A concentração de CO2
na atmosfera deveria diminuir para atender as metas do Acordo de Paris, mas, ao
contrário do que foi planejado e acordado, continua aumentando em ritmo
perigoso. A NOAA (National Oceanic & Atmospheric Administration), por meio
da Global Monitoring Division, divulgou os dados do crescimento médio da
concentração global de CO2 na atmosfera.
Em 2018, o aumento foi de
2,39 partes por milhão (ppm). É um número menor do que os 3 ppm de 2015 e 2016,
mas é maior do que o 1,89 ppm de 2017. Isto fez com que a média de 2010 a 2018
esteja em 2,4 ppm, número acima da média da década passada (2000-09) que foi de
2,0 ppm e muito acima da média da última década do século XX (1991-00) que foi
de 1,5 ppm, conforme apresentado no gráfico acima. Portanto, a despeito das
variações sazonais, o efeito estufa continua aumentando em ritmo mais acelerado
do que nas décadas anteriores.
Durante o correr de cada ano,
a concentração de CO2 segue
um padrão sazonal, com pico (valor máximo) nos meses de maio e vale (valor
mínimo) no mês de setembro. O limiar de 400 ppm foi atingido em maio de 2013.
Em 2015, a marca das 400 ppm foi ultrapassada em 8 dos 12 meses. Na média
anual, 2015 atingiu a cifra de 400,83 ppm e o de 2016 foi o primeiro a
ultrapassar a marca de 400 ppm em todos os meses. O ano de 2017 começou com
concentração de 406,36 ppm, no dia 01 de janeiro. A média do mês de maio foi de
409,65ppm (muito próxima do limiar de 410 ppm). O dia com maior concentração
foi em 26 de abril com 412,63 ppm e o dia com menor concentração foi 27 de
setembro com 402,26 ppm. O ano de 2018 começou com concentração de 406,94 ppm,
no dia 01 de janeiro. A média do mês de janeiro de 2018 foi de 407,96 ppm, sendo
que o máximo mensal do ano ocorreu em maio 411,96 ppm (acima do limiar de 410
ppm). O dia com maior concentração foi em 14 de maio de 2018 com 412,43 ppm.
Os dados de 2019 mostram que o efeito estufa não
arrefece. No dia 01 de janeiro a concentração de CO2 foi de 409,73
ppm. No mês de janeiro a concentração ficou em 410,83 ppm, sendo que o maior
valor ocorreu no dia 22 de janeiro com 413,9 ppm, conforme o gráfico abaixo.
Seguindo o padrão sazonal, tudo indica que o mês de maio de 2019 deve
ultrapassar o limiar de 415 ppm. No ritmo atual a concentração de CO2
pode ultrapassar 600 ppm até 2100.
Nos 800 mil anos antes da
Revolução Industrial e Energética a concentração de CO2 estava
abaixo de 280 ppm, conforme mostra o gráfico abaixo da NOAA. As medições com
base no estudo do gelo, mostram que em 1860 a concentração atingiu 290 ppm. Em
1900 estava em 295 ppm. Chegou a 300 ppm em 1920 e atingiu 310 ppm em 1950. Com
base nos dados do laboratório de Mauna Loa, constata-se que a concentração de CO2
na atmosfera, na média mensal, chegou a 399,76 partes por milhão (ppm) em maio
de 2013 e, em 2017, chegou aos 410 ppm. Na média anual, os números indicaram
370 ppm no ano 2000 e 408,52 ppm em 2018.
O dramático é que o
efeito estufa está se agravando. Artigo de Gavin L. Foster e colegas, publicado
na Nature Communications (04/04/2016) mostra que o mundo caminha para um
aquecimento potencial sem precedentes em milhões de anos, como mostra o gráfico
abaixo. Os atuais níveis de dióxido de carbono são inéditos na história humana
e estão no caminho certo para subir a alturas ainda mais sinistras em apenas
algumas décadas. Se as emissões de carbono continuarem em sua trajetória atual,
a atmosfera poderia atingir um estado não visto em 50 milhões de anos. Naquela
época, as temperaturas eram até 10° C mais quentes e os oceanos eram
dramaticamente mais altos do que hoje. A pesquisa que originou o artigo
compilou 1.500 estimativas de dióxido de carbono para criar uma visão que se
estende por 420 milhões de anos.
Assim, o mundo corre sério
perigo. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera contribuiu
para o fato dos últimos 5 anos (2014, 2015, 2016, 2017 e 2018) terem sido os
mais quentes já registrados no Holoceno e aponta para novos recordes futuros de
aquecimento. O efeito estufa trará custos enormes e as sociedades podem não
estar preparadas para pagar o alto preço de limpar no futuro a sujeira feita no
passado e no presente.
O nível minimamente seguro de
concentração atmosférica é de 350 ppm. Assim, o mundo vai ter não só de parar
de emitir gases de efeito estufa (GEE) como terá que fazer “emissões
negativas”, ou seja, terá que sequestrar carbono e fazer uma limpeza da
atmosfera. O custo deste processo será muito mais caro do que o custo de
reduzir as emissões.
Superar a era dos
combustíveis fósseis e fazer uma mudança da matriz energética é um passo
fundamental. Mas a lentidão da redução da queima de energia fóssil pode levar o
mundo ao caos climático. Além disto, as demais atividades antrópicas também
emitem GEE. Por exemplo, a pecuária é grande emissora de gás metano que é pelo
menos 21 vezes mais poluente do que o CO2. E uma grande ameaça que
se agrava com o processo de degelo é a “bomba de metano” que existe no
permafrost.
Portanto, o mundo está num
beco sem saída. Quanto mais avança com o crescimento econômico e o
desenvolvimento das atividades antrópicas mais acontece as emissões de GEE. Os
benefícios do desenvolvimento são colhidos hoje pela humanidade, mas os
prejuízos para a biodiversidade estão aumentando de forma exponencial e os
custos humanos serão pagos pelas novas gerações. As crianças e os jovens de
hoje vão pagar um alto preço nas próximas décadas se a concentração de CO2
não voltar para o nível de 350 ppm.
Como mostrou Charles St.
Pierre (16/11/2016), tratando da armadilha do crescimento, todo sistema
econômico e todo sistema auto-organizado que não se autolimita dentro das
fronteiras estabelecidas pelo seu meio ambiente, cresce até exceder a
capacidade do ecossistema para apoiá-lo e sustentá-lo. Em seguida, ele colapsa.
Desta forma, é urgente dar
uma meia volta nas tendências de emissões de GEE e no fenômeno de poluição
crescente do solo, das águas e do ar e iniciar um processo de decrescimento
demoeconômico para que a humanidade respeite os limites planetários e a
capacidade de carga no Planeta. O caminho atual é insustentável e a civilização
está avançando rumo ao precipício.
Hoje, o mundo já caminha para a acidificação do
solo, das águas e do oceano, assim como para a 6ª extinção em massa das
espécies. As mudanças climáticas, num futuro não muito distante, pode levar ao
caos no Planeta. O colapso ambiental, levará ao colapso da economia moderna, o
que será catastrófico para bilhões de pessoas e para toda a sociedade que, ao
longo dos últimos 2 séculos, se enriqueceu às custas da poluição e do
empobrecimento do meio ambiente. (ecodebate)
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