quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Desmatamento na Amazônia e crise do coronavírus

Desmatamento na Amazônia e crise do coronavírus: analistas preveem Brasil isolado.
Enquanto as críticas internacionais se acumulam, os líderes brasileiros afirmam não entender. A Sputnik Brasil ouviu analistas para discutir as possíveis consequências do isolamento do Brasil na arena global.

Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmar que a pandemia de coronavírus não passava de uma "gripezinha" e que ele não corria risco por seu "histórico de atleta", o Brasil tem um dos piores registros no combate ao coronavírus. O país é o segundo em todo o mundo com mais casos e mortes de COVID-19, atrás apenas dos Estados Unidos.

A pauta ambiental também traz dores de cabeça ao Palácio do Planalto. O desmatamento cresceu pelo 14º mês consecutivo na Amazônia, Bolsonaro já demitiu o cientista Ricardo Galvão, então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por divulgar dados sobre a devastação ambiental e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi gravado afirmando durante a reunião ministerial de 22 de abril que o foco da imprensa na pandemia deveria ser aproveitado para "passar o trator".

Pedaços de troncos de árvores da Amazônia derrubadas ilegalmente na reserva Renascer, no Pará

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a imagem nacional está "muito ruim" no exterior. Em videoconferência com empresários em junho, o homem-forte da economia disse não acreditar que o Brasil caminha para uma recessão, mas sim para uma recuperação. Ao contrário de Guedes, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o PIB brasileiro encolherá 9,1% em 2020. O Banco Central também aponta para uma retração, embora menor: 6,4%.

"Estão na verdade disfarçando velhas teses protecionistas contra o Brasil, jogando pecha independentemente de haver embasamento factual ou não", disse Guedes.

Para os analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, o que se aproxima é, na realidade, um afastamento dos outros países e empresas do Brasil por conta dos rumos do país.

O professor de História e Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Roberto Santana ressalta que existe um "consenso" internacional sobre a importância da agenda ambiental e que o Brasil perdeu a importância que tinha na discussão desta pauta.

"O aumento das queimadas na Amazônia, o avanço do garimpo ilegal, do agronegócio sobre a Amazônia, e os ataques, inclusive com assassinatos de populações tradicionais, principalmente povos indígenas. Isso é muito nocivo para a imagem do país no exterior, isso retira o Brasil de uma condição de grande ator nas discussões sobre as questões ambientais internacionais", afirma Santana.

Com esta situação, diz o professor da UERJ, marcas e países já começam a se afastar do Brasil e um dos sintomas deste quadro é o acordo entre União Europeia e Mercosul. Santana ressalta a resistência dos europeus, principalmente da França, em ratificar a parceria por conta das cláusulas ambientas presentes no acordo.

Além da França, representantes da Alemanha, Bélgica e Hungria já expressaram reservas sobre o acordo entre os dois blocos.

"O Brasil já está perdendo muito em matéria de comércio internacional e relações diplomáticas devido a essa condução desastrosa tanto na pauta ambiental quanto no combate ao coronavírus", diz Santana.

O professor da UERJ também afirma que a previsão de Guedes sobre a retomada econômica do país "não tem a menor relação com a realidade" e que a recessão econômica global que acontecerá por consequência da COVID-19 será mais forte no Brasil.

China já cancelou compra de carne brasileira.

O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Fernando Brancoli também acredita que as escolhas políticas de Bolsonaro trarão prejuízo ao país. Para ele, tanto a ausência de políticas públicas quanto a defesa da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada, mostram a "incapacidade" do governo em lidar com a pandemia.

O analista também relembra a decisão da China de suspender as importações de determinados frigoríficos brasileiros após o registro do aumento de casos de COVID-19 entre os trabalhadores do setor.

"A gente pode argumentar que isso pode transbordar para outros pontos, em parte também porque o que tem sido visto, principalmente na Europa, é de que a incapacidade do governo Bolsonaro de lidar com a pandemia é um reflexo maior de certa incompetência generalizada do governo", afirma Brancoli. (sputniknews)

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