Enfim, isto e muitos outros
aspectos é o que fazem das cidades lugares aprazíveis para se viver, com
qualidade de vida, com segurança e com saúde ou o que podemos denominar do BEM
VIVER. Cidades assim são denominadas de CIDADES VERDES ou então CIDADES
SUSTENTÁVEIS. Este deve ser o sonho de consumo de milhões e bilhões de pessoas
que jazem às margem da sociedade, excluídas econômica, social, ambiental e
politicamente.
A grande maioria das cidades
mundo afora, inclusive no Brasil, mais se parecem com áreas segregadas,
verdadeiros apartheids sociais e econômicos, onde convivem, às vezes lado a
lado, uns poucos bairros ou residenciais de alto luxo, com características de
uma cidade verde ou sustentável, e a maior parte do espaço urbano com as características
que bem conhecemos e, às vezes, principalmente os governantes, fingem não
perceberem que mais de 80% da população de algumas cidades vivem na mais
precária e degradante situação e condição de vida.
Diante de tantos desastres e
degradação ambiental que vem ocorrendo em diversos países, em todos os
continentes, inclusive no Brasil, em todos os Estados e municípios, diante da
constatação de que as mudanças climáticas estão se tornando uma ameaça à vida
no planeta e a própria sobrevivência da humanidade, parece que, a duras penas,
o nível de consciência ambiental vem ganhando espaço paulatinamente, mas, em
minha opinião, ainda de forma muito vagarosa. Parece que ainda não acordamos
deste sono letárgico, desta alienação que, de forma passiva nos impõe um olhar
desvirtuado desta triste e cruel realidade.
Todavia, além desses aspectos,
outro fator que também tem contribuído para este despertar vagaroso da
consciência quanto à gravidade da situação ambiental é que a população mundial,
em praticamente todos os países está cada vez mais concentrada no meio urbano,
onde é gerada a maior fatia do PIB mundial e também onde são produzidos os
maiores volumes de gases de efeito estufa, oriundos, basicamente, dos diversos
tipos de poluição, principalmente da poluição do ar e que são os maiores
causadores do aquecimento do planeta e a maior causa das mudanças climáticas.
Diante do avanço da urbanização
que tem ocorrido, principalmente nos países do chamado terceiro mundo e também
dos países emergentes, que, por ironia são os mais populosos, a preocupação com
o desenvolvimento sustentável e com a presença do verde, tem se tornado um
elemento crucial no que concerne ao planejamento estratégico e sustentável das
cidades. Daí, o surgimento do conceito de cidades sustentáveis e de cidades
verdes.
No contexto da sustentabilidade
e, principalmente, das cidades sustentáveis, o verde é condição necessária, mas
não suficiente, para que as cidades possam, de fato, serem consideradas
sustentáveis.
No entanto, podemos afirmar,
sem sombra de dúvida, de que sem o verde, abundante, sem arborização dos
espaços públicos e privados, sem áreas verdes, sem áreas de proteção ambiental,
sem quintais verdes, sem florestas urbanas, uma cidade, mesmo que tente atender
`as demais dimensões da sustentabilidade, jamais poderá ser considerada uma
cidade sustentável.
O verde é essencial para proteger as nascentes, as margens de córregos, dos rios e lagos, para sequestrar carbono e outros gases tóxicos que são lançados diariamente e se acumulam na atmosfera, para embelezar a cidade, para dar sombra e frutos, para propiciar a existência da biodiversidade, para manter o regime das chuvas, para a valorização dos imóveis, para garantir saúde para todos e para melhorar ou garantir uma boa qualidade de vida.
O conceito de sustentabilidade como é conhecido e utilizado atualmente, surgiu em 1987, quando da apresentação do Relatório “NOSSO FUTURO COMUM”, produzido, a pedido da ONU, pela Comissão Brundtland, quando a ideia de desenvolvimento sustentável passou a ser uma preocupação e um dos mais importantes pressupostos do planejamento urbano e, também de cientistas e líderes mundiais.
Por decisão da Assembleia Geral
da ONU aquela Comissão tinha como missão e objetivo analisar os impactos que as
atividades humanas têm ou tinham sobre os recursos naturais do planeta, ou
seja, sobre o meio ambiente.
No entanto, mesmo antes do
Relatório da Comissão Brundtland, nos EUA, em 1969, quando da aprovação da
primeira legislação nacional de proteção ao meio ambiente, o conceito de
desenvolvimento sustentável foi formulado/definido como sendo o desenvolvimento
econômico que beneficie a atual geração (daquela época ou de cada época
considerada) e também sem prejudicar as futuras gerações e, ao mesmo tempo,
sem causar danos (degradação ambiental) aos recursos do planeta, incluindo seus
recursos biológicos/biodiversidade, as águas, o solo e o ar.
