Rio de Janeiro pode economizar R$ 156 mi em
tratamento de água com investimentos em restauração florestal.
Restauração Florestal – Estudo mostra que investir
no plantio de florestas reduz a quantidade de sedimentos nos rios, diminuindo
os gastos da Cedae.
A
maior estação de tratamento de água do mundo, a ETA Guandu, no Rio de Janeiro,
pode reduzir substancialmente seus gastos com investimentos em restauração
florestal. Um estudo indica que plantar florestas pode resultar numa economia
de R$ 156 milhões em 30 anos. A estação faz o tratamento da água que abastece
92% da população da região metropolitana do Rio.
O
estudo “Infraestrutura Natural para
Água no Sistema Guandu, no Rio de Janeiro” mostra que se produtores
rurais, empresas, o estado e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de
Janeiro (Cedae) incentivarem a preservação das áreas naturais remanescentes e o
plantio de florestas em 3 mil hectares em áreas altamente degradadas – o que
representa 1,4% da bacia –, a quantidade de terra, sujeira e sedimentos que
chega nos rios reduziria em 33%. Com menor quantidade de sedimentos, a ETA
Guandu deixaria de usar 4 milhões de toneladas de produtos químicos e 260 mil
MWh em energia, gerando o retorno do investimento de 13%, compatível com os
resultados financeiros de obras no setor.
“O
estudo mostra que a restauração florestal torna o sistema de abastecimento do
Rio mais resiliente e a economia mais eficiente”, diz Rafael Feltran-Barbieri,
economista do WRI Brasil e um dos autores do estudo. “Como o Rio é bastante
dependente de uma única estação de tratamento, mesmo que seja a maior do mundo,
a floresta desempenha um papel ainda mais importante.”
Segundo
Hendrik Mansur, especialista em conservação da TNC e também um autor do estudo,
é preciso avançar na restauração florestal de áreas prioritárias na Região
Hidrográfica do Guandu com o objetivo de aumentar os serviços ecossistêmicos e
a segurança hídrica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. “A ampliação dos
arranjos institucionais já instalados com os mecanismos de governança e os
instrumentos financeiros serão fundamentais para o ganho de escala na restauração”,
afirma.
Uma
floresta restaurada precisa de tempo para “amadurecer” antes de atingir seu
pleno potencial. Assim, o estudo também aponta para a importância de conservar
a floresta existente, que já oferece diversos serviços ambientais, como a retenção
dos sedimentos. “Conservar as florestas remanescentes e recuperar aquelas que
foram derrubadas ao longo de anos são investimentos possíveis. Gestores dos
serviços hídricos de todo o país devem considerar essa alternativa, benéfica
para a sociedade e para o planeta”, afirma a diretora-executiva da Fundação
Grupo Boticário, Malu Nunes.
O
estudo foi produzido pelo WRI Brasil, Fundação Grupo Boticário de Proteção à
Natureza e The Nature Conservancy (TNC), e contou com apoio de Fundação FEMSA,
União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), Instituto
BioAtlântica (IBio) e Natural Capital Coalition.
Rio pode economizar milhões em tratamento de água com restauração
de florestas.
Infraestrutura Natural
O
investimento em infraestrutura cinza – obras de transposição, reservatórios e
canais – é a principal alternativa adotada pelo poder público no Brasil para
enfrentar crises hídricas. O estudo mostra que o investimento em infraestrutura
verde ou natural também deve ser considerado.
Infraestrutura
Natural são ecossistemas manejados, restaurados ou conservados com capacidade
de fornecer bens e serviços essenciais à produção material, saúde e bem-estar
humano. Melhorar a qualidade da água está entre os mais preciosos serviços que
a restauração da vegetação nativa pode oferecer, dado o papel de filtragem que
as florestas exercem na retenção de sedimentos e assoreamento dos cursos
d’água.
A
incorporação da infraestrutura natural – ou infraestrutura verde – nos planos
de gestão hídrica pode aumentar a eficiência, o desempenho e a resiliência dos
sistemas convencionais, reabilitando a paisagem a ofertar água de melhor
qualidade às próprias estações de tratamento. Poupam energia, produtos químicos
e desgastes de equipamento das estruturas construídas, economizando recursos
financeiros e oferecendo co-benefícios ambientais.
Além
disso, a restauração e conservação de florestas traz outros serviços ambientais
que não foram valorados no estudo, mas são de vital importância para a economia
da região, como a polinização, o turismo sustentável e a regulação climática.
Cantareira (SP) já foi analisada
O
relatório do Rio de Janeiro faz parte de uma série de estudos sobre a
importância de se considerar a infraestrutura natural nos planos de
investimentos em abastecimento. O primeiro estudo, publicado em setembro,
analisou o caso do Sistema Cantareira, em São Paulo, e mostrou resultados
semelhantes: os paulistas poderiam economizar R$ 219 milhões em 30 anos com
restauração florestal de 4 mil hectares e conservação de áreas verdes.
Florestas
são capazes de filtrar sedimentos, nutrientes e resíduos sólidos, impedindo que
cheguem aos cursos d’água. A incorporação da infraestrutura natural — ou
infraestrutura verde — nos planos de gestão hídrica pode potencializar a
eficiência, o desempenho e a resiliência das estruturas convencionais,
reabilitando a paisagem a ofertar água de melhor qualidade às próprias estações
de tratamento.
Este
relatório pretende oferecer um conjunto de análises que pode ajudar nas
estratégias de saneamento e manejo de recursos hídricos, demonstrando como a
restauração das florestas, consideradas infraestruturas naturais, poderia
complementar e salvaguardar o Sistema Guandu, principal fonte de abastecimento
de água para Região Metropolitana do Rio de Janeiro. (ecodebate)
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