quarta-feira, 11 de março de 2020

Do total de resíduo recolhido pelo SLU em 2019, só 2,3 eram recicláveis

Ampliação das áreas atendidas pelo serviço e conscientização dos brasilienses ainda são desafios para o poder público.
Mara Alves coordena equipe de sete pessoas que conscientizam a população sobre reciclagem em quatro regiões administrativas do Distrito Federal.
Mesmo com serviços de coleta seletiva em atividade desde os anos 1990 no Distrito Federal, os itens que chegam hoje aos centros de triagem, onde os resíduos sólidos são separados, não somam 3%. Em 2019, das mais de 1,2 milhão de toneladas de materiais coletados pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU), só 28 mil toneladas foram passíveis de reciclagem. O que sobrou seguiu para o Aterro Sanitário de Brasília. Na opinião de especialistas e de brasilienses que separam o lixo doméstico por tipo, faltam conscientização e políticas públicas mais eficazes.
Das 33 regiões administrativas existentes, 26 contam com a coleta seletiva. A meta do governo local é alcançar os 100% o quanto antes. Segundo o diretor adjunto do SLU, Gustavo Souto Maior, o motivo para isso não ter acontecido são questões logísticas e operacionais. “É preciso ter cooperativas que coletem esse material onde não tem. Estamos indo aos poucos. E a população também deve estar conscientizada”, afirmou. “Levamos toneladas de lixo para o aterro diariamente. O que costumo dizer é que estamos enterrando dinheiro. Boa parte poderia ser reaproveitada.”
Gustavo Souto comentou que 60% do território do DF é atendido pelo serviço de coleta seletiva e reconheceu que a quantidade de resíduos recicláveis ainda é pequena em relação ao todo. “Não é uma questão simples. E não adianta dizer que é preciso separar o lixo se as pessoas não entenderem o benefício de fazer isso. Precisamos de menos área de aterro (sanitário). Ele não precisa ficar ad eternum. Temos de trabalhar cada vez mais para enterrar menos lixo”, ressaltou.
Mobilização
Em outubro, o Executivo local assinou um contrato com três empresas vencedoras de licitação (Valor Ambiental, Sustentare Saneamento e Consita Tratamento de Resíduos) para promover trabalhos de conscientização sobre a coleta seletiva nas regiões administrativas. Ao longo de cinco anos, as equipes, formadas por sete pessoas, percorrerão os endereços a fim de informar a população sobre a importância da separação do lixo por tipos.
A reportagem acompanhou o trabalho do grupo que atua em Brazlândia, Ceilândia, Taguatinga e Samambaia, área sob responsabilidade da Sustentare Saneamento. De segunda a sexta-feira, sete funcionárias — que atuavam como garis na parte de varrição das ruas — visitam casas, distribuem panfletos e conversam com os moradores. Quando não são recebidas, elas voltam ao endereço na semana seguinte, até conseguirem falar com os moradores. Diariamente, alcançam, em média, 60 domicílios.
Supervisora dessa equipe de mobilização, Mara Alves comentou que a iniciativa vai além de questões ambientais. “É algo de importância para a natureza, mas também ajuda na vida dos catadores que trabalham com reciclagem.” Ela acrescentou que é preciso ter jogo de cintura. “Nosso serviço é meio que de formiguinha. De porta em porta. Tem gente que não quer atender, tem gente mal-humorada. Mas também há muitos que não faziam a coleta, ganharam um pouco mais de consciência e começaram a fazer a separação”, completou Mara.
Moradora de Ceilândia Norte, Zilda Kelly recebeu em casa informações sobre separação de lixo(foto: Jessica Eufrasio/CB/D.A Press)
Moradora da QNP 13, em Ceilândia Norte, Zilda Kelly Emerick, 30 anos, contou que a família dela não tem o costume de separar o lixo, por falta de informação. Ela considerou a campanha de conscientização essencial para que a relevância da reciclagem alcance mais pessoas. “Essa iniciativa é superimportante. Separar o lixo facilita a vida de quem trabalha com isso, evita acidentes e gera emprego”, enumerou.
Para saber mais
Onde entregar
