O
DIA DA ÁRVORE surgiu com a indignação de Julius Sterling Morton, ao perceber
que seu Estado, Nebraska, nos EUA estava sendo devastado e resolveu por sua
conta e risco iniciar um grande plantio de árvores, estabelecendo o “ARBOR
DAY”, que passou a ser comemorado todos os anos, logo no início da primavera
naquele país e em outros do hemisfério norte.
No
Brasil, o DIA DA ÁRVORE foi estabelecido pelo Decreto-Lei 55.795, assinado pelo
Presidente Castelo Branco, no inicio do período militar, em 24/02/1965,
estabelecendo que o mesmo fosse comemorando anualmente no dia 21 de setembro,
um dia antes do inicio da primavera, tendo como objetivos conscientizar a
população, os governantes e empresários e outras lideranças quanto à
importância das árvores e, quem sabe, das FLORESTAS, em relação ao meio
ambiente, desde então, considerado, pelo menos no papel, como se costuma dizer,
um bem coletivo de todos, tanto das atuais quanto das futuras gerações.
Existe
um provérbio de autoria desconhecida, que se diz de origem indígena, povos que
sabem, mais do que ninguém, da importância das árvores, das florestas, dos
rios, enfim, da biodiversidade, que em sua simplicidade demonstra uma grande
sabedoria.
Neste
DIA DA ÁRVORE em 2020, em Cuiabá, em Mato Grosso, no Centro-Oeste, na Amazônia
e em parte dos demais biomas pouco ou nada temos a comemorar. Todos os anos,
tanto no Brasil quanto em diversas outros países, ao se aproximar a primavera,
considerada a estação da esperança, quando tudo na natureza troca de cores com
predominância do verde e de diversas flores, ultimamente o Pantanal, o Cerrado,
a Amazônia e mesmo a Mata Atlântica ardem em chamas.
O
Brasil está literalmente, a cada ano, pegando fogo, mesmo que o Presidente
Bolsonaro diga que nosso país é o que melhor preserva o meio ambiente no mundo
e que queimadas devem ser consideradas normais, como disse em sua visita de
18/09/2020 a Sinop e Sorriso, em Mato Grosso “existem algumas queimadas”, não
são algumas, mas dezenas de milhares por este Brasil afora, a maioria
totalmente fora de controle. A imagem do Brasil, em decorrência da degradação
ambiental, do desmatamento, queimadas e o desrespeito aos direitos humanos,
principalmente na Amazônia, a cada dia esta ficando pior e poderá trazer sérios
prejuízos ao nosso comércio internacional, afetando de maneira mais direta o
agronegócio.
No
DIA DA ÁRVORE neste ano, diversas ações deverão ser realizadas, bem menos do
que em anos anteriores, devido às restrições impostas pelo CORONAVIRUS. São
ações principalmente de grupos voluntários, ONGs e outras entidades
representativas da sociedade civil organizada.
Aqui
mesmo em Cuiabá, fruto de certo inconformismo e indignação de algumas pessoas
que não se conformam com a falta de árvores e de arborização, com as
temperaturas acima de 40°C, humidade do ar pior do que em desertos e nuvens de
fumaça que ameaça a saúde das pessoas, repito, aqui em Cuiabá, na que foi
outrora considerada a CIDADE VERDE, um grupo de voluntários, coordenado pela
jovem advogada Silvia Mara Arruda, está articulando o PROJETO CUIABÁ MAIS
VERDE, e como ação simbólica, 50 voluntários deste grupo, no DIA DA ÁRVORE,
estarão plantando 50 mudas de árvores, no inicio da Avenida Helder Cândia,
também conhecida como Estrada da Guia, onde deverá ser implantado o projeto
piloto, em uma extensão de pouco mais de 3,2 km no perímetro urbano, contando
com a colaboração da Prefeitura de Cuiabá e diversas outras entidades. Este
será um trabalho hercúleo como do beija-flor tentando combater as queimadas nas
florestas, mas tem seu valor.
Quando
falamos em árvores não podemos deixar de mencionar o papel e a importância das
mesmas e, por extensão, das florestas em geral e das florestas urbanas, das
áreas verdes, das áreas de proteção ambiental como base e fundamento da
sustentabilidade.
Segundo
estudo recente da Sociedade Zoológica de Londres, desde 1970 até 2019, nada
menos do que 60% da fauna terrestre já foi destruída e a cada ano, com as
queimadas que aumentam em todos os países tropicais, incluindo o Brasil como
destaque esta destruição, como esta atualmente acontecendo com as queimadas no
Pantanal, as piores em mais de 50 anos de registros, quando até o momento mais
de 3,0 milhões de ha já foram devastados pelo fogo, isto significa a morte de
dezenas de milhares de animais e de quase um bilhão de árvores.
Estima-se
que a cada ano são destruídos mais de 20,5 milhões de ha no Brasil, fruto do
desmatamento e das queimadas. A vegetação, ou seja, a biodiversidade da flora
consegue se regenerar em parte alguns anos após esses desastres, mas se em um
período inferior a cinco ou dez anos a mesma área for novamente destruída pelas
queimadas, uma ou mais vezes, com alta probabilidade que essas áreas não
consigam se regenerar e o que antes era Floresta, cerrado ou pantanal acaba se
transformando em savana ou áreas degradadas.
Pior
do que as perdas para a flora são as perdas dos animais que jamais irão
renascer das cinzas e ano após ano dezenas de milhares de animais, de diversas
espécies, como está acontecendo há mais de 3 meses no PANTANAL, simplesmente
desaparecerão, várias espécies, algumas ameaçadas de extinção, com certeza
serão extintas por completo, ante o olhar passivo e omisso de quem deveriam bem
cuidar do meio ambiente.
Quando
surgem esses “desastres” /crimes ambientais é comum essas áreas receberem
visitar em voos aéreos por parte de inúmeras autoridades, apenas, como se diz
“chorar sobre o leite derramado”, já que se omitiram quando das ações de
prevenção, conforme pode-se perceber analisando os cronogramas de desembolsos,
por exemplo, do Ministério do Meio Ambiente, em seus vários programas,
incluindo de prevenção, combate e controle de incêndios florestais.
Além
dos impactos na biodiversidade, o desmatamento e as queimadas interferem no
regime de chuvas, com secas mais prolongadas ou volume cada vez menor de chuva,
e com isto córregos e rios que formam bacias, como a do Rio Paraguai, fruto do
desmatamento e ocupação ilegal de suas cabeceiras, simplesmente também morrem,
afetando todas as atividades humanas ao longo de seu curso e também afetando o
equilíbrio dos biomas.
Estamos
vivendo em um momento em que as mudanças climáticas representam uma ameaça real
à sobrevivência humana no planeta, os níveis de emissão de gases de efeito
estufa, apesar do Acordo de Paris e do compromisso firmado por 195 países,
inclusive o Brasil, tem aumentado consideravelmente nos últimos cinco anos.
Segundo
estudos da ONU e de diversos cientistas a média mundial de emissão de gases de
efeito estufa per capita ano é de 5 toneladas, sendo que a esta média nos
países industrializados, desenvolvidos, é entre 20 a 24 toneladas per capita
ano. Em 2018 foram emitidos 6.677 milhões de toneladas métricas de CO2
(dióxido de carbono) equivalente e esses gases permanecem “presos” na atmosfera
por muito tempo, alguns mais de 500 anos.
De
acordo com a organização World Resources Institute, em estudo recente, as
emissões de gases que provocam o efeito estufa, o aquecimento global e as
mudanças climáticas aumentaram em 40% entre 1960 e 2016.
O Brasil é o 7º país que mais provoca emissão de gases de efeito estufa e a participação das florestas, o uso da terra e as mudanças do uso da terra contribuíram com 59% dessas emissões e as atividades da agropecuária com 21%, da geração e uso de energia com 14,8% e os demais setores com 5,8%.
Dia da árvore: desmatamento foi caindo, mas ainda há desafios.
Segundo
monitoramento, entre 2004 e 2017, a taxa de derrubada das matas na Amazônia
Legal caiu 75%, saindo de 27,7 mil km2 para 6,9 mil km2.
Só
existem duas maneiras destes problemas serem resolvidos, a primeira é reduzindo
drasticamente essas emissões, promovendo alterações profundas no modelo de
desenvolvimento, principalmente na matriz energética, como consta do ACORDO DE
PARIS e a outra é através de sequestro desses gases, onde o papel das árvores e
das florestas é fundamental, além dos oceanos e do solo.
A
ONU, em recente discussão sobre mudanças climáticas, enfatizou este aspecto ao
afirmar que “plantar árvores é a coisa mais importante que nós podemos fazer,
para contribuirmos para a saúde do planeta, combater as mudanças climáticas e o
aquecimento global e, também, proporcionar melhores condições de vida, de saúde
e de bem estar para a população atual e as futuras gerações”.
A
NASA também tem enfatizado a importância de se plantar árvores, reflorestar,
arborizar todos os espaços possíveis é a forma mais racional, mais efetiva e
mais barata para o sequestro de carbono da atmosfera terrestre, este é o único
caminho para salvar o planeta terra.
Uma
árvore adulta, em sua vida, consegue remover/sugar, dependendo de seu tamanho,
entre 100 a 150 kg de CO2 (dióxido de carbono) equivalente. Se em um
ano no Brasil são destruídos mais de 20 milhões de ha, ou, quase dez bilhões de
árvores, podemos imaginar quanto de gases de efeito estufa que essas árvores
poderiam ter sequestrado/sugado da atmosfera.
Neste
DIA DA ÁRVORE, em 2020, é importante que cada pessoa esteja mais consciente
quanto a importância de melhor cuidarmos de “nossa casa comum”, como sempre diz
e enfatiza o Papa Francisco. Precisamos plantar milhares, milhões, bilhões de
árvores, cuidarmos de nossas florestas e não permitirmos que a ganância humana,
a busca desenfreada pelo lucro imediato, o desrespeito à natureza continuem
destruído um patrimônio que é de todos e não de apenas alguns da geração atual.
Um
último aspecto a ser considerado é quanto ao papel do Estado, vale dizer, dos
organismos públicos federais, estaduais e municipais. É fundamental que todos
os níveis de governo assumam mais suas responsabilidades relativas ao meio
ambiente, principalmente, em atividades de prevenção e não apenas “agirem” após
os desastres estarem instalados, em caráter emergencial, como atualmente está
acontecendo no Pantanal em que cuja área atingida é de quase ⅓ de todo o bioma.
Estamos
às vésperas das eleições municipais e em janeiro próximo (2021) terão inicio
novas gestões/administrações municipais, é fundamental que a população exija
que os futuros prefeitos, nos municípios que ainda não tem Planos Municipais de
Arborização Urbana (os famosos PDAUs), que coloquem a elaboração e
implementação de tais planos em suas agendas e planos de governo.
Lutar
por planos de arborização urbana também é cidadania, é lutar por cidades
verdes, sustentáveis e mais humanas, com melhor qualidade de vida para toda a
população.
A ação voluntária por parte dos cidadãos, contribuintes, empresários e ONGs é importante e fundamental neste processo, mas a quem cabe ter a primazia para conduzir o processo são as prefeituras e as Câmaras Municipais, afinal pagamos impostos e precisamos de retorno na forma de obras e serviços públicos de qualidade, incluindo a área ambiental, tão esquecida e negligenciada por parte de nossos governantes.
Dia da árvore: queimadas sem precedentes castigam florestas e alertam para necessidade da preservação.
Além
de plantarmos algumas mudas de árvores, é também o dia de despertarmos a
consciência do desastre ambiental que estamos vivenciando e ter a certeza de
que se nada for feito de fato, agora, o futuro será muito pior.
O DIA DA ÁRVORE só tem sentido se estiver inserido no contexto ambiental, da ECOLOGIA INTEGRAL, incluindo nas apenas as atividades econômicas, mas também as florestas, o desmatamento, as queimadas e a degradação ambiental em sentido mais amplo. (ecodebate)
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