sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Aquecimento global e secas reduzirão a produção global de trigo

O aquecimento global e as secas podem reduzir a produção global de trigo.
“A mudança climática é agora uma emergência planetária que representa uma ameaça existencial para a humanidade” - Jem Bendell.
O trigo é um dos principais alimentos da humanidade. Em termos globais, o trigo é a segunda maior cultura de cereais, perdendo apenas para o arroz e ficando à frente do milho. O grão de trigo é o insumo básico para fazer pão e massas diversas para a preparação de bolos, tortas, pizzas, além de ser ingrediente na fabricação de cerveja.
O trigo é originário do Crescente Fértil – região do Oriente Médio – e começou a ser cultivado há cerca de 10 mil anos e foi uma das fontes de caloria e proteína responsáveis pelo sucesso da revolução agrícola que possibilitou o avanço das cidades e da civilização humana. O grão de trigo possui vários nutrientes, destacando-se os carboidratos, as proteínas e as vitaminas do complexo B, sendo que o integral possui grande quantidade de fibras.
Atualmente, o trigo fornece um quinto de todas as calorias para a humanidade. É a maior colheita alimentada por chuva do mundo e o comércio global de trigo corresponde às transações de arroz e milho combinadas. Dez regiões representam 54% dos campos de trigo do planeta. Mas as mudanças climáticas ameaçam a produção global deste cereal.
No momento, 15% das regiões produtoras de trigo do mundo correm risco de escassez severa de água ao mesmo tempo. Mesmo que se o aquecimento global ficar abaixo de 1,5º C até 2100, a chance de estresse hídrico simultâneo nos continentes ainda dobrará entre 2030 e 2070, conforme mostra artigo de Miroslav Trnka et. al. publicado na revista Science Advance (setembro de 2019).
Mas se a comunidade internacional falhar na mitigação da mudança climática e os extremos de calor e chuva seguirem inevitavelmente o aquecimento global descontrolado, as chances de uma perda devastadora das colheitas de trigo na Europa, na América do Norte, na Austrália, Rússia, Ucrânia e Cazaquistão, serão enormes.
O referido artigo – trabalhando com simulações de computador para modelar o futuro clima global da escassez de água com mudanças de temperatura nas próximas oito décadas – mostra que os extremos de calor e seca devastadoras podem acontecer em mais de um continente ao mesmo tempo, provocando uma repentina queda da produção de trigo, que é uma colheita bem-sucedida, em parte porque suas necessidades de água são relativamente baixas, mas não pode florescer sem chuvas confiáveis antes e durante o crescimento.
Quando isso aconteceu no século 19, a fome global se seguiu. As previsões já alertam que a cada aumento de 1º C na temperatura, a produção global de trigo cai entre 4% e 6,5%. Os pesquisadores alertaram repetidamente que extremos de calor podem reduzir a produção e limitar os nutrientes vitais nas colheitas de cereais.
Pior poderia acontecer quando uma onda de calor é seguida imediatamente por outra. E tudo isso pode acontecer em um mundo em que, à medida que a população cresce, a demanda por trigo pode aumentar em pelo menos 43%. Os autores do artigo analisaram evidências do passado próximo para descobrir que, entre 1985 e 2007, o impacto da seca na produção mundial de trigo foi duas vezes maior que entre 1964 e 1984.
Aquecimento global pode afetar produção de alimentos, alerta IPCC. Relatório deixa clara a importância de combater o desmatamento, promover recuperação florestal, mudar práticas agrícolas e frear a degradação das terras.
O fato é que existem diversos elementos que mostram a degradação dos solos e das fontes de água potável, colocando em xeque a futura produção de comida e aumento o risco de insegurança alimentar.
O artigo de Trnka et. al. (2019) vem reforçar o alerta do relatório “Climate Change and Land”, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, publicado em agosto de 2019, que mostra o efeito perverso de retroalimentação entre a produção de alimentos e o aquecimento global. O relatório do IPCC constata, de forma inquestionável, que o crescimento da população mundial e o aumento do consumo per capita de alimentos (ração, fibra, madeira e energia) têm causado taxas sem precedentes de uso de terra e água doce, com a agricultura atualmente respondendo por cerca de 70% do uso global de água doce, sendo responsável por cerca de 30% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e 80% do desmatamento global.
Em síntese, o avanço científico e tecnológico aliado ao uso generalizado dos combustíveis fósseis reduziu a fome no mundo, que atingiu o nível mais baixo da história até 2015. Porém, a insegurança alimentar e a desnutrição global aumentou nos últimos 3 anos e pode aumentar muito no futuro próximo em função do agravamento do aquecimento global.
Como alerta o professor Jem Bendell: “A mudança climática é agora uma emergência planetária que representa uma ameaça existencial para a humanidade”. Com base na ética de “pós-sustentabilidade”, o professor afirma que devemos desistir da esperança de que nossa sociedade possa seguir amplamente sua trajetória atual – de crescimento das atividades antrópicas com crescentes emissões de CO2. O mundo caminha para uma “mudança climática descontrolada” e necessita uma ação de grande magnitude – o que ele chama de “adaptação profunda”.
A biocapacidade da terra está diminuindo e os meios naturais para o sustento da humanidade estão definhando. Por isto é preciso levar em conta que o progresso humano está levando o mundo para a beira de um precipício em função de uma catástrofe ambiental cada vez mais provável.
Aquecimento de 2°C provocaria ondas de calor mais longas e mortais.
A volumosa produção de alimentos, para uma população que não para de crescer, está degradando as condições de solo e água e desestabilizando o clima. Uma crise na produção de trigo é uma péssima notícia para uma população mundial estimada em 11 bilhões de habitantes em 2100, sendo mais um sinal de disrupção do insustentável modelo fóssil da economia internacional. (ecodebate)

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