“O
Sistema Terra pode estar se aproximando de um limiar planetário que
poderá tornar inevitável o
caminho rápido e contínuo em direção a condições muito mais quentes – Terra Estufa” - Will Steffen et.
al., 2018.
O
crescimento exponencial da população e da economia fez com que a humanidade
ultrapassasse a capacidade de carga da Terra, provocando uma degradação
generalizada dos ecossistemas e a redução da biodiversidade do Planeta.
Como
alertou importante estudo liderado por Will Steffen et. al. (2018): “Nossa análise sugere que
o Sistema Terra pode estar se aproximando de um limiar planetário que poderá
tornar inevitável o caminho rápido e contínuo em direção a condições muito mais
quentes – Terra Estufa”
Indubitavelmente,
o mundo caminha para um colapso ambiental que pode se tornar também um colapso
civilizacional. Porém, existe um tabu que é pouco discutido e que acelera este
processo: o volume e o crescimento da população mundial. Tratar esta questão é
uma tarefa urgente e deveria estar na pauta da 48ª Sessão do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), que acontece em Incheon, na
Coreia do Sul, nesta semana de 01 a 05 de outubro de 2018.
O
respeitado demógrafo John Bongaarts e o reconhecido cientista do clima, Brian
C. O’Neill, se uniram para demonstrar por que os ativistas do clima e os
formuladores de políticas deveriam incorporar a dinâmica demográfica às
análises climáticas. Em um ensaio publicado na influente Revista Science
Magazine eles defendem a ideia de que a redução do ritmo de crescimento
populacional é essencial para a mitigação do aquecimento global.
Os
autores começam o artigo perguntando: “Será que a desaceleração do crescimento
da população humana diminuirá os impactos futuros das mudanças climáticas
antropogênicas?”. Ao invés dos 11,2 bilhões de habitantes projetados para o
final do século, pela Divisão de População da ONU, o mundo pode evitar o
acréscimo de 3,6 bilhões de pessoas, reduzindo o potencial de emissão de
quantidade de gases de efeito estufa.
As
mudanças climáticas deverão provocar aumento do nível dos mares e da
intensidade de eventos extremos, como secas e tempestades em todo o mundo.
No
entanto, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tende a ignorar ou
subestimar os efeitos do crescimento populacional sobre o aquecimento global. Bongaarts e O’Neill abordam quatro percepções
equivocadas que acreditam confundir o IPCC sobre a questão demográfica:
Percepção
equivocada 1: O crescimento
populacional não é um problema ambiental
Os
autores atribuem esse equívoco a vários fatores, tais como:
1) a crença de que a
taxa de fecundidade cairia rapidamente em todos os continentes, inclusive na
África Subsaariana;
2) a crença de que a defesa da saúde e dos direitos
reprodutivos proposta pela Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento (CIPD), de 1994, seria suficiente para a universalização da
saúde reprodutiva e se atingir a fecundidade abaixo do nível de reposição;
3) a
crença de que o espectro da fome já está superado e que a Terra tem capacidade
de produzir todo o alimento que a humanidade necessita.
Percepção
equivocada 2: Políticas populacionais
não são eficazes
Existem
85 milhões de gravidezes não desejadas e 32 milhões de nascimentos não
planejados a cada ano no mundo e Bongaarts e O’Neill apontam o óbvio: evitar
gravidezes não planeadas reduziria o ritmo de crescimento da população
imediatamente. Os países que implementaram o direito à saúde reprodutiva, como
Etiópia, Malawi e Ruanda tiveram declínios acentuados na fecundidade. Os
autores consideram que os programas de planejamento familiar são investimentos
excepcionalmente de baixo custo para os governos e geram resultados muito
positivos para o aumento do bem-estar das populações. As políticas
populacionais democráticas funcionam e são efetivas.
Percepção
equivocada 3: População não importa
muito para clima
Bongaarts
e O’Neill reconhecem que as emissões passadas e atuais são atribuíveis
principalmente ao crescimento econômico (alimentado por combustíveis fósseis)
nos países desenvolvidos. Eles também nos lembram da verdade incontestável que,
até agora, os países de alta renda são quase totalmente responsáveis pelas
emissões de carbono. No entanto, novas pesquisas e modelagem sofisticada
demonstram que o que crescimento da população vai desempenhar um papel cada vez
mais importante no futuro.
A
industrialização e o rápido crescimento populacional em curso nos países em
desenvolvimento significa aumento das emissões, sendo que os países em
desenvolvimento apresentam as maiores taxas de liberação de carbono e metano.
Os autores argumentam que o menor crescimento populacional poderia reduzir as
emissões globais em 40% ou mais no longo prazo. Desta forma, claramente, a
população importa para o clima.
Percepção
equivocada 4: A política populacional é
muito controversa para ter sucesso.
Bongaarts
e O’Neill defendem uma política sensível e holística sobre a população humana e
suas sub questões relacionadas e advogam por intervenções que aumentem os
direitos humanos, como o planejamento familiar voluntário e a melhoria da
educação. Isto não deveria ser controverso, mas, infelizmente, sabemos que é.
Existe
a oposição tradicional de grupos religiosos e sociais conservadores. Mas também
existe a oposição de alguns liberais e defensores dos direitos humanos que
temem que admitir publicamente que a população importa para o clima poderia
automaticamente à coerção e abusos dos direitos humanos. Evidentemente,
qualquer tipo de autoritarismo e abuso tem que ser evitado. Além disto, muitas
pessoas da comunidade de estudo das mudanças climáticas acreditam que tratar da
política de população pode levar à culpabilidade dos países pobres por
problemas criados pelos países ricos.
Embora
essa crença seja real, isso não muda o fato de que o crescimento populacional
nos países em desenvolvimento apresenta desafios para o clima e o
desenvolvimento e priva a comunidade internacional de uma importante alavanca
política para melhorar o bem-estar humano.
Estrutura integrada da adaptação, adaptado de IPCC.
Conclusão
Para
Bongaarts e O’Neill, o IPCC deveria incluir recomendações de políticas
relacionadas à população para mitigação e/ou adaptação das mudanças climáticas
em suas futuras publicações – incluindo contabilidade de custos e benefícios,
barreiras à implementação e sinergia com os objetivos e a metas dos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Eles
também sugerem a inclusão de mais cientistas sociais com experiência em saúde
reprodutiva e política populacional a serem incluídos no IPCC. Finalmente, os
autores pedem à comunidade ambiental e às instituições internacionais de
desenvolvimento que adotem análises cientificamente sólidas da política
populacional e dos programas de saúde reprodutiva, baseados em direitos
humanos. (ecodebate)
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