A
Pandemia de Covid-19 desmascarou o mito das grandes cadeias de suprimento de
carne não só no Brasil, mas no mundo inteiro, a exemplo da corporação
brasileira JBS, atingida no Brasil, Canadá e Estados Unidos. A política de
concentração de frigoríficos no Brasil precisa ser revista, incluindo a quebra
de monopólio e uma análise aprofundada dos efeitos da Covid-19 nestas empresas
deve chegar ao público, sobretudo em termos de aumento de preços e falta de
produtos no mercado.
Nesta
direção, mais de 30 (trinta) grupos e organizações, incluindo o Instituto de
Mercados Abertos e alguns senadores dos Estados Unidos estão pedindo ao
Presidente Biden o uso da Lei Anti-Trust para banir o monopólio do que é
chamado de Big Ag (Grande Agricultura) e Big Meat (Carne Grande). Nisto, a JBS
está incluída por ser parte da meia dúzia de frigoríficos que formam o
monopólio da indústria de carnes no país. Assim sendo, espera-se que a
concentração de frigoríficos e o Grande Agronegócio no Brasil sejam revistos
também.
Para
pesquisadores do Instituto de Mercados Abertos, as grandes indústrias de carnes
já são os mais perigosos ambientes de trabalho, quando se mostrou o poder da
Carne Grande sobre sua força de trabalho em 2020, momento em que a Covid-19 se
espalhou nestas indústrias. Ao invés de pausar ou reduzir as linhas de trabalho
em seus matadores para evitar o surto, lobistas foram acionados no governo
Trump para que estas indústrias se mantivessem funcionando e fazendo negócios
como sempre (Business as Usual – BAU). Sem padrões de segurança obrigatórios,
muitas empresas ainda não reconfiguraram suas instalações. O resultado foi que
mais de 57.000 trabalhadores adoeceram e 284 morreram desde o início da
Pandemia nos Estados Unidos. No Brasil, diante de ações do Ministério do
Trabalho e comentários da imprensa, o resultado não deve ter sido diferente ou
pior.
A pandemia de Covid-19 no mundo levou a sociedade a uma pausa e já faz um bom tempo. Podemos estar na beira de uma transformação sobre como cada um de nós vivemos e como mercadorias são produzidas, consumidas e distribuídas. Não temos poder de prever o futuro, mas transições para a sustentabilidade são vistas como opções prospectivas. Neste sentido, os especialistas em sustentabilidade há mais de 30 anos vêm se preparando para este momento e prontos para os desafios, reconhecendo que o surto de Covid-19 pode ser o marco de início de uma transição para a produção e o consumo sustentáveis.
