segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Aquecimento e degelo lançam Ártico ao desconhecido

O “SOS” do Polo Norte: aquecimento e degelo lançam Ártico ao desconhecido.
Sob nossos olhos, uma parte fundamental do sistema climático global está mudando a passos largos, com implicações sem precedentes para o Planeta.
Ártico: iceberg flutua perto da cidade de Tasiilaq, Groenlândia.
São Paulo – O manto gelado da Terra está em apuros faz tempo e não há sinal de melhoras em um mundo aquecido. É o que aponta o décimo terceiro relatório sobre o clima na região divulgado neste mês pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês). 
Produzido a partir da pesquisa de 81 cientistas ligados a governos e universidades de 12 nações, o estudo mostra – mais uma vez – que o ar na região está mais quente e a cobertura de gelo marinho e terrestre está em declínio, colocando em movimento um efeito dominó de mudanças nos ecossistemas, com resultados desconhecidos. 
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Esse declínio tem acelerado nas duas últimas décadas, atingindo níveis recordes, e está associado ao clima mais quente na região, que é afetado tanto pelas mudanças climáticas quanto por variabilidades temporais de curto prazo. De acordo com o Arctic Report Card de 2018, o Ártico está agora aquecendo a uma taxa duas vezes maior que a da temperatura média global.
Segundo o Arctic Report Card de 2018, a temperatura média anual do ar no Ártico de outubro de 2017 a setembro de 2018 foi a segunda maior já registrada, atrás do mesmo período de 2015–2016 (o ano de monitoramento do Ártico vai de outubro a setembro para evitar a divisão da temporada de inverno). Todos os cinco anos desde 2014 foram mais quentes do que qualquer registro anterior. 
O mapa a seguir mostra onde a temperatura média anual do ar de outubro de 2017 a setembro de 2018 estava acima (vermelho) e abaixo (azul) da linha de base 1981-2010. Na média, as estações de medição apontaram temperatura anual 1,7 °C mais quente que a média de referência, fortemente influenciada por um inverno mais quente na região.
Apesar de algumas áreas de temperaturas ligeiramente abaixo da média, incluindo o leste da América do Norte, as temperaturas acima da média dominaram o Ártico em 2018, destaca o relatório. 
O resultado de um clima mais quente? Degelos pronunciados. A extensão do gelo no mar do verão no Oceano Ártico atingiu o sexto menor nível neste ano, enquanto a cobertura gelada durante o inverno ficou em segundo lugar nos registros históricos. 
Durante a maior parte do último inverno, o Mar de Bering, especificamente, estabeleceu uma baixa recorde para a cobertura de gelo do mar, que alterou a composição dos oceanos e pode ter levado a mortes em massa de focas e aves marinhas. Situado no extremo norte do oceano Pacífico, o Mar de Bering separa a Ásia e a América do Norte em seu ponto de maior proximidade.
Gelo mais novo e mais fino
A espessura da cobertura de gelo do Ártico também tem chamado atenção dos pesquisadores: ela está se tornando mais fina, mais jovem e mais propensa a derreter a cada verão.  Em março de 1985, o gelo marinho que sobreviveu a pelo menos quatro verões constituía 16% da camada de gelo do Ártico no inverno. Em março de 2018, ela representava menos de 1%.
O comparativo de mapas abaixo mostra a idade do gelo marinho no bloco congelado do Ártico em março de 1985 (à esquerda) e março de 2018 (à direita). O gelo com menos de um ano (que se formou no inverno mais recente) aparece em azul mais escuro. O gelo que sobreviveu pelo menos 4 anos completos é destacado em branco.
O gelo mais velho e mais espesso é mais resistente ao futuro derretimento e quebras durante tempestades na região. O fato de que pouco gelo muito antigo permanece no Ártico cria um ciclo de feedback negativo que acelera o derretimento. Quanto menos gelo velho, mais vulnerável é a cobertura branca durante o verão. 

Por que o degelo importa?
A extensão do gelo do mar do Ártico desempenha um papel crítico no sistema climático do Planeta, a ponto da região receber o nome de “geladeira da Terra”.
Fisicamente, sua superfície branca reflete até 80% da luz solar recebida durante os longos dias de verão no hemisfério norte, exercendo uma influência de resfriamento sobre o clima.
Menos cobertura de gelo, portanto, significa que há mais oceano escuro para absorver  mais energia do sol, o que leva a mais aquecimento e derretimento, mergulhando a região em um mecanismo que se retroalimenta conhecido como amplificação do Ártico.
A perda de cobertura de gelo pode, igualmente, perturbar o ecossistema, afetando o tempo de florescimento dos fitoplânctons, os organismos microscópicos que estão na base da cadeia alimentar marinha. Além disso, comunidades humanas, ursos polares, morsas, baleias e outros animais dependem do gelo marinho para sobreviver.
Menos gelo também significa mais transporte pelo Ártico e exploração (principalmente de petróleo), gerando novas oportunidades e riscos com grandes implicações para a economia mundial e a segurança climática. (exame)

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