O “SOS” do Polo Norte:
aquecimento e degelo lançam Ártico ao desconhecido.
Sob
nossos olhos, uma parte fundamental do sistema climático global está mudando a
passos largos, com implicações sem precedentes para o Planeta.
Ártico: iceberg flutua perto
da cidade de Tasiilaq, Groenlândia.
São Paulo – O manto gelado da
Terra está em apuros faz tempo e não há sinal de melhoras em um mundo aquecido.
É o que aponta o décimo terceiro relatório sobre o clima na região divulgado
neste mês pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera
dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês).
Produzido a partir da pesquisa de 81 cientistas ligados a governos e
universidades de 12 nações, o estudo mostra – mais uma vez – que o ar na região
está mais quente e a cobertura de gelo marinho e terrestre está em declínio,
colocando em movimento um efeito dominó de mudanças nos ecossistemas, com
resultados desconhecidos.
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Esse declínio tem acelerado nas
duas últimas décadas, atingindo
níveis recordes, e está associado ao clima mais quente na região, que é afetado
tanto pelas mudanças climáticas quanto por variabilidades
temporais de curto prazo. De acordo com o Arctic Report Card de
2018, o Ártico está agora aquecendo a uma taxa duas vezes maior que a da
temperatura média global.
Segundo o Arctic Report Card de 2018, a temperatura média anual do
ar no Ártico de outubro de 2017 a setembro de 2018 foi a segunda maior já registrada,
atrás do mesmo período de 2015–2016 (o ano de monitoramento do Ártico vai
de outubro a setembro para evitar a divisão da temporada de
inverno). Todos os cinco anos desde 2014 foram mais quentes do que
qualquer registro anterior.
O mapa a seguir mostra onde a
temperatura média anual do ar de outubro de 2017 a setembro de 2018 estava
acima (vermelho) e abaixo (azul) da linha de base 1981-2010. Na média, as
estações de medição apontaram temperatura anual 1,7 °C mais quente que a
média de referência, fortemente influenciada por um inverno mais quente na
região.
Apesar de algumas áreas de
temperaturas ligeiramente abaixo da média, incluindo o leste da América do
Norte, as temperaturas acima da média dominaram o Ártico em 2018, destaca o relatório.
O resultado de um clima mais
quente? Degelos pronunciados. A extensão do gelo no mar do verão no Oceano
Ártico atingiu o sexto menor nível neste ano, enquanto a cobertura gelada
durante o inverno ficou em segundo lugar nos registros históricos.
Durante a maior parte do último
inverno, o Mar de Bering, especificamente, estabeleceu uma baixa recorde para a
cobertura de gelo do mar, que alterou a composição dos oceanos e pode ter
levado a mortes em massa de focas e aves marinhas. Situado no extremo
norte do oceano Pacífico, o Mar de Bering separa a Ásia e a América do Norte em
seu ponto de maior proximidade.
Gelo mais novo e mais fino
A espessura da cobertura de
gelo do Ártico também tem chamado atenção dos pesquisadores: ela está se
tornando mais fina, mais jovem e mais propensa a derreter a cada
verão. Em março de 1985, o gelo marinho que sobreviveu a pelo menos
quatro verões constituía 16% da camada de gelo do Ártico no inverno. Em
março de 2018, ela representava menos de 1%.
O comparativo de mapas abaixo
mostra a idade do gelo marinho no bloco congelado do Ártico em março de 1985 (à
esquerda) e março de 2018 (à direita). O gelo com menos de um ano (que se
formou no inverno mais recente) aparece em azul mais escuro. O gelo que
sobreviveu pelo menos 4 anos completos é destacado em branco.
O gelo mais velho e mais
espesso é mais resistente ao futuro derretimento e quebras durante tempestades
na região. O fato de que pouco gelo muito antigo permanece no Ártico cria
um ciclo de feedback negativo que acelera o derretimento. Quanto menos
gelo velho, mais vulnerável é a cobertura branca durante o verão.
Por que o degelo importa?
A extensão do gelo do mar do
Ártico desempenha um papel crítico no sistema climático do Planeta, a ponto da
região receber o nome de “geladeira da Terra”.
Fisicamente, sua superfície
branca reflete até 80% da luz solar recebida durante os longos dias de verão no
hemisfério norte, exercendo uma influência de resfriamento sobre o clima.
Menos cobertura de gelo,
portanto, significa que há mais oceano escuro para absorver mais energia
do sol, o que leva a mais aquecimento e derretimento, mergulhando a região em
um mecanismo que se retroalimenta conhecido como amplificação do Ártico.
A perda de cobertura de gelo pode,
igualmente, perturbar o ecossistema, afetando o tempo de florescimento dos
fitoplânctons, os organismos microscópicos que estão na base da cadeia
alimentar marinha. Além disso, comunidades humanas, ursos polares, morsas,
baleias e outros animais dependem do gelo marinho para sobreviver.
Menos gelo também significa
mais transporte pelo Ártico e exploração (principalmente de petróleo), gerando
novas oportunidades e riscos com grandes implicações para a economia mundial e
a segurança climática. (exame)
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