
Federação dos Agricultores Alemães (DVB). Ele revela que alguns fazendeiros
consideram sequer fazer a colheita, mas sim destruí-la logo, já que o trabalho
envolvido não compensaria.
Adaptação e urbanismo
Com tais temperaturas, o
acesso a condicionadores de ar e refrigeradores parece ser um fator de grande
importância. No entanto ele também
tem seu lado negativo, uma vez que a eletricidade consumida por
esses sistemas provém sobretudo de fontes fósseis. Portanto, quanto mais se
refrigera, mais se contribui para a mudança climática e mais as temperaturas
sobem, formando-se um círculo vicioso.
Em termos de combate aos
efeitos da mudança do clima global, Kendrovski ressalta que "se o sistema
de saúde fosse mais bem adaptado aos sistemas meteorológicos, seria possível
evitar muitos problemas de saúde causados pela onda de calor".
Lançando o apelo "Não
devemos subestimar o calor", Sandholz, por sua vez, prefere apostar no
planejamento urbano: parques ou corredores de vento poderiam minorar o efeito
das altas temperaturas sobre as cidades, defende a funcionária da ONU.
Estiagem muda paisagem na
Alemanha.
Apelo de prefeituras
A falta de chuva neste verão
na Alemanha está mudando a paisagem, tanto urbana quanto rural. Em algumas
cidades, a grama dos parques está amarelada, e as árvores, ameaçadas. Algumas
prefeituras inclusive estão apelando para que os moradores ajudem a regar
locais públicos.
Seca incomum
Enquanto em algumas áreas
isoladas chuvas torrenciais provocaram destruição, no nordeste da Alemanha
quase não choveu nos últimos meses. O Serviço Alemão de Meteorologia informa
que o estado de Saxônia-Anhalt teve 15 litros de chuva por m2, cerca
de um quarto da média. Em toda a Alemanha, caíram apenas 50 litros de chuva por
m2, metade do valor normal.
Alerta de incêndio
O perigo de incêndios
florestais é extremamente alto em todo o país. A ameaça maior é no estado de
Brandemburgo, onde já houve mais de 100 focos de fogo nas últimas semanas. As
autoridades informaram que 90% dos incêndios foram causados por humanos. Na
foto, uma placa adverte para o alto risco de incêndio em Bad Düben, na Saxônia.
Estresse
para bombeiros
Quarenta
bombeiros levaram 13 horas para debelar o fogo em campo de cereais em
Brandemburgo. Em Rostock (foto), um incêndio foi causado por um pássaro. A
polícia disse que o animal provocou um curto-circuito num cabo de eletricidade,
que então incendiou um campo próximo.
Falta de água
O grande número de incêndios
causou escassez de água, e os bombeiros de Saxônia-Anhalt tiveram de ser
criativos na busca por novos recursos. Esta guarnição acabou abastecendo o
caminhão em uma piscina.
Colheita antecipada
O clima excepcionalmente seco
obrigou muitos agricultores a colher bem mais cedo. Segundo a Associação Alemã
de Agricultores, até abril estava muito quente e seco. Por isso, o trigo
amadureceu muito mais rápido do que o esperado. Mas a falta de chuva causou um
baixo rendimento, e, ao mesmo tempo, chuvas torrenciais repentinas causaram
destruição nas plantações.
Agricultores temem
consequências financeiras
Batatas, beterraba e milho
geralmente são colhidos no outono na Europa, por se tratarem de plantas que
exigem muito mais água do que trigo e colza. Devido à seca, os pés de milho
estão sofrendo. O presidente da Associação Alemã de Agricultores, Joachim
Rukwied, adverte que a estiagem causará problemas financeiros a muitos produtores.
Estiagem nos campos
Os animais criados soltos são
atingidos não só pela água escassa, mas pela falta de pasto verde, como na
foto, perto de Schönebeck, no leste alemão. Os campos, normalmente verdes e
exuberantes, estão tão secos que se assemelham a uma paisagem de estepe.
Rios baixos
A falta de chuva traz
consequências também para o transporte fluvial. No Reno e em outros rios,
navios de carga não podem mais transitar com carga total. Na foto, o rio Oder,
na fronteira entre Alemanha e Polônia, está tão baixo que mostra seus bancos de
areia.
Sequelas do aquecimento
global
A pouca chuva que caiu nos
últimos meses foi distribuída de forma muito irregular. Enquanto o serviço
alemão de meteorologia adverte que nesta semana a temperatura no país pode
atingir os 37ºC, em áreas isoladas, chuvas torrenciais vêm causando alagamentos
e destruição, como neste domingo no circuito de Hockenheim, onde um túnel sob a
pista de Fórmula 1 foi inundado. (dw)
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