Desperdício
de alimentos é um conceito de definição imprecisa. De modo geral, considera-se
desperdício um dos tipos de perda que ocorrem na cadeia produtiva dos
alimentos, que vai da produção até o consumo, referindo-se especificamente às
perdas deliberadas que ocorrem na comida apta para o consumo, seja por descarte
ou pela não utilização.
Como
muitas vezes pode ser difícil distinguir até que ponto as perdas são
intencionais, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO) prefere utilizar a expressão abrangente perda e desperdício.
Dados
de 2011 apontam que cerca de 1,5 bilhão de toneladas de comida, representando
em torno de ⅓ da produção mundial, são
perdidas ou desperdiçadas anualmente, significando uma contínua e
injustificável sangria nos recursos vitais do planeta e na economia das nações.
E
sendo um fator de desequilíbrio ecológico e social, uma das causas do
aquecimento global e um importante obstáculo à resolução do problema da fome
crônica que ainda aflige mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo.
Todos
estes desperdícios também se refletem nos recursos hídricos. Se estima que para
cada litro de cerveja produzido sejam consumidos em média 5,5l de água, para
cada kg de arroz, cerca de 2.500l do recurso natural, para cada kg de manteiga
cerca de 18.000l, para cada litro de leite 710l, para cada kg de queijo, cerca
de 5.280l, para cada kg de batata são estimados 130l, para cada kg de carne
bovina mais de 17.000l e para carne de frango cerca de 3.700l.
Nos
países desenvolvidos e em desenvolvimento o desperdício ocorre em sua maioria
na fase final da cadeia produtiva, a do consumo. Nos países mais pobres as
perdas principais ocorrem nas etapas primárias e intermédias da cadeia, com
perdas menos significativas na fase do consumo.
Em
geral, o desperdício ocorre em níveis mais elevados nos países onde a
industrialização é mais acentuada. Por exemplo, na Europa e Estados Unidos as
perdas “per capita” são estimadas em 95 a 115 kg por ano, enquanto que na
África subsaariana e no sudeste asiático elas ficam entre 6 e 11 kg por ano.
A
piada é mórbida e de mau gosto, mas serve para ilustrar o problema. Só ocorrem
perdas significativas onde existem alimentos.
Diversos
fatores contribuem que o alimento seja perdido durante sua produção,
beneficiamento ou comercialização.
O
assunto ainda é relativamente pouco estudado e requer muito mais pesquisa, mas
no panorama, nos países pouco desenvolvidos as perdas se devem principalmente a
limitações de ordem financeira, administrativa, infraestrutural ou técnica, e
não entram propriamente na definição de desperdício, mas cabem na definição
geral perda alimentar.
Nos
demais países se deve a fatores culturais ou comportamentais, e à deficiente
coordenação entre os agentes da cadeia de produção, distribuição e
comercialização dos alimentos.
As
perdas também ocorrem quando há produção acima da demanda, e são influenciadas
por fatores culturais, econômicos estruturais e técnicos presentes em todos os
países, que incluem as opções de produção, tradições da cultura agropecuária e
pesqueira, maneiras preferenciais de armazenamento, distribuição e
comercialização dos produtos, e a lucratividade de cada uma das etapas da
cadeia.
Um
dos fatores culturais que têm influência no problema é o conceito que a
população forma a respeito do que é um bom alimento. Muitas vezes alimentos
perfeitamente comestíveis são descartados ou rejeitados por razões alheias ao
seu valor nutricional, acabando por serem perdidos.
As
perdas e desperdícios de alimentos representam uma vasta e inútil drenagem de
recursos de várias ordens, terra, água, energia, força de trabalho e dinheiro,
além de extinguir vidas e diminuir o bem-estar das pessoas, elementos cujo
valor não pode ser quantificado ou monetarizado.
O
desperdício tem um impacto cultural insidioso, pois a grande quantidade de
comida perdida transmite uma impressão de que o alimento é facilmente
conseguido e tem pouco valor intrínseco, e por isso pode ser desperdiçado sem
preocupações, o que é uma visão profundamente equivocada, reforçando o círculo
vicioso das perdas.
A
efeméride tem ainda um grande impacto econômico, pois comida perdida é dinheiro
perdido. A FAO calcula que os custos chegam a 750 bilhões de dólares por ano.
Observa-se adicionalmente um importantíssimo custo social, já que grande
população no mundo, calculada em torno de 900 milhões de pessoas, ainda sofre
de fome crônica. Segundo a FAO, a quantidade de comida perdida poderia
erradicar completamente a fome do mundo.
Além
disso, como os desperdícios especificamente se situam em sua maioria nos países
industrializados, que importam muita comida produzida nos países pouco
desenvolvidos, onde a fome é mais comum, as perdas concorrem para a
desigualdade e a injustiça social.
E
ampliam os problemas já existentes de segurança alimentar, saúde pública,
desemprego, migração de populações, violência e urbanização, entre outros, e
podem ser uma causa de desintegração de culturas tradicionais. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário