O
mais recente relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado no dia em que o Brasil ia às
urnas no primeiro turno das eleições de 2018, considera que os esforços para
limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5ºC (como estabelece o limite
inferior do Acordo de Paris) exigirá “mudanças sem precedentes” em nível
global.
O
relatório, apresentado em Incheon, na Coreia do Sul, foi aprovado por consenso
e elaborado com base em cerca de 6.000 estudos, mostrando a grande diferença
entre um aumento de temperaturas de +1,5ºC e de +2ºC. Ele foi compilado por
mais de 80 dos principais cientistas do clima do mundo, de quase 40 países, e
reúne 40.000 comentários de artigos com revisão por pares. Com clareza e sem
tergiversação, o relatório diz que cada fração de um grau no aumento da
temperatura realmente importa e deve ser levado em consideração imediatamente.
O
documento considera que uma temperatura global acima de 1,5ºC, em relação ao
período pré-industrial, poderá ter efeitos catastróficos para os ecossistemas,
a biodiversidade, a produção de alimentos e para o modo de vida rural e urbano
de toda a população mundial.
Manter
a temperatura global abaixo de 1,5ºC, reduziria significativamente o risco de
eventos climáticos extremos e severos, particularmente ondas de calor e as
mortalidades decorrentes, diminuiria a escassez de água potável, evitaria a
elevação do nível do mar a patamares catastróficos, impediria o naufrágio do
delta dos rios, diminuiria o processo de acidificação dos oceanos e o
branqueamento dos recifes de corais, etc.
Os
efeitos das mudanças climáticas já se fazem presente na atualidade. No mês
passado os Furacões e Tufões – potencializados pela elevação da temperatura das
águas oceânicas – provocaram grandes prejuízos. A passagem do tufão Jebi deixou
mortos e muitos prejuízos no Japão. O furacão Florence abalou a costa leste dos
Estados Unidos, especialmente as duas Carolinas (do Sul e do Norte). O tufão
Mangkhu casou mortes e muita destruição nas Filipinas, Hong Kong e China. Nessa
semana (09 a 13 de outubro de 2018), o furacão Michel ameaça várias ilhas do
Caribe e a costa americana do golfo do México.
A
crise é séria, já traz danos irreparáveis e o tempo é curto para evitar o pior.
Segundo o IPCC o mundo tem apenas 12 anos para evitar um colapso ecológico,
pois para que a meta mais ambiciosa de 1,5°C seja atingida, as emissões de
gases de efeito estufa pelas atividades antrópicas teriam que ser reduzidas, em
relação aos níveis de 2010, em cerca de 45% até 2030, chegando a zero por volta
de 2050.
O
grande problema é que as emissões apresentam uma trajetória de aumento, sendo
que em 2017 o acréscimo foi de 2%. Assim, as emissões globais de CO2
de todas as atividades humanas foram de 41 bilhões de toneladas métricas para
2017, estreitando os limites do “orçamento carbono”. Portanto, reduzir estas
emissões quase pela metade até 2030 e zerar até 2050 é uma tarefa hercúlea.
Para
aumentar a complexidade da questão, há pesquisadores que consideram que o lapso
de tempo necessário para reverter o quadro do aquecimento global é ainda mais
estreito. Artigo de Christiana Figueres e outros importantes cientistas,
publicado na prestigiosa revista científica Nature, em 2017, mostra que o tempo
para evitar uma catástrofe climática é mais curto e precisa ser revertido, no
máximo, em três anos.
Isto
quer dizer que quanto mais o mundo procrastinar as soluções, mais radicais
serão as medidas a serem adotadas no futuro. Hipostasiar o crescimento
econômico exponencial e menosprezar o meio ambiente é como dar um tiro no pé
hoje, que vai se transformar em uma gangrena amanhã. Como disse o professor e
pesquisador Clóvis Cavalcanti, presidente do ISEE (The International Society
for Ecological Economics): “Na natureza, todo crescimento contínuo termina em
desastre: este é o princípio da célula cancerosa”.
Ou
seja, é impossível manter o crescimento demoeconômico exponencial com base no
modelo “Extrai-Produz-Descarta” que causa tantos danos ao meio ambiente. É
urgente o decrescimento dos impactos antrópicos do sistema global de produção e
consumo. O relatório do IPCC traz um alerta fundamental, mas o perigo é que a
situação seja ainda mais grave. Até o Nobel de economia reconheceu a
importância da sustentabilidade e, em 2018, escolheu dois economistas que
estudam o meio ambiente.
Os
candidatos à presidência que estão disputando o segundo turno das eleições
presidenciais, neste mês de outubro de 2018, precisam se posicionar sobre esta
premente e candente questão climática e apresentar medidas para que o Brasil
possa diminuir suas emissões e garantir a saúde dos ecossistemas. O Brasil não pode
se dar ao luxo de eleger um presidente contra o meio ambiente.
Sem
as mais simples formas de existência e a mais ampla rede ecológica não há vida
evoluída no Planeta. Sem estabilidade climática o céu pode se tornar um
inferno. Não existe futuro para as atuais e as próximas gerações humanas e
não-humanas se o planeta se tornar uma “Terra estufa”. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário