“Na Amazônia, nós temos 87% de Mata Atlântica e 13% de queimadas”. Essa foi uma das frases do ministro das Comunicações, deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), em entrevista dia 09/07/2020 à CNN Brasil. Na ocasião, ele repercutia a reunião que ministros e o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), fizeram com investidores estrangeiros sobre a política ambiental do Governo Federal – em que trataram do desmatamento na Amazônia e tentaram melhorar a imagem do país no exterior. Acontece que, nesta entrevista, o ministro comete um erro crasso para uma autoridade, a Mata Atlântica não fica na Amazônia. Então, para esclarecer essa dúvida do ministro e, principalmente, informar ao público geral – que pode ter ficado mais confuso – vale explicar o que é a Mata Atlântica, onde ela fica e sua importância para o Brasil.
A área da Mata Atlântica cobre 15% do território nacional, passando por 3.429 municípios (61% das cidades brasileiras) e 17 estados, todos nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul. São eles: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Destes, 14 são costeiros – e por isso o bioma tem esse nome, uma vez que o Brasil é banhado pelo Oceano Atlântico. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que havia originalmente quando os portugueses chegaram ao Brasil, inclusive quando avistaram terra, nada mais era do que a nossa Mata Atlântica! A árvore que deu nome ao país, o Pau-Brasil, também é uma espécie nativa desta floresta.
A Mata Atlântica é fundamental para a qualidade de vida dos brasileiros. Serviços essenciais como abastecimento de água, regulação do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo, também dependem do bioma. Além disso, ela concentra 70% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. É um dos biomas mais ricos em diversidade de espécies e mais de 60% dos animais ameaçados de extinção do Brasil estão na Mata Atlântica.
Infelizmente, este foi o bioma que mais sofreu com os ciclos econômicos brasileiros. Pouco a pouco a mata foi perdendo seu lugar, chegando a quase 90% de sua área original destruída. Tudo isso, pois o Brasil sempre seguiu um modelo ultrapassado de desenvolvimento sustentado no mito da abundância, em que todos os principais ciclos econômicos da história seguiram a lógica de que o crescimento se dá por expansão territorial e desmatamento.
No
último ano, o desmatamento do bioma aumentou quase 30%, após dois anos
consecutivos de quedas históricas. Portanto, é preciso que a sociedade se
mantenha vigilante quanto à situação do bioma, que vem sofrendo ataques e diversas
ameaças de quem mais deveria lutar por sua conservação. Neste momento, o
Governo Federal tenta no Supremo Tribunal Federal (STF) mudar o entendimento da
aplicação da Lei da Mata Atlântica – a única no Brasil a ser específica para um
bioma, com o objetivo de aplicar regras mais brandas, constantes do Código
Florestal. Se isso acontecer, haverá uma anistia a crimes ambientais na Mata
Atlântica, pois somente no IBAMA, mais de 1.400 multas poderão ser canceladas,
colocando em risco a preservação da Mata Atlântica. Outra medida em risco seria
a restauração florestal no bioma, que seria colocada em xeque.
“Além do desconhecimento sobre o território brasileiro, o que mais nos deixa em alerta é que esta fala do ministro simboliza a falta de atenção que o governo dá para as questões ambientais. De que adianta fazer uma reunião com investidores estrangeiros se, na prática, o governo desmonta a área ambiental, como conselhos e fundos de meio ambiente?”, questiona Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.
Para Mantovani, um ministro das Comunicações falar sobre o tema é prova de que as ações atuais do Governo Federal não passam apenas de busca por melhoria de imagem e não uma ação efetiva. “O governo está praticando greenwashing (lavagem verde), termo que usamos para explicar quando pessoas ou corporações falam sobre meio ambiente, mas nada fazem a seu favor. Tanto que temos um Ministério do Meio Ambiente que luta contra sua própria pasta”, finaliza ele. (ecodebate)
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