⅓ do
lixo da América Latina e Caribe acaba em lixões ou na natureza
Um terço do lixo da América Latina e Caribe acaba em
lixões ou na natureza, diz relatório da ONU.
Todos os dias, 145 mil toneladas de lixo são
descartadas de maneira incorreta — a quantidade equivale ao que é gerado por
27% da população latino-americana e caribenha ou 170 milhões de pessoas.
Os
números são de pesquisa da ONU Meio Ambiente, dia 09/10/18 em Buenos Aires,
durante um fórum regional de ministros.
ONU
Aterro
sanitário em Jardim Gramacho, RJ.
Um
terço de todos os resíduos urbanos gerados na América Latina e no Caribe ainda
acaba em lixões ou no meio ambiente, uma prática que contamina o solo, a água e
o ar da região e afeta a saúde de seus habitantes. O alerta é de um relatório
da ONU Meio Ambiente, publicado dia 09/10/18 em Buenos Aires, durante o XXI
Fórum regional de Ministros do Meio Ambiente. Evento teve início nesta
terça-feira e segue até 12 de outubro na capital argentina.
Todos
os dias, 145 mil toneladas de lixo são descartadas de maneira incorreta — a
quantidade equivale ao que é gerado por 27% da população latino-americana e
caribenha ou 170 milhões de pessoas. Os números foram divulgados na
pesquisa Perspectiva sobre a Gestão de
Resíduos na América Latina e no Caribe.
A
análise da ONU Meio Ambiente estimula os países a fechar os lixões. Segundo a
agência internacional, esses locais apresentam alto risco para a saúde das
pessoas que moram no seu entorno, bem como para quem coleta materiais
recicláveis descartados. As áreas também são uma fonte de emissão de gases do
efeito estufa, afetam negativamente o turismo e a agricultura e ameaçam a
biodiversidade.
As
nações da América Latina e Caribe avançaram na coleta de resíduos, que já cobre
cerca de 90% da população. Porém, diariamente, 35 mil toneladas de lixo não são
coletadas, um problema que afeta especialmente as áreas pobres e comunidades
rurais, com impactos na vida de mais de 40 milhões de pessoas.
A região
enfrenta ainda o desafio de chegar a uma economia circular: apenas 10% dos
resíduos são reaproveitados por meio da reciclagem ou de outras técnicas de
recuperação de materiais, segundo o relatório.
“Os
países da América Latina e do Caribe devem dar prioridade política máxima para
a gestão adequada dos resíduos. Isso é uma forma de reforçar a ação climática e
de proteger a saúde de seus habitantes”, afirmou o diretor regional da ONU Meio
Ambiente, Leo Heileman.
Pessoas
observam um caminhão despejar lixo nos arredores de Porto Príncipe, no Haiti.
A
pesquisa do organismo mostra que a geração de resíduos na região cresce
continuamente e irá aumentar em pelo menos 25% até 2050. Entre as causas desse
fenômeno, estão tendências verificadas em outras partes do mundo — o
crescimento populacional; a urbanização; o crescimento econômico; a saída de
uma quantidade significativa de pessoas da pobreza para uma classe média
emergente; e padrões claramente insustentáveis de produção e consumo. Atualmente,
80% dos habitantes da América Latina e Caribe vivem em cidades.
Segundo
o documento da ONU Meio Ambiente, melhorar a gestão do lixo é uma medida
fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
acordados pelos líderes mundiais em 2015.
“Uma
verdadeira agenda de desenvolvimento sustentável deve incluir a gestão adequada
de resíduos. Os benefícios ambientais, sociais e econômicos associados a este
setor são substanciais e vão desde a redução de gases de efeito estufa e
economia de matérias-primas até a melhoria da matriz energética dos países,
criação de empregos e aumento do investimento”, acrescentou Heileman.
Ainda
de acordo com o estudo, uma fonte de poluição que precisa de atenção especial e
urgente é a de resíduos perigosos, que inclui dispositivos eletrônicos,
resíduos hospitalares ou associados à construção. Frequentemente, esse tipo de
lixo não é nem mesmo inventariado e caracterizado, embora alguns países tenham
conquistado avanços legislativos na área.
Oportunidades de transição
A
publicação detalha oportunidades de melhoria para a região, como a gestão
especial de resíduos orgânicos ou a aplicação de princípios da economia
circular.
Os
resíduos orgânicos representam, em média, 50% do lixo gerado pelos países
latino-americanos e caribenhos. A falta de tratamento específico para esses
resíduos leva à liberação injustificada de gases do efeito estufa na atmosfera,
como o metano, e à produção de chorume. O problema também diminui a qualidade
de materiais recicláveis que estão no lixo. O relatório das Nações Unidas
recomenda promover a separação dos resíduos orgânicos na fonte e incentivar seu
uso por meio de práticas sustentáveis, como a compostagem.
A
pesquisa aponta ainda que cerca de 90% dos resíduos coletados são destinados a
locais de descarte, sejam aterros ou lixões, ou seja, não são reaproveitados
nem reciclados. A ONU Meio Ambiente pede que a região abandone esse esquema
insustentável. O organismo defende que os resíduos sejam tratados como recursos
valiosos — segundo a agência, com o design, é possível desenvolver produtos que
permitem a reutilização do lixo após um primeiro uso do material descartado.
O
lixo pode, assim, tornar-se matéria-prima secundária ou fonte alternativa de
energia para substituir os combustíveis fósseis.
O
relatório também alerta para a fragilidade institucional da gestão do lixo em
nível regional. Isso se deve parcialmente à sobreposição de normas, que
concedem competências concorrentes a diferentes áreas do mesmo governo. É
importante que as leis e políticas estabeleçam estruturas comuns, promovam o
investimento público e privado, a educação e a participação do cidadão, além de
incluir indicadores de gestão.
Segundo
o documento, países devem considerar como prioridade a formalização e profissionalização
dos trabalhadores que lidam com a coleta e reciclagem de resíduos. Embora essa
mão de obra tenha sido integrada em várias nações ao serviço público de
saneamento urbano, a falta de reconhecimento formal é uma constante na maioria
dos países da América Latina e do Caribe.
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dos resíduos da América Latina não recebe a destinação correta.
Para
orientar governos em suas políticas de gestão, a publicação lembra experiências
bem-sucedidas na região, como um programa no México que promove a reciclagem de
telefones celulares; a coleta seletiva no município de Alvarado, na Costa Rica;
a proibição de sacolas plásticas em Antígua e Barbuda; e o sistema de troca de
lixo reciclável por alimentos, desenvolvido em Curitiba, no Brasil, há mais de
duas décadas. (ecodebate)
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