Área desmatada na Amazônia a
ser queimada em 2020 pode superar os 4,5 mil km2.
Amazônia: Se tudo virar
fumaça, região pode enfrentar estado de calamidade pública na saúde devido à
sobreposição com pandemia de covid-19.
Uma área desmatada de pelo
menos 4.500 km2 na Amazônia, equivalente a três vezes o município de
São Paulo, está pronta para queimar. Resultado da soma do que foi derrubado no
ano passado e nos primeiros quatro meses desse ano, e ainda não queimado, essa
vegetação no chão pode virar fumaça com a estação seca que começa em junho em
mais uma temporada de fogo intensa como observamos em 2019. Se isso ocorrer, o
número de internações por problemas respiratórios pode aumentar expressivamente,
pressionando ainda mais o sistema de saúde da região, já duramente afetado pela
covid-19.
O alerta foi dado em 08/06/20
em uma nota técnica divulgada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
(IPAM). Pelos cálculos dos cientistas, se o ritmo acelerado de desmatamento
continuar nos próximos meses, quase 9 mil km2 poderão virar cinzas,
já que a época mais intensa de derrubada e queima se inicia agora, com a
chegada do período seco na região.
“Coibir as queimadas e o
desmatamento neste ano, além de uma ação de proteção ambiental, é também uma
medida de saúde”, afirma o autor principal da nota, o pesquisador Paulo
Moutinho, do IPAM. A preocupação reflete os dados do ano passado, quando os
municípios que mais queimaram na Amazônia viram o ar ficar 53% mais poluído, em
média, em relação a 2018. Moutinho ainda pondera que “uma não ação dos poderes
públicos na prevenção do desmatamento e das queimadas poderá representar perdas
de vidas humanas para além das previstas com a pandemia”. “Precaução é a
palavra chave agora”, conclui.
Normalmente, anos assim
cheios de fumaça levam centenas de pessoas para postos de saúde e hospitais da
região. Se isso acontecer em 2020, elas encontrarão leitos ocupados por
infectados pelo coronavírus.
“Durante a temporada de fogo,
extensas áreas da Amazônia têm qualidade do ar pior que no centro da cidade de
São Paulo devido às queimadas. Isso tem forte efeito na saúde, especialmente em
crianças e idosos, que são as populações mais vulneráveis”, explicou o físico
Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo, que colaborou com o trabalho. “Como
a poluição das queimadas viaja por milhares de quilômetros, comunidades
isoladas de índios respiram esta atmosfera insalubre, que é muito acima dos
padrões de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde.”
Quatro estados concentram 88%
da área desmatada e não queimada: Pará (com 42%) dos 4,5 mil km2,
Mato Grosso (23%), Rondônia (13%) e Amazonas (10%). Olhando com mais cuidado,
onze regiões são especialmente preocupantes. Elas devem ser consideradas como
prioritárias para ações de comando e controle, especialmente aquelas planejadas
pelo governo federal, assim como para o planejamento de atendimento à saúde
pelos governos estaduais.
O fogo é o próximo passo no
processo de conversão de uma floresta em outro uso da terra, como pasto,
explica a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, que também assina a nota
técnica. “Por isso, quando temos uma taxa de desmatamento alta na Amazônia, a
relação com o aumento de focos de calor é direta. Foi o que vimos acontecer em
2019 e, infelizmente, se nada for feito, é o que deveremos ver em 2020, já que
a derrubada continua num ritmo elevado”.
Desmatamento e grilagem
deixam Amazônia em chamas.
Incêndios florestais na
Amazônia, praga que se repete anualmente, estiveram em ritmo acelerado em 2019
com aumento de grilagem e desmatamento.
Incêndios florestais
aumentaram em 2019 e cortes do governo no Ministério do Meio Ambiente devem
colocar ainda mais lenha na fogueira. (ecodebate)
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