domingo, 21 de outubro de 2018

Emissão de carbono por incêndios florestais na Amazônia é pior

Emissões de carbono de incêndios florestais na Amazônia são até 4 vezes piores do que se estimava.
As perdas de carbono causadas pelos incêndios florestais de El Niño de 2015 e 2016 poderiam ser até quatro vezes maiores do que se pensava, de acordo com um estudo de 6,5 milhões de hectares de floresta na Amazônia brasileira.
Nova pesquisa, publicada em uma edição especial da revista Philosophical Transactions da Royal Society B, revelou que as consequências dos incêndios florestais de 2015 e 2016 na Amazônia resultaram em emissões de CO2 três a quatro vezes maiores do que as estimativas comparativas das bases de dados de atuais emissões globais de incêndios.
A descoberta é parte de uma série de resultados publicados esta semana, por pesquisadores da Universidade de Lancaster, que estavam trabalhando no coração do local de um dos piores incêndios florestais que a Amazônia viu em uma geração.
Pesquisadores afirmam que incêndios florestais descontrolados no sub-bosque – ou no nível do solo – de florestas tropicais úmidas durante secas extremas são uma fonte grande e mal quantificada de emissões de CO2.
O estudo “Quantifying immediate carbon emissions from El Niño-mediated wildfires in humid tropical forests” analisou uma região de 6,5 milhões de hectares, dos quais quase 1 milhão de hectares de florestas primárias e secundárias queimadas durante o El Niño 2015-2016, área equivalente a metade do País de Gales.
Embora a área analisada cubra menos de 0,2% da Amazônia brasileira, esses incêndios resultaram em emissões imediatas de CO2 de mais de 30 milhões de toneladas, três a quatro vezes maiores do que estimativas comparáveis de bancos de dados globais de emissões de fogo.
A área de São Félix do Xingu se equipara à da Áustria. A região conta apenas com 8 bombeiros.
O autor principal, Kieran Withey, da Universidade de Lancaster, disse: “Incêndios descontrolados de sub-bosque em florestas tropicais úmidas durante secas extremas são uma fonte grande e mal quantificada de emissões de CO2. Esses incêndios consumiram completamente resíduos lenhosos e detritos lenhosos finos, enquanto parcialmente queimando árvores lenhosas, resultando em altas emissões imediatas de CO2. Esta análise cobre uma área de apenas 0,7% do Brasil, mas a quantidade de carbono perdido corresponde a 6% das emissões anuais de todo o Brasil em 2014”.
No final de 2015, Santarém, no estado brasileiro do Pará, foi um dos epicentros do El Niño daquele ano. A região sofreu uma seca severa e extensos incêndios florestais e os pesquisadores estavam trabalhando bem no meio dela. Cientistas do ‘ECOFOR’, o projeto de pesquisa internacional liderado pelo professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, instalaram 20 áreas de estudo em Santarém, oito das quais queimadas.
A equipe de pesquisa rapidamente percebeu que eles tinham a oportunidade de documentar em detalhes como uma floresta responde ao fogo nessa escala.
A Dra. Erika Berenguer, da Universidade de Oxford e Lancaster, e seus colegas descobriram que após os incêndios, as árvores sobreviventes cresceram significativamente mais do que aquelas localizadas em florestas não queimadas, independentemente de sua história de perturbação humana anterior. Em média, as árvores nas áreas queimadas da floresta cresceram 249% mais do que as árvores nas florestas afetadas pela seca, mas não pelo fogo. Embora a taxa de crescimento seja uma boa notícia, esse grande aumento no crescimento parece ser uma resposta relativamente de curto prazo.
Um mapa de pontos de calor monitorados por satélite no bioma amazônico entre 31 de julho de 2016 e 1 de agosto de 2017. Pontos de calor não indicam o tamanho de um incêndio, mas apenas sua localização. 2017 está caminhando para bater um recorde de incêndios, embora, por enquanto, não para bater recorde de seca.
O professor Jos Barlow, da Lancaster University, disse: “Apenas algumas árvores podem sobreviver a esses incêndios florestais, já que as florestas da Amazônia não co-evoluem com essa ameaça. Assim, embora as árvores sobreviventes cresçam mais rapidamente nas florestas queimadas, isso não compensa a grande perda de carbono”, resulta da mortalidade das árvores “.
Enquanto isso, Camila VJ Silva da Universidade de Lancaster liderou pesquisas incluindo 31 outras áreas queimadas em toda a Amazônia brasileira, que mostraram que mesmo 30 anos depois de um incêndio, florestas aparentemente “recuperadas” ainda possuem 25% menos carbono do que florestas primárias não perturbadas próximas.
Ela disse: “incêndios florestais em florestas tropicais úmidas podem reduzir significativamente a biomassa florestal por décadas, aumentando as taxas de mortalidade de árvores de grande e alta densidade de madeira (como castanha-do-brasil ou mogno), que armazenam a maior quantidade de biomassa em florestas antigas, demonstrando que os incêndios florestais diminuem ou retardam significativamente a recuperação pós-fogo das florestas amazônicas.
Focos de incêndio no Brasil, de junho de 1998 a setembro de 2017.
Berenguer disse: “No geral, nossos resultados combinados destacam a importância de considerar os incêndios florestais nas políticas de conservação florestal e mudanças climáticas. Com os modelos climáticos projetando um futuro mais quente e seco para a bacia amazônica, os incêndios florestais provavelmente se tornarão mais generalizados. Considerar os incêndios florestais nas políticas públicas levará a intervalos mais curtos de retorno ao fogo, com as florestas sendo incapazes de recuperar seus estoques de carbono”. (ecodebate)

Nenhum comentário:

Ondas de calor devem diminuir em 2025

Ondas de calor devem diminuir em 2025, aponta Climatempo. O pico de emissões em 2025 é uma boa notícia, decerto, mas a física é implacável...