A
Política Nacional de Resíduos Sólidos busca no seu princípio proteger e
resolver alguns graves problemas relacionados à saúde pública e ao meio
ambiente. Para isso, trouxe elementos que visam incentivar a indústria da
reciclagem, a gestão integrada dos resíduos sólidos e a universalização dos
serviços públicos de limpeza urbana. Afinal, com o crescimento da população e
do consumo dos brasileiros, se fazia necessário pensar de maneira objetiva em
elementos para colocar o consumo sustentável e a economia circular como uma
prioridade da nossa economia.
Para
isso, a PNRS ofereceu em seu texto instrumentos práticos para alcançar os
objetivos como coleta seletiva, logística reversa, planos de resíduos sólidos,
incentivo ao desenvolvimento de cooperativas de catadores, incentivos fiscais à
cadeia da reciclagem, educação ambiental, entre outros.
Mas
para que isso fosse de fato efetivo, era preciso que toda a sociedade estivesse
envolvida. Por isso, a legislação adotou o princípio da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, em que fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, poder público e até mesmo os
consumidores possuem atribuições individualizadas e encadeadas com vistas a
minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados. Todos deveriam
participar para que os impactos ao meio ambiente fossem sentidos.
10
anos da Política Nacional de Resíduos Sólidos: a lei realmente mudou o cenário
ambiental do Brasil?
No
que tange a logística reversa, instrumento caracterizado por um conjunto de
ações que visam viabilizar a restituição dos resíduos sólidos ao setor
produtivo, diversos segmentos de mercado se mobilizaram para realizar a sua
implantação. Dessa maneira, todos os entes envolvidos na fabricação,
comercialização e consumo de um produto poderiam garantir que o material
descartado fosse reaproveitado e se tornasse matéria-prima, seguindo os
preceitos da economia circular e da sustentabilidade. Nesse sentido, temos
exemplos muito exitosos iniciados antes da PNRS, mas fortalecidos com a
legislação, como é o caso das embalagens de defensivos agrícolas, que tiveram
94% de destinação ambientalmente correta, impulsionado pelas ações do Sistema
Campo Limpo. Outros exemplos positivos são o de embalagens de óleos
lubrificantes, cuja coleta foi de 98% e a reciclagem de 95,6% do total de
embalagens plásticas produzidas em 2018, e o de pneus inservíveis (que não
podem mais ser aproveitados), com a destinação correta de 4,5 milhões de
toneladas entre 1999 e 2017. A PNRS também impulsionou a realização de sistemas
de logística reversa em alguns outros setores como o de eletroeletrônicos.
Entre
os sistemas de logística reversa mais significativa do país, que surgiram após
a sanção da PNRS, está o de Embalagens. Este sistema foi implantado por meio do
Acordo Setorial de Embalagens em Geral, firmado em 2015 entre o Ministério do
Meio Ambiente e o setor produtivo, representado pelas associações que
constituíam a Coalizão Embalagens. Na época, a Coalizão reunia 20 associações
brasileiras que congregavam 3.876 empresas em diversos segmentos.
Mas
a principal lacuna brasileira em relação aos resíduos sólidos segue sendo os
lixões a céu aberto. A PNRS previa o fim dos lixões em 2014, mas por conta de
diversas dificuldades financeiras, limitações por parte dos municípios ou falta
de interesse dos governantes, a meta jamais foi alcançada. A ABRELPE apontou
que em 2018 foram destinados a lixões ou aterros controlados 29,5 milhões de
toneladas de resíduos em mais de 3 mil municípios, um cenário preocupante
considerando a quantidade de populações que vivem próximas a esses locais e que
estão expostas à poluição do ar, da água, e do solo, atração de vetores de
risco de incêndios. Para tentar solucionar o problema, o Congresso aprovou no
início desse mês o Marco Legal do Saneamento Básico, que estabelece um novo
prazo para o fim dos lixões entre 2021 e 2024 de acordo com o porte de cada
município. O cenário, porém, é de completa incerteza e de desconfiança de que
esses prazos podem ser cumpridos.
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