Após o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) afirmar que a pandemia de coronavírus não passava de
uma "gripezinha" e que ele não corria risco por seu "histórico
de atleta", o Brasil tem um dos piores registros no combate ao
coronavírus. O país é o segundo em todo o mundo com mais casos e mortes de
COVID-19, atrás apenas dos Estados Unidos.
A pauta ambiental também traz dores de cabeça ao Palácio do Planalto. O desmatamento cresceu pelo 14º mês consecutivo na Amazônia, Bolsonaro já demitiu o cientista Ricardo Galvão, então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por divulgar dados sobre a devastação ambiental e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi gravado afirmando durante a reunião ministerial de 22 de abril que o foco da imprensa na pandemia deveria ser aproveitado para "passar o trator".
Pedaços de troncos de árvores da Amazônia derrubadas ilegalmente na reserva Renascer, no Pará
O ministro da Economia, Paulo
Guedes, afirmou que a imagem nacional está "muito ruim" no exterior.
Em videoconferência com empresários em junho, o homem-forte da economia disse
não acreditar que o Brasil caminha para uma recessão, mas sim para uma
recuperação. Ao contrário de Guedes, o Fundo Monetário Internacional (FMI)
prevê que o PIB brasileiro encolherá 9,1% em 2020. O Banco Central também
aponta para uma retração, embora menor: 6,4%.
"Estão na verdade
disfarçando velhas teses protecionistas contra o Brasil, jogando pecha
independentemente de haver embasamento factual ou não", disse Guedes.
Para os analistas ouvidos
pela Sputnik Brasil, o que se aproxima é, na realidade, um afastamento dos
outros países e empresas do Brasil por conta dos rumos do país.
O professor de História e
Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Roberto
Santana ressalta que existe um "consenso" internacional sobre a
importância da agenda ambiental e que o Brasil perdeu a importância que tinha
na discussão desta pauta.
"O aumento das queimadas
na Amazônia, o avanço do garimpo ilegal, do agronegócio sobre a Amazônia, e os
ataques, inclusive com assassinatos de populações tradicionais, principalmente
povos indígenas. Isso é muito nocivo para a imagem do país no exterior, isso
retira o Brasil de uma condição de grande ator nas discussões sobre as questões
ambientais internacionais", afirma Santana.
Com esta situação, diz o
professor da UERJ, marcas e países já começam a se afastar do Brasil e um dos
sintomas deste quadro é o acordo entre União Europeia e Mercosul. Santana
ressalta a resistência dos europeus, principalmente da França, em ratificar a
parceria por conta das cláusulas ambientas presentes no acordo.
Além da França, representantes
da Alemanha, Bélgica e Hungria já expressaram reservas sobre o acordo entre os
dois blocos.
"O Brasil já está
perdendo muito em matéria de comércio internacional e relações diplomáticas
devido a essa condução desastrosa tanto na pauta ambiental quanto no combate ao
coronavírus", diz Santana.
O professor da UERJ também afirma que a previsão de Guedes sobre a retomada econômica do país "não tem a menor relação com a realidade" e que a recessão econômica global que acontecerá por consequência da COVID-19 será mais forte no Brasil.
China já cancelou compra de carne brasileira.
O professor de Relações
Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Fernando
Brancoli também acredita que as escolhas políticas de Bolsonaro trarão prejuízo
ao país. Para ele, tanto a ausência de políticas públicas quanto a defesa da
cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada, mostram a
"incapacidade" do governo em lidar com a pandemia.
O analista também relembra a
decisão da China de suspender as importações de determinados frigoríficos
brasileiros após o registro do aumento de casos de COVID-19 entre os
trabalhadores do setor.
"A gente pode argumentar
que isso pode transbordar para outros pontos, em parte também porque o que tem
sido visto, principalmente na Europa, é de que a incapacidade do governo
Bolsonaro de lidar com a pandemia é um reflexo maior de certa incompetência
generalizada do governo", afirma Brancoli. (sputniknews)
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