Mortes
relacionadas ao calor devem aumentar significativamente com o aumento da
temperatura global, alertam pesquisadores.
Modelos
mostram que a implementação do Acordo de Paris é fundamental para evitar um
grande aumento nas mortes relacionadas à temperatura.
O
mundo precisa manter sob controle a temperatura global cumprindo as metas
estabelecidas no Acordo de Paris, ou mais pessoas podem morrer por causa de
temperaturas extremas, dizem autores de um novo estudo na seção de cartas da
revista Climatic Change, da Springer.
O
Acordo de Paris, adotado em 2015 sob os auspícios da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), vincula as nações a manter um
aquecimento bem abaixo de 2°C na temperatura média global, em relação aos
níveis pré-industriais. Também insta os países a fazer esforços adicionais para
limitar o aquecimento a 1,5°C.
Liderado
por pesquisadores da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM),
este é o primeiro estudo que avalia impactos na saúde relacionados à
temperatura global em cenários consistentes com o Acordo. Os pesquisadores
avaliaram os impactos de mortalidade projetados para uma série de aumentos de
temperatura, compatíveis com os limiares estabelecidos em Paris (1,5°C e 2°C)
ou mais (3°C e 4°C). Essas projeções levaram em conta como um aumento nas
mortes relacionadas ao calor pode ser compensado por uma diminuição nas mortes
devido ao frio, à medida que as temperaturas globais sobem.
O
escopo do estudo permitiu comparações globais em várias áreas do mundo. A
equipe da LSHTM primeiro analisou dados históricos sobre mortes relacionadas à
temperatura de 451 locais em 23 países com diferentes condições socioeconômicas
e climáticas. Eles então projetaram mudanças na mortalidade sob cenários
climáticos consistentes com os vários aumentos na temperatura global, enquanto
mantinham distribuições demográficas e riscos para a saúde da temperatura
constantes.
Paisagem
seca no Texas: taxas de suicídio aumentaram em quase todos os estados dos EUA
entre 1999 e 2016.
Os
resultados indicaram aumentos dramáticos de mortes relacionadas ao calor sob
aquecimento extremo (3°C e 4°C) em comparação com o limiar mais leve (1,5°C),
com excesso adicional de mortalidade variando de +0,73% a +8,86% em todas
regiões. A diferença líquida permaneceu positiva e alta na maioria das áreas,
mesmo quando as potenciais diminuições nas mortes relacionadas ao frio foram
consideradas.
A
imagem foi mais complexa ao comparar 2°C contra 1,5°C de aquecimento. Um
aumento líquido nas mortes ainda era projetado para regiões mais quentes, como
a América do Sul, Europa do Sul e Sudeste Asiático (com mudanças que variavam
de 0,19% a + 0,72%), enquanto nas regiões mais frias o excesso de mortalidade
era previsto ficar estável ou cair um pouco.
Os
resultados apoiam a avaliação de um próximo Relatório Especial do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima, agendado para aprovação em outubro,
que avalia os riscos para a saúde associados a 1,5°C e 2°C de aquecimento.
“Nossas
projeções sugerem que grandes aumentos nas mortes relacionadas à temperatura
poderiam ser limitados na maioria das regiões se o aquecimento fosse mantido
abaixo de 2°C”, explica Ana Maria Vicedo-Cabrera, a primeira autora do estudo.
“Sob mudanças extremas no clima, grandes partes do mundo poderiam experimentar
um aumento dramático no excesso de mortalidade devido ao calor. Isso não seria
balanceado por reduções nas mortes relacionadas ao frio. Esforços para limitar
o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C poderia fornecer benefícios
adicionais em regiões tropicais ou áridas, incluindo os países mais populosos e
muitas vezes mais pobres”.
Antonio
Gasparrini, coautor do estudo, diz: “Esperamos que os resultados ajudem a
convencer as nações a tomarem medidas decisivas implementando políticas
climáticas ambiciosas, consistentes com o Acordo de Paris, em um esforço para
salvar vidas. Atualmente, estamos em uma trajetória para alcançar mais de 3°C
de aquecimento, e se esta tendência continuar, haverá sérias consequências para
a saúde em muitas partes do mundo”. (ecodebate)
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