Daí surge a certeza, baseada em
estudos, pesquisas e constatações científicas, de que os recursos naturais não
são infinitos, mas sim limitados e não podem ser explorados de forma
predatória, mas com parcimônia e no contexto do bem comum e da justiça
ambiental.
Desde meados da década de 1960,
com ênfase nos anos seguintes e com mais vigor na atualidade, em todos os
centros de estudos, pesquisas e universidades a questão da sustentabilidade
passou a ser objeto de análise em diversas disciplinas acadêmicas e, aos poucos
surgiu a certeza de que apenas na interdisciplinaridade, em uma perspectiva
holística, podemos pensar, planejar e gerir as cidades, tendo como foco central
o que hoje conhecemos como CIDADES SUSTENTÁVEIS, CIDADES VERDES ou
sustentabilidade urbana. Isto está muito próximo do que o Papa Francisco tem
enfatizado na Encíclica “Laudato SI”, quando fala de ECOLOGIA INTEGRAL.
O ano de 2015 é um marco
significativo para as relações da humanidade e a natureza. Naquele ano o Papa
Francisco apresentou ao mundo a Encíclica LAUDATO SI (a chamada Encíclica
Verde), enfatizando as ideias e conceitos de que tudo neste planeta terra, que
é a nossa CASA COMUM, está interligado nesta teia de relações, de que os
recursos naturais devem ser usados para o bem comum e a melhoria da qualidade
de vida da população inteira e não apenas como um bem privado ou de apenas
alguns países ou grupos dominantes, que visam única e exclusivamente a
exploração irracional dos recursos naturais e o lucro, que é o motor de uma
economia insana e desumana, razão pela qual o Santo Padre tem também insistido
quando fala da NOVA ECONOMIA ou a ECONOMIA DE FRANCISCO.
Mais de 190 países firmaram o
compromisso de atingir tais objetivos e metas até o ano 2030 em diversas áreas,
a quase totalidade delas que tem uma estreita relação com o meio urbano, com as
cidades, onde a cada ano uma maior proporção de pessoas fazem seu local de
residência/moradia e trabalho.
Apesar de passar 5 anos desses
marcos internacionais, muitos países ainda ignoram, inclusive o Brasil, os
Estados e municípios a importância desses objetivos e suas metas como bússolas
para planejarem, definirem politicas, estratégias e ações para que os mesmos
sejam conquistados.
De forma semelhante, apesar da
ênfase contida na Encíclica Laudato Si e das constantes exortações do Papa
Francisco, a grande maioria dos católicos, incluindo fiéis, sacerdotes ou mesmo
membros da alta hierarquia da Igreja em diversos países, inclusive no Brasil,
simplesmente continuam ignorando o conteúdo da Encíclica Verde, as exortações e
apelos do PAPA e pouco ou quase nada existe em termos de atuação nas paróquias,
dioceses e arquidioceses que demonstram que existe um empenho real da Igreja na
defesa e cuidado com o meio ambiente.
Mesmo que praticamente todos os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável direta ou indiretamente estejam
relacionados com o meio ambiente e com as cidades, onde vivem os maiores
contingentes populacionais, alguns tem um significado maior para a
sustentabilidade urbana.
Alguns estudiosos, tentam
classificar ou agrupar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) em
quatro grupos, a saber: Dimensão social: 1) erradicação da pobreza; 2)
fome zero e agricultura sustentável; 3) saúde e bem-estar; 4) educação de
qualidade; 5) igualdade de gênero e 10) redução das
desigualdades; Dimensão ambiental: 6) água potável e saneamento
básico; 7) energia limpa e acessível; 12) consumo e produção responsável; 13)
ação contra as mudanças global do clima; 14) vida na água; 15) vida
Terrestre; Dimensão econômica: 8) trabalho decente e crescimento
econômico; 9) indústria, inovação e infraestrutura e 11) cidades e
comunidades sustentáveis e, finalmente, Dimensão institucional: 16)
paz, justiça e instituições eficazes e, 17) parcerias e meios de implementação.
Como em todas as
classificações, não existem limites rígidos entre os grupos de objetivos,
muitos ou todos estão inter-relacionados e os efeitos das ações ou omissões em
relação aos mesmos também tem caráter holístico.
Por exemplo, o Objetivo número 11 estabelece: “Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis”, está intimamente relacionado com os seguintes objetivos:15 “Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade”, bem como o Objetivo 13. “Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos” e também os demais objetivos inseridos no contexto da dimensão ambiental e, intimamente interligados com o de número 2. “fome zero e agricultura sustentável”, principalmente com a agricultura urbana e periurbana e também com o objetivo 12. “consumo e produção responsável”, que ,se assim não acontecer, produziremos a cada dia e a cada ano um volume muito maior de resíduos sólidos/lixo, principalmente plásticos, que aumentarão a poluição das águas (córregos, rios, lagos/lagoas e os oceanos).
Incríveis cidades verdes do futuro.
Também é importante destacar
que na elaboração e aprovação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável é
feita uma referência explícita ao Acordo de Paris, que estabeleceu uma série de
compromissos de todos os países com medidas e ações que consigam reduzir as
emissões de gases de efeito estufa de tal maneira que a temperatura média do
planeta fique entre 1,5° e 2°C centigrados a mais, considerando o marco
temporal dos níveis pré-industriais.
Com certeza, o terceiro marco
importante na questão ambiental foi, sem dúvida, a aprovação do ACORDO DE
PARIS, também em 2015, estabelecendo que “Reconhecemos que a UNFCCC [Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima] é o principal fórum
internacional e intergovernamental para negociar a resposta global à mudança
climática. Estamos determinados a enfrentar decisivamente a ameaça representada
pela mudança climática e pela degradação ambiental”.
Apesar deste compromisso
solene, alguns países, como os EUA deixaram o Acordo e outros, como o Brasil,
pouco fazem para de fato, cumprirem integralmente os compromissos assumidos
naquele Fórum Ambiental Internacional.
Em 2018, o IPEA publicou um
documento bem extenso (546 páginas) intitulado “AGENDA 2030 ODS – Metas
Nacionais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, detalhando cada
objetivo, suas metas e indicadores e quais são os compromissos firmados pelo
Brasil para que em 2030, passamos dar a nossa contribuição para um mundo melhor,
com melhor qualidade de vida, economicamente menos injusto, socialmente mais
solidário, ambientalmente mais sustentável e democraticamente mais
transparente e participativo. Estamos muito longe de atingirmos aqueles
objetivos e metas, apesar dos discursos falaciosos de nossas autoridades.
O que seria razoável é que
tanto o Governo Federal quanto os governos estaduais e municipais incluíssem,
de forma explícita, tais objetivos, metas e indicadores em seus respectivos
planos, politicas, estratégias e ações de governo, visando, de fato, um
desenvolvimento sustentável, integrado, articulado, enfim, uma agenda cujo
horizonte deve ser o ano de 2030, de acordo com a ONU e todos os países,
inclusive o Brasil, que se comprometeram com a AGENDA 2030.
No entanto, todas essas instâncias governamentais não conseguem sequer planejar os períodos de seus mandatos/gestões e nunca, ou praticamente quase nunca, uma administração/gestão governamental consegue dar continuidade às ações de seus antecessores, acarretando paralisação de obras e serviços públicos, desperdício de recursos humanos, materiais, financeiros e tecnológicos escassos, o que significa um verdadeiro crime contra a administração pública, a população e o país.
Cidades sustentáveis: exemplos para o mundo.
Quando falamos em cidades
e comunidades sustentáveis, não podemos perder de vista que a primazia das
ações deve ser dos poderes/organismos públicos, afinal, a população está a cada
dia mais sujeita, no caso do Brasil, a uma das maiores cargas tributárias do
mundo e pouco ou quase nada recebe em retorno na forma de obras e serviços
públicos essenciais e de qualidade, incluindo serviços ambientais.
Todavia, existe um grande
espaço para a ação voluntária, em todas as áreas relacionados com os Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS) onde participam cada vez mais as pessoas,
as organizações não governamentais (ONGs), os clubes de serviços e entidades
sindicais representativas dos trabalhadores e do empresariado e, também,
algumas Igrejas de diferentes credos e denominações.
Se houver conjugação de ações, tendo os ODS como referenciais, com certeza, poderemos contribuir sobremaneira para que as CIDADES VERDES E SUSTENTÁVEIS, sejam, de fato, uma nova face da sustentabilidade urbana. Sem isso, continuaremos vivendo em cidades que representam um verdadeiro caos, onde a violência, a exclusão social e econômica, a corrupção, a marginalização social e a degradação ambiental estão presentes no dia a dia de milhões de brasileiros.
Curitiba/PR/Brasil: “cidade verde” é reconhecida mundialmente pelas suas iniciativas sustentáveis.
Na tentativa de identificar as
características de uma CIDADE SUSTENTÁVEL OU CIDADE VERDE, mencionadas em
diversas estudos e pesquisas disponíveis ao grande público e também aos
gestores públicos e empresários, podemos mencionar alguns desses requisitos, a
saber: 1) promover a agricultura orgânica urbana e periurbana (agroecologia,
hortas domésticas, escolares e comunitárias); 2) encorajar dietas alimentares
saudáveis, através da educação alimentar, com preferência para consumir
alimentos orgânicos produzidos localmente; 3) reduzir o consumo e o desperdício
de água, de energia e de alimentos, contribuindo para a redução da geração de
lixo; 4) promover o reuso, a RECICLAGEM e a economia circular; 5) estimular o
VERDE, através de amplos programas de arborização dos espaços
públicos e privados, estimular a criação de QUINTAIS e moradias VERDES; 6)
recuperar e preservar nascentes e cursos d’água (córregos, rios etc) arborizando
essas áreas; 7) estimular o cultivo de plantas medicinais e árvores frutíferas
e pomares principalmente em áreas urbanas e periurbana desocupadas
(incluindo verdadeiros latifúndios urbanos); 8) reconectar a cidade (área
urbana) com seu entorno (áreas rurais), estimular os cinturões verdes; 9) criar
corredores ecológicos dentro das cidades e entre cidades de uma mesma região
fortalecendo a biodiversidade; 10) criar, ampliar e manter ciclovias,
estimulando a substituição do transporte motorizado individual e coletivo, uma
das maiores fontes de poluição urbana; 11) estimular e incentivar o uso de
fontes alternativas de energia limpa, como a energia solar e eólica abundantes
no Brasil; 12) construir e manter calçadas verdes e ecológicas, que favorecem o
escoamento das águas de chuva e o deslocamento seguro de pedestres, pessoas com
deficiência e mulheres com crianças de colo; 13) universalizar o abastecimento
de água potável e esgotamento sanitário para todos os moradores, contribuindo
sobremaneira para a melhoria da saúde pública e a qualidade de vida urbana; 14)
promover a universalização da coleta e tratamento adequado dos resíduos
sólidos/lixo; 15) promover a reciclagem de forma ampla, reduzindo
significativamente o volume de lixo que não tem destinação correta e contribui
para aumentar os níveis de poluição urbana; 16) reduzir e controlar os níveis
de poluição urbana (poluição do ar, das águas e do solo); 17) estimular a
redução do consumo de energia e estimular a eficiência energética em todos os
setores e atividades urbanas; 18) estimular práticas sustentáveis na indústria,
no comércio, nos serviços públicos e privados, na agropecuária e silvicultura,
que conduzam a uma economia verde, uma economia circular de baixo carbono; 19)
estimular e promover sistemas de transportes urbanos sustentáveis, facilitando
a mobilidade urbana, reduzindo os níveis de poluição urbana e as mudanças
climáticas; 20) universalizar e garantir moradia digna para todos os moradores
das cidades, reduzindo drasticamente as habitações sub-humanas (favelas, casas
de cômodo, palafitas e congêneres).
Com certeza, todos esses
aspectos devem estar presentes no que poderíamos denominar de uma NOVA
URBANIZAÇAO e em uma AGENDA URBANA SUSTENTÁVEL, sem o que se falar em cidades
verdes e sustentáveis pode soar como apenas um reforço de discursos demagógico
por parte das autoridades e gestores públicos.
Estamos em pleno período
eleitoral, quando pouco mais de 147,9 milhões de eleitores, mesmo em meio `a
pandemia do coronavírus, deverão escolher os futuros prefeitos e vereadores nos
5.570 municípios existentes no Brasil. A partir de 01 de Janeiro de 2021 esses
eleitos iniciarão mais uma gestão municipal, momento, mais do que oportuno,
para que a população pressione tais gestores a colocarem o meio ambiente no
centro das ações municipais.
Oxalá todos os municípios possam construir uma AGENDA URBANA SUSTENTÁVEL, para que até o ano de 2030 possamos ter milhares de CIDADES VERDES E SUSTENTÁVEIS em nosso país.
Um modelo de cidade verde na Virada Sustentável.
Este desafio é de cada pessoa e
de todos os brasileiros, é uma verdadeira cruzada da cidadania em prol da
SUSTENTABILIDADE URBANA, ninguém pode se omitir, nem durante as eleições e
muito menos após a posse dos novos eleitos. A cidade pertence, não aos seus
governantes, que são transitórios, mas sim a todas as pessoas que nela vivem,
lutam, trabalham, reclamam de suas mazelas e sonham com dias melhores!
(ecodebate)
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