A indústria da água
engarrafada é uma das atividades que mais crescem no mundo, mesmo diante de uma
grande crise financeira global. O competente marketing da indústria fixou no
inconsciente das pessoas o mito de que a água engarrafada é mais segura e
saudável.
Mas, se ignorarmos o mito,
veremos que consumir água engarrafada, onde a água da rede é tratada e potável,
é uma injustificável insanidade ambiental.
No Brasil, é um mercado de 9
bilhões de litros ao ano, com um crescimento anual de 10%. Em termos mundiais,
em 2017, foram consumidos 329 bilhões de litros de água engarrafada.
Não existe consumo sem
impacto ambiental e com a água engarrafada não é diferente. O consumo
responsável e o consumismo alienado podem ser diferenciados pelo impacto do
consumo e pela sua sustentabilidade. A água engarrafada é, essencialmente,
ambientalmente insustentável.
Bem, o mito, já incorporado
ao inconsciente coletivo, diz que a água mineral natural é mais segura e
saudável do que a água tratada de torneira. Será?
A água tratada de torneira é
captada em águas superficiais, recebendo tratamento de filtragem e adição de
cloro, o que a faz potável. O tratamento, no entanto, não elimina eventuais
contaminações por metais pesados e agrotóxicos, por exemplo.
Ao longo do sistema de
distribuição pode ser contaminada pela má qualidade das adutoras/tubulação ou
nas caixas d’água.
A água mineral natural é
captada em fontes subterrâneas e não recebe qualquer tipo de filtragem ou
tratamento. Em geral contem mais sais minerais do que a água tratada.
Em termos reais, esta é a
única vantagem da água mineral sobre a tratada.
As fontes subterrâneas e os
aquíferos também podem e frequentemente são contaminados por metais pesados e
agrotóxicos. Além disto, não recebendo tratamento e adição de cloro, a água
mineral natural pode ser contaminada por bactérias.
A potabilidade da água
tratada distribuída pelas concessionárias é rigorosamente acompanhada pelos
órgãos ambientais. O mesmo já não é necessariamente verdade em relação às
centenas de engarrafadoras.
Não são raras as notícias de
que fontes e engarrafadoras de água mineral são interditadas em razão da
contaminação por bactérias.
Existem muitos problemas de
qualidade, tais como cor e sabor, na água tratada, mas pelo simples fato de que
ela é tratada já a faz mais segura do que a natural engarrafada.
Isto sem falar que, em termos
de R$/Litro, a água tratada chega às nossas casas por menos de R$ 0,05 por
litro.
Em outra perspectiva a água
engarrafada possui impactos ambientais muito maiores do que a tratada.
Segundo a Universidade de
Queensland, os efeitos ambientais do uso de água engarrafada são extensos.
Embora a maioria das garrafas possa ser reutilizada ou reciclada, a maioria das
garrafas de plástico atualmente produzidas é fabricada com tereftalato de
polietileno virgem (PET). O plástico é composto de combustíveis fósseis não
renováveis, que são um recurso finito, e o uso deste produto incentiva a
mineração que tem impactos ambientais associados. Há um grande consumo de
energia na captação, transporte da água e também no tratamento da água na
fábrica de engarrafamento. O consumo de energia adicional ocorre na produção da
garrafa e na limpeza, enchimento, vedação, rotulagem e refrigeração das
garrafas. Por fim, é necessária energia para transportar a garrafa para os
varejistas e depois para o consumidor. A energia total necessária na produção
de água engarrafada é de 5,6 a 10,2 MJ por litro, comparativamente à água da
torneira, que normalmente requer 0,005 MJ por litro no tratamento e
distribuição.
É relevante o impacto óbvio,
mas desprezado pelos consumidores, que é a própria garrafa PET como resíduo. No
Brasil, pouco mais de 55% das garrafas PET são destinadas à reciclagem, o que
significa dizer que bilhões de garrafas entupirão nossos rios e mananciais, ou
sobrecarregarão os aterros sanitários.
Enfim, a água engarrafada não
é, de fato, mais segura ou saudável, é muito mais cara do que a água tratada e
seus impactos ambientais são significativos. (ecodebate)
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