Quase metade dos municípios brasileiros ainda
despeja resíduos em lixões.
O
estudo revela que, uma década depois da promulgação da Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), o país ainda mostra alto índice de destinação
incorreta do lixo, com taxa mínima de reciclagem. De acordo com a pesquisa,
apenas 41,5% das prefeituras adotaram algum de sistema de custeio
individualizado, seja por taxa ou tarifa, para remunerar os serviços de manejo
de resíduos sólidos, medida prevista na PNRS.
A
pesquisa teve como base dados do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR)
relativos ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2018.
Dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 3.468 enviaram informações dentro do
prazo fixado pelo ministério. Desses, foram elegíveis para participar do estudo
3.313 cidades, que estavam com todos os dados solicitados.
O
assessor econômico do Selurb, Leonardo Silva, disse em 05/08/20 que o país
ainda registra a pendência de uma questão central estabelecida pela lei: a destinação
final adequada aos resíduos sólidos. Esse prazo passou inicialmente de 2010
para 2014 e, agora, para 2021/2022.
“É
um problema muito sério que impacta diretamente a saúde da população e o meio
ambiente. Já era para estar resolvido há muito tempo”, destacou Silva, em
entrevista à Agência Brasil.
Metade das cidades brasileiras ainda despeja lixo a
céu aberto.
Questão financeira
O
assessor admitiu que a questão financeira está diretamente relacionada à
destinação adequada para os resíduos sólidos. Entre os municípios pesquisados,
os que adotaram uma estrutura de arrecadação específica, seja na forma de taxa
ou tarifa, conseguiram construir aterros sanitários ambientalmente seguros e,
posteriormente, melhorar os índices de reciclagem.
Ainda
segundo ele, esses municípios também conseguem garantir a continuidade dos
serviços por meio de um efeito comportamental na consciência das pessoas,
incentivando a redução da geração de lixo e a separação para reciclagem e
compostagem. “São mudanças de atitude. O lixo colocado na porta da rua para ser
recolhido é um serviço como água e esgoto, que são cobrados dos consumidores”,
destacou Silva.
Regiões
Na
análise regional, o levantamento aponta que Nordeste e Norte continuam
atrasados em relação à política de resíduos sólidos.
“A
gente tem uma questão econômica, ausência de mecanismos de arrecadação e,
também, a questão de falta de regionalização, porque tem uma série de
municípios esparsos no território, com uma população pequena. A gente vê que
regiões que conseguiram avançar na aderência da política tendo esses aspectos
buscaram uma alternativa de regionalização”, destacou o assessor.
A
regionalização consiste em agrupar municípios pequenos, formando blocos, para poder,
a partir daí, pensar em soluções para o tratamento dos resíduos.
A
Região Sul aparece como destaque já que conseguiu fazer a regionalização das
pequenas cidades e uma estrutura de arrecadação mais consolidada, o que reflete
nos melhores índices de destinação correta e reciclagem.
No
Sul do país, a instituição de um mecanismo de arrecadação específica alcança
77,80% dos municípios pesquisados, com 86,04% de destinação correta dos
resíduos e índice de reciclagem de 7,66%. No Nordeste, esses números caem,
respectivamente, para 7,32%, 14,51% e 0,41%.
Ranking no Índice de Sustentabilidade da Limpeza
Urbana 2020
O
ranking das dez melhores cidades brasileiras no Índice de Sustentabilidade da
Limpeza Urbana 2020 está á concentrado nas regiões Sudeste e Sul do país.
A
exemplo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a nota do Índice de
Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU) vai de zero a 1. Quanto mais perto de
1, melhor é a aderência à política nacional e quanto mais longe, pior.
A
liderança do ranking é exercida pela cidade de Santos/SP, com 0,753 pontos. Em
seguida, aparecem Niterói/RJ, com 0,742; Caxias do Sul/RS e Blumenau/SC, com
0,734 cada; Rio de Janeiro/RJ, com 0,731. Joinville/SC surge na 10ª colocação,
com índice de 0,722.
Todos
os municípios do ranking tem mais de 250 mil habitantes e, de maneira geral,
têm uma economia mais desenvolvida e possuem operação logística de transporte
de custo elevado.
“Todas
têm uma estrutura consolidada de cobrança, quer seja na forma de uma taxa ou
tarifa, e uma destinação final adequada de 100% dos resíduos. Nenhum resíduo
vai para lixão ou para aterro controlado e [têm] reciclagem em índice um pouco
melhor”.
Segundo
Silva, o índice de reciclagem no Brasil (3,85%) ainda é muito baixo. Países da
zona do Euro e os Estados Unidos já atingiram índice de 30%, de acordo com o
Banco Mundial, o que é considerado “ótimo”.
Esta
é a quinta edição do estudo que vem sendo feito desde 2016. Os resultados
demonstram poucos avanços ou retrocessos quando comparados com a edição do ano
passado, apontou o Selurb.
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