Aquecimento global pode ter
impacto negativo na saúde, aponta relatório.
Documento
assinado por 27 entidades faz prognóstico de mais problemas cardiovasculares e
renais.
“A saúde da população
brasileira está ligada à floresta Amazônica”, afirma um amplo relatório sobre o
efeito das mudanças climáticas sobre a saúde humana. Problemas mentais, riscos
cardiovasculares e doenças transmitidas por vetores podem ser agravados pelo
que virá a ser o clima no futuro.
As conclusões fazem parte do
estudo Lancet Countdown: Tracking Progress on Health and Climate Change (em
tradução livre, Acompanhando os Progressos em Saúde e Mudanças Climáticas),
lançado anualmente desde 2016.
O estudo recém-publicado
conta com a participação de 27 instituições, da ONU e de agências
governamentais de todos os continentes.
O relatório —especificamente
a parte que fala sobre o Brasil— afirma que, mesmo não levando em conta dados
sobre desmatamento, o caso brasileiro merece menção para ilustrar as relações
críticas entre mudança climática, destruição de florestas e saúde.
As mudanças do uso da terra
—desmatamento, em linhas gerais—, junto a agropecuária, eleva as emissões do
país e, consequentemente, contribui para o aquecimento global.
“Muitas vezes não
relacionamos o quão grave é desmatar e quanto isso afeta a saúde das pessoas,
quanto reduz a expectativa de vida”, diz Mayara Floss, uma das pesquisadoras
que escreveu o documento.
Mina de ouro localizada em
área desmatada da floresta amazônica é vista perto de Castelo dos Sonhos, no
Pará.
No caso do Brasil, dados
mostram que há relação entre o fogo na Amazônia, doenças respiratórias e o
aumento de admissões em hospitais durante o período de queimadas.
“Para cada quilômetro
quadrado de mata que derrubamos, há descobertas que deixamos de fazer”, diz
Floss, membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, uma
das organizações que participou do estudo —junto aos também brasileiros Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e Fiocruz (Fundação Oswaldo
Cruz).
Em nível global, o estudo da
Lancet afirma que as tendências apontam um “risco inaceitável” à saúde
atual e futura da população.
Por exemplo, as ondas de
calor estão entre os principais elementos que podem trazer problemas à saúde.
Segundo a pesquisa, em 2017 (em comparação a 2000), 157 milhões de pessoas a
mais foram atingidas de alguma forma. No Brasil, observa-se que essas ondas
foram mais intensas nos anos de 2014 e 2015 e calcula-se que a Amazônia deve ser
particularmente impactada pelas altas temperaturas no futuro.
As regiões mais propensas às
complicações de saúde, porém, são Europa e o Mediterrâneo oriental. Espera-se
que haja aumento de problemas cardiovasculares e renais, por exemplo.
Uma das explicações para a
susceptibilidade é a presença nessas áreas de populações com mais de 65 anos
vivendo em áreas urbanas, o que aumenta os riscos. Crianças, mulheres grávidas
e pessoas com diabetes e doenças respiratórias crônicas também são consideradas
mais vulneráveis às ondas de calor.
Fora os problemas de saúde, a
força de trabalho também será impactada. O relatório documenta que, em 2017, 153 bilhões de horas de trabalho foram perdidas por
esse motivo. Quem mais sofre com isso no Brasil são os trabalhadores agrícolas.
Os efeitos das mudanças
climáticas já podem ser vistas no presente em eventos como os incêndios que se
alastraram pela costa oeste dos EUA e nas mortes recentes na Europa devido ao
calor.
Para o Brasil e América
Latina, além de inundações e secas, outra grande preocupação são doenças
transmitidas por vetores —leia-se dengue, febre amarela, zika, chikungunya e
outras arboviroses.
De acordo com o relatório, em
2016, a capacidade de transmissão dos vetores da dengue (considerando que a
distribuição de mosquitos transmissores é afetada por temperatura, chuvas e
grau de urbanização) foi a maior já registrada na história. No Brasil,
entre 1950 e 2010, a do Aedes aegypti aumentou
6% e a do Aedes albopictus,
silvícola, em 11%.
O impacto das mudanças
climáticas sobre a saúde mental também foi abordado. Dependendo da intensidade,
frequência e duração de eventos extremos, pode-se ter um aumento no problema. O
estudo afirma que há evidências de que ondas de calor podem fazer crescer o
número de suicídios.
A pesquisa conclui que, mesmo
já havendo preocupação em fóruns mundiais quanto ao tema, as adaptações para o
novo panorama ainda são lentas e dispõem de menos recursos do que o desejável.
(brasilagro)
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