Mudanças climáticas ameaçam pesca e vida marinha na
corrente de Humboldt, afetando Chile, Equador e Peru.
O aquecimento global ameaça a pesca no Chile, Equador e Peru, aponta um novo informe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O aquecimento global ameaça a pesca no Chile, Equador e Peru, aponta um novo informe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
ONU
Divulgado
em 05/08/18, o relatório mostra que a elevação da temperatura global põe em
risco o ecossistema formado pela corrente marítima de Humboldt, responsável em
grande medida por sustentar a atividade pesqueira nos três países
sul-americanos.
Cardume de peixes em Belize.
O aquecimento global ameaça a pesca no
Chile, Equador e Peru, aponta um novo informe da Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Segundo a
agência da ONU, a disponibilidade de peixes no sistema da corrente de Humboldt
é controlada principalmente pelo clima e seus efeitos sobre a produção de
fitoplâncton, a base de toda a cadeia alimentar marinha. Durante as últimas
décadas, o ecossistema criado por esse fluxo marítimo produziu mais peixes por
unidade de área do que qualquer outro sistema no mundo.
Mas com um
clima mais quente, os eventos conhecidos como El Niño e La Ninã poderão ocorrer
mais frequentemente, provocando uma diminuição na abundância de plâncton. Os
efeitos de ambos os fenômenos são mais notáveis justamente ao longo do sistema
da corrente de Humboldt.
De acordo
com a FAO, estima-se uma redução geral no volume de fitoplâncton e zooplâncton
para o ecossistema, como resultado de um esgotamento em larga escala dos
nutrientes em águas subterrâneas. O fenômeno está associado ao aquecimento do
planeta. A extensão média da área rica em zooplâncton deverá encolher em 33%
nas zonas norte e central do sistema de Humboldt e em 14% na região ao sul da
corrente.
Em média,
9,35 milhões de toneladas de peixes marinhos, moluscos e crustáceos foram
capturados a cada ano no Chile e no Peru, de 2005 a 2015. Nesses dez anos, a
agência da ONU identificou uma notável tendência decrescente do volume de
pescado, principalmente devido à aplicação de planos de manejo mais rigorosos,
mas também por conta de variações climáticas e, em alguns casos, da
superexploração.
A
região Norte-Centro do Peru registrou 75% do total de capturas, o sul do Peru e
o norte do Chile responderam por quase 20%, e a região central do Chile
contribuiu com menos de 5%.
O trajeto
da corrente de Humboldt.
A
publicação da FAO mostra que modelos globais preveem, para 2050, uma redução
moderada no potencial de captura do Chile e do Peru. Isso porque as mudanças
climáticas podem impedir significativamente o sucesso da desova de pequenos
peixes pelágicos, visados pelo setor industrial.
Estudos
coletados pelo organismo das Nações Unidas antecipam ainda uma maior
estratificação — quando massas de água com diferentes propriedades formam
camadas que atuam como barreiras para a mistura de nutrientes. Outra
consequência das mudanças climáticas incluem um forte aquecimento da superfície
das águas peruanas e, em menor grau, das águas chilenas.
O sistema da
corrente de Humboldt também é caracterizado pela presença de uma zona estendida
de oxigênio mínimo. Trata-se de uma espessa camada de água a algumas dezenas de
metros abaixo da superfície, onde a concentração de oxigênio é tão baixa que,
com exceção das bactérias, apenas algumas espécies podem sobreviver
temporariamente. Essa camada também pode se expandir em um mundo mais quente.
Recomendações para garantir a sustentabilidade da pesca.
Embora
essas projeções tenham um alto nível de incerteza, o informe da FAO elenca
diferentes medidas para evitar que o aquecimento global prejudique o
ecossistema marinho da corrente de Humboldt. Entre as orientações propostas,
estão a institucionalização de modelos de governança participativos, a
realização de estudos científicos especializados e melhorias no monitoramento.
Correntes Marítimas
As correntes marítimas,
influenciadas pela rotação terrestre e incidência dos ventos, são porções de
água (quente ou fria) que se deslocam em diferentes direções pelos oceanos e
mares, as quais influenciam no clima, na pressão e na umidade dos locais
mantendo o equilíbrio térmico do planeta. E, da mesma maneira, as massas de ar,
porções de ar que se deslocam em diferentes direções pelo globo, favorecem as
mudanças climáticas.
A agência
da ONU indica também que aumentar o controle da pesca, reduzindo a atividade
para níveis sustentáveis, poderia ter um efeito social negativo em curto prazo,
mas é uma estratégia indispensável para proteger a sustentabilidade nas
próximas décadas.
Outra
política sugerida é crescer a proporção de peixes para consumo direto humano, o
que promoveria a segurança alimentar e, ao mesmo tempo, a aquicultura
sustentável. A FAO ressalta a necessidade de reduzir os descartes e o
desperdício de peixe. O estudo destaca ainda que o uso de gás natural
renovável, no lugar de combustíveis pesados, diminuiria a pegada de carbono do
setor pesqueiro. (ecodebate)
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