Emergência Climática: OMS alerta para o impacto da
mudança climática sobre a saúde humana.
Mudanças
climáticas começam a ter impactos na saúde humana.
Agência
da ONU realizou pesquisa em mais de 100 países; apenas metade tinha estratégia
para enfrentar o problema; sintomas mais comuns são: hipertermia, ferimentos ou
morte por temperaturas extremas e doenças como dengue, malária e cólera.
ONU News
Proteger
a saúde humana dos impactos das mudanças climáticas é mais urgente do que
nunca, mas a maioria dos países não está fazendo o suficiente para atingir essa
meta. É o que afirma o primeiro Panorama Global do Progresso nas Mudanças
Climáticas e a Saúde, divulgado dia 03/12/19 em Genebra e Madri, onde ocorre a Conferência
das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP 25.
O
novo estudo baseia-se em dados de 101 países pesquisados pela Organização
Mundial da Saúde, OMS, listados no relatório da Pesquisa de Saúde e Mudança
Climática da Organização Mundial de Meteorologia de 2018. A relação inclui
Brasil, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Riscos
De
acordo com o relatório, os riscos mais comuns à saúde sensíveis ao clima foram
identificados pelos países como estresse térmico, lesões ou morte provocadas
por eventos climáticos extremos, alimentos, água e doenças transmitidas por
vetores como cólera, dengue ou malária.
A
diretora do Departamento de Saúde Pública, Meio Ambiente e Determinantes
Sociais da Saúde da OMS, Maria Neira, disse à ONU News, de Madri, que a
mensagem é clara e forte.
“Quando
se atacam as causas do aquecimento global, o que também se faz é proteger a
saúde das pessoas, porque a cada ano, essas mesmas causas que são responsáveis
pela mudança climática, são também responsáveis pela poluição do ar. E essa
poluição do ar que estamos respirando está matando mais de 7 milhões de pessoas
a cada ano. Isso é inaceitável. Então, a gente quer explicar aqui na COP que o
argumento da saúde pode ser uma grande motivação para os países, que estão aqui
negociando, saberem que se eles tomarem as ações adequadas eles vão proteger e
reduzir muito o número de mortes causadas pela poluição de ar e aquecimento
global.”
Finanças
Cerca
de 60% dos países avaliados relataram que os resultados da pesquisa em relação
aos riscos à saúde tiveram pouca ou nenhuma influência na alocação de recursos
humanos e financeiros para atender às suas prioridades de adaptação para
proteger a saúde.
O
relatório aponta que metade dos países pesquisados desenvolveu uma estratégia
ou plano nacional de saúde e mudança climática. No entanto, é preocupante que
apenas cerca de 38% possuam finanças para implementar parcialmente seus planos
e menos de 10% canalizem recursos para implementá-los completamente.
De acordo com a OMS, o
cumprimento das metas do Acordo de Paris poderia salvar cerca de um milhão de
vidas por ano até 2050 apenas através da redução da poluição.
Dificuldades
O
estudo diz que os países têm dificuldades em acessar financiamento climático
internacional para proteger a saúde das pessoas. Mais de 75% relataram falta de
informações sobre financiamento climático, outros 60% disseram que existe falta
de conexão dos agentes de saúde com os processos de financiamento e mais de 50%
não sabem preparar propostas.
O
diretor-geral da OMS Tedros Ghebreyesus afirmou que “a
mudança climática não está apenas cobrando a conta para as gerações futuras, as
pessoas já estão pagando agora com saúde.” Para ele, “é obrigação dos países
terem recursos para agir contra as mudanças climáticas e preservar a saúde
agora e no futuro”.
Emissões
O
valor dos ganhos em saúde com a redução das emissões de dióxido de carbono
seria quase o dobro do custo de implementação dessas ações em nível global.
Fora isso, o cumprimento das metas do Acordo de Paris poderia salvar cerca de
um milhão de vidas por ano até 2050 apenas através da redução da poluição.
No
entanto, segundo a OMS, muitos países não conseguem tirar proveito desse
potencial. A pesquisa mostra que menos de 25% deles têm colaborações claras
entre a saúde e os principais setores responsáveis pelas mudanças climáticas
e poluição do ar, transporte, geração de eletricidade e energia doméstica.
A
agência da ONU destaca que os ganhos em saúde que resultariam no corte de emissões
de carbono raramente são refletidos nos compromissos climáticos nacionais.
OMM
A
declaração provisória da OMM sobre O Estado do Clima Global, também divulgada
nesta terça-feira, diz que a temperatura média global em 2019, no período de
janeiro a outubro, foi de cerca de 1.1ºC acima do período pré-industrial.
Segundo
a agência, o ano conclui uma década de calor global excepcional, recuo do gelo
e níveis recordes do mar impulsionados por gases de efeito estufa de atividades
humanas. As temperaturas médias para os períodos de cinco anos, 2015 a 2019, e
de dez anos, de 2010 a 2019, devem ser as mais altas já registradas.
O
ano de 2019 também deve ser o segundo ou o terceiro ano mais quente desde que
dados passaram a ser coletados.
OMM: A água do mar está 26% mais
ácida do que no início da era industrial.
Oceanos
A
OMM alerta que o oceano, que age como um amortecedor absorvendo calor e dióxido
de carbono, está pagando um preço muito alto. O calor do oceano atingiu níveis
recordes e houve ondas de calor marinhas generalizadas.
A
água do mar está 26% mais ácida do que no início da era industrial e
ecossistemas marinhos vitais estão sendo degradados.
O
secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que se medidas urgentes não
forem tomadas agora, a temperatura deve ter um aumento “de mais de 3°C até o
final do século, com impactos cada vez mais prejudiciais ao bem-estar humano.”
Ele acrescentou que o mundo não está “nem perto de cumprir a meta do Acordo de
Paris”.
Taalas
enfatizou que ondas de calor e inundações severos que costumavam ser eventos
raros estão se tornando mais regulares. Ele lembrou que países que vão “das
Bahamas ao Japão e Moçambique sofreram o efeito de ciclones tropicais
devastadores” e que “incêndios florestais se alastraram pelo Ártico e a
Austrália”.
Escola 25 de Junho, na cidade da
Beira, em Moçambique, foi danificada durante o ciclone Idai.
Idai
O
estudo indica que a atividade de ciclones tropicais em todo o mundo em 2019,
por exemplo, ficou um pouco acima da média. O Hemisfério Norte, até o momento,
teve 66 ciclones tropicais, em comparação com a média nessa época do ano de 56,
embora a energia acumulada do ciclone esteja apenas 2% acima da média. A
temporada de 2018-19 no Hemisfério Sul também ficou acima da média, com 27
ciclones.
Na
costa leste da África, o ciclone tropical Idai chegou a Moçambique em 15 de
março como um dos mais fortes já registrados na região, resultando em muitas
mortes e devastação generalizada. O Idai contribuiu para a destruição completa
de cerca de 780 mil hectares de plantações no Malauí, Moçambique e Zimbábue,
prejudicando ainda mais a situação precária de segurança alimentar.
O
ciclone também deslocou pelo menos 77.019 em Moçambique, 53.237 no sul do
Malauí e 50.905 no Zimbábue.
O
chefe da OMM alertou ainda que “um dos principais impactos das mudanças
climáticas são os padrões de chuvas mais irregulares.” Taalas afirmou que “isso
representa uma ameaça à produção agrícola e, combinado com o aumento da
população, significará desafios consideráveis à segurança alimentar para
países vulneráveis no futuro”.
Os
impactos das mudanças climáticas sobre a saúde em cenários de aquecimento de
1,5°C, 2°C e 3°C. Cada décimo de grau importa, já que os impactos das mudanças
climáticas e do aquecimento global sobre a saúde humana são sempre
crescentes. (ecodebate)
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