As cédulas são uma das
maiores divulgadoras da fauna brasileira. Desde 1994, com o surgimento do real,
elas trazem estampados os animais que povoam a biodiversidade do país. Agora,
para a anunciada nota de R$ 200, que o Banco Central colocará em circulação em
agosto, a imagem escolhida é a do Lobo-Guará, o maior canídeo sul-americano e
típico do Cerrado.
“O lobo-guará é talvez a
espécie mais icônica do bioma Cerrado. É um animal sempre associado à imagem
dos vastos campos e savanas permeados pelas belíssimas veredas que compõem as
paisagens especiais do Brasil Central. É muito importante associarmos nosso
patrimônio natural a símbolos de valor, mas isso precisa vir associado à
consciência de que para sobreviverem necessitam que seu habitat natural esteja
preservado”, alerta Reuber Brandão, membro da RECN – Rede de Especialistas em
Conservação da Natureza e professor associado da Universidade de Brasília.
Elegante e discreto, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é o maior canídeo silvestre da América do Sul. Números estimados apontam que no Brasil há cerca de 24 mil indivíduos, com a maior parte deles vivendo no Cerrado. Eles podem ser encontrados ainda, em menor número, na Mata Atlântica, no Pantanal e no Pampa.
Lobo-guará, o 'semeador de árvores' ameaçado na natureza e homenageado em nota de R$ 200, o animal foi duramente afetado pela constante expansão do agronegócio.
O lobo-guará figura na lista
de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente, na categoria de
vulnerável, e depende da preservação de seus ambientes naturais para continuar
existindo. O comprometimento dos seus habitats está associado ao crescimento
das chamadas áreas antropizadas (onde a natureza sofre a ação do homem). Além
da degradação do meio afetar diretamente a manutenção da vida nessas
localidades, o avanço desordenado de atividades humanas sobre o Cerrado e
centros urbanos proporcionam a perda de hábitats, o aumento da caça, de
atropelamentos e da disseminação de doenças a partir do contato com cães
domésticos.
Estima-se que cerca da metade
da área original do Cerrado já tenha sido destruída. Incêndios florestais,
obras de infraestrutura para energia hidrelétrica e demanda por carvão vegetal
para a indústria siderúrgica também ameaçam o bioma.
“Precisamos entender que
existe diferença entre valor e grandeza. Apesar da escolha da espécie para
ilustrar as novas cédulas de real ser positiva, o valor destes organismos e da
natureza brasileira é imensamente superior ao valor nominal do dinheiro. Nesse
caso, a grandeza se traduz por meio de medidas efetivas pela proteção do
patrimônio natural imenso, insubstituível e único. É atribuir valor à
conservação da biodiversidade, do bioma Cerrado, das Unidades de Conservação de
Proteção Integral e ao icônico e elegante lobo-guará”, avalia Brandão.
O lobo-guará
O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) pode atingir até 1 metro de altura e pesar 30 quilos. Sua pelagem laranja avermelhada, além da beleza, lhe confere alguns apelidos, como lobo-de-crina e lobo-vermelho. Sua gestação dura pouco mais de dois meses, com média de dois filhotes. Livre na natureza, vive cerca de 15 anos. Além do Brasil, é encontrado na Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai.
Tem comportamento discreto, solitário e pouco ofensivo, preferindo se manter distante dos humanos. Geralmente, pode se alimentar de animais de grande porte, como os veados campeiros, ou pequeno porte, como roedores, tatus e perdizes, além de frutos típicos do Cerrado, como o araticum (Annona crassiflora) e a lobeira (Solanum lycocarpum), também atuando como importante dispersor de sementes. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário