• A
recuperação verde pós-pandemia pode aproximar as emissões de 2030 dos níveis
necessários para limitar o aquecimento em até 2°C. Mais ações seriam
necessárias para alcançar a meta de 1,5°C.
• A
queda de até 7% das emissões em 2020 causadas pela pandemia terá um reflexo
insignificante sobre a mudança climática.
• Novas
promessas de emissões zero são bem-vindas, mas precisam ser refletidas nos
compromissos dos países no âmbito do Acordo de Paris e acompanhadas por ações
rápidas.
Entretanto, se os governos investirem na ação
climática como parte da recuperação da pandemia e solidificarem os compromissos
para zerar as emissões líquidas, com mais comprometimento na próxima reunião climática
– que ocorrerá em Glasgow em novembro de 2021, podem levar as emissões a níveis
amplamente consistentes com a meta de 2°C.
Os governos ainda poderiam alcançar a meta mais
ambiciosa de 1,5°C ao combinar uma recuperação verde pós-pandemia com movimentos
rápidos para incluir novos compromissos de emissões líquidas zero na
atualização de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em
inglês) do Acordo de Paris, acompanhados de ação rápida e mais forte.
“O ano de 2020 está a caminho de ser um dos mais
quentes já registrados. Enquanto isso, incêndios florestais, tempestades e
secas continuam a causar estragos”, afirmou Inger Andersen, Diretora Executiva
do PNUMA. “Porém, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões do PNUMA mostra que
uma recuperação verde pós-pandemia pode reduzir uma grande fatia das emissões
de gases de efeito estufa e ajudar a frear a mudança climática. Convoco os
governos a apoiarem uma recuperação verde na próxima etapa das intervenções
fiscais no contexto da COVID-19 e a aumentarem significativamente suas ambições
climáticas em 2021”.
A cada ano, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões
avalia a diferença entre as emissões previstas e os níveis consistentes com as
metas do Acordo de Paris para limitar o aquecimento global neste século abaixo
de 2°C – almejando 1,5°C. O relatório conclui que em 2019 as emissões totais de
gases de efeito estufa, incluindo a mudança no uso do solo, atingiram um novo
recorde de 59,1 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e).
As emissões globais de gases de efeito estufa cresceram em média 1,4% ao ano
desde 2010, com um aumento veloz de 2,6% em 2019 devido à intensificação dos
incêndios florestais.
As emissões de dióxido de carbono devem cair até 7% em 2020, segundo estimativas, como reflexo da redução de viagens, menor atividade industrial e menor geração de eletricidade no contexto da pandemia. Entretanto, esta queda se traduz em uma redução de apenas 0,01°C no aquecimento global até 2050. Enquanto isso, as NDCs continuam sendo inadequadas.
Recuperação verde é urgente
Uma recuperação verde pós-pandemia poderia reduzir
até 25% das emissões esperadas para 2030, com base nas políticas em vigor antes
da COVID-19. Uma recuperação verde colocaria as emissões em 2030 a 44 GtCO2e,
ao invés dos 59 GtCO2e previstos – número muito superior às reduções
previstas nas NDCs incondicionais, deixando o mundo no caminho para 3,2°C de
aumento da temperatura.
Esta recuperação verde colocaria as emissões dentro
da faixa que dá 66% de chance de manter as temperaturas abaixo de 2°C, mas
ainda seria insuficiente para atingir a meta de 1,5°C.
As medidas para priorizar a recuperação fiscal verde
incluem apoio direto a tecnologias e infraestrutura de emissões zero, redução
dos subsídios aos combustíveis fósseis, barrar novas usinas de carvão e
promover soluções baseadas na natureza – incluindo a restauração de paisagens
em larga escala e reflorestamento.
Até agora, o relatório conclui que as ações para uma
recuperação fiscal verde têm sido limitadas. Cerca de um quarto dos membros do
G20 tem dedicado parte de seus gastos, até 3% do PIB, a medidas de baixo
carbono.
No entanto, ainda existe uma oportunidade
significativa para os países implementarem políticas e programas verdes. O
relatório conclui que os governos devem aproveitar esta oportunidade na próxima
etapa das intervenções fiscais frente à COVID-19.
O relatório também constata que o número crescente
de países se comprometendo com metas de emissões líquidas zero até meados do
século é um “desenvolvimento significativo e encorajador”. No momento da
conclusão do documento, 126 países, representando 51% das emissões globais de
gases de efeito estufa, haviam adotado, anunciado ou estavam considerando metas
de emissão zero.
Cada ano, o relatório também analisa o potencial de
setores específicos. Em 2020, considera o comportamento dos consumidores e os
setores de transporte marítimo e aéreo.
Os setores de transporte marítimo e aviação, que
respondem por 5% das emissões globais, requerem atenção. Melhorias na
tecnologia e nas operações podem aumentar a eficiência do combustível, mas o
aumento projetado da demanda significa que isto não resultará em
descarbonização e reduções absolutas de CO2. Ambos os setores
precisam combinar a eficiência energética com um rápido abandono dos
combustíveis fósseis, conclui o relatório.
O estudo ainda aponta que uma ação climática mais
forte deve incluir mudanças no comportamento de consumo do setor privado e dos
indivíduos. Cerca de dois terços das emissões globais estão ligados às
residências privadas, quando se utiliza a contabilidade baseada no consumo.
Ricos têm a maior responsabilidade: emissões do 1% mais rico da população mundial representam mais do que o dobro das emissões dos 50% mais pobres. Este grupo precisará reduzir sua pegada em 30 vezes para se manter alinhado às metas do Acordo de Paris.
Possíveis ações para apoiar a redução do consumo de carbono incluem a substituição de voos domésticos de curta distância por transporte limpo (como ferrovias), incentivos e infraestrutura voltados para bicicletas e compartilhamento de carros, mais eficiência energética das moradias e políticas para reduzir o desperdício de alimentos. (ecodebate)
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