No site do SLU, é possível consultar os locais que recebem produtos não recolhidos por meio da coleta seletiva. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) estabelece que cabe aos fabricantes dar o destino adequado a materiais como pilhas, baterias, pneus, óleo, eletroeletrônicos, medicamentos, lâmpadas e produtos químicos. Acesse www.slu.df.gov.br/residuos-especiais e saiba onde entregar esses itens, além de móveis velhos, caixas de gordura, vidro e sucatas de ferro-velho.
Incentivos para a vinda de indústrias
Com o fechamento do Lixão da Estrutural, em janeiro de 2018, os catadores que tiravam de lá o sustento da família tiveram a opção de trabalhar nas cooperativas que recebem os resíduos sólidos separados e recolhidos na coleta seletiva. Por meio de 28 contratos com o SLU, cerca de 1,5 mil trabalhadores fazem a triagem do material em galpões. O que pode ser reutilizado é vendido para indústrias de reciclagem. O lucro volta para os funcionários.
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À Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal), cabe fiscalizar acondicionamento, disposição e separação adequada dos resíduos, além da verificação dos dias e horários das coletas. As multas para quem descumpre as normas previstas podem ir de R$ 87 a R$ 217 mil. “A DF Legal esclarece que não atua diretamente na coleta seletiva, mas em todo o processo dos descartes dos resíduos. A pasta fiscaliza vias e os logradouros públicos para a preservação da higiene em áreas urbanas e rurais”, informou.
Separar o lixo na casa de Conceição de Maria Tavares, 67 anos, é regra. Nada deixa de ser aproveitado, desde caixas de leite até cascas de frutas e verduras. O que pode ser reciclado é higienizado e entregue para os caminhões de coleta seletiva. Já o que é orgânico, como cascas de frutas e de verduras, vira adubo para plantas. “Meu marido, meu filho e eu separamos porque muitos se beneficiam disso. Esse é o ganha-pão para muita gente, e as pessoas deveriam ter consciência”, cobrou a aposentada.
Acordos
Especialista em meio ambiente, o professor Luiz Fernando Ferreira lamentou o fato de a coleta seletiva não atender todo o Distrito Federal, apesar de estar prevista em lei. Além disso, defendeu a existência de incentivos fiscais, para que indústrias de reciclagem se instalem no DF. “Muitos materiais, como o vidro, que é extremamente nobre para reúso, acabam tendo de ir para São Paulo, para serem reciclados. Como o frete é caro, fica inviável”, avaliou.
Luiz Fernando acrescentou que é necessário fiscalizar de modo mais intenso o funcionamento da logística reversa, por meio de acordos com indústrias e comércios, por exemplo. “Hoje em dia, tudo é descartável, o que é extremamente ruim para o meio ambiente. É preciso articular e viabilizar acordos e leis que obriguem esses setores a assumirem a responsabilidade. Muitas vezes, nem o fabricante nem o comerciante fazem isso”, completou o professor.
Coordenador de implementação da Política de Resíduos Sólidos da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), Glauco Amorim afirmou que a pasta tem atuado com foco na reciclagem por meio de três projetos. O primeiro resultou de um contrato, firmado entre o GDF e o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), que prevê a construção de um complexo de reciclagem, com duas centrais de reciclagem e uma central de comercialização.
O segundo projeto envolve a capacitação de funcionários dos órgãos da administração pública do DF para promoverem a coleta seletiva. O terceiro trata da articulação com fabricantes, distribuidores e comerciantes para cooperação no processo de logística reversa. “Hoje, o mercado que consome alguns materiais recicláveis está distante do DF. Não há indústrias que os comprem das cooperativas. Queremos estimular a assinatura de acordos com indústrias. Há um trabalho grande para ser feito”, avaliou Glauco.
Penalidades
Multas por descarte incorreto de lixo
Leve
De R$ 87,15 a R$ 2.179,44
Exemplo: lixo mal-acondicionado ou depositado fora do dia e horário da coleta
Grave
De R$ 2.179,44 a R$ 21.794,64
Exemplo: descarte irregular em área pública
Gravíssima
De R$ 21.794,64 a R$ 217.946,62
Exemplo: situações que coloquem em risco a vida e/ou o meio ambiente. (correiobraziliense)

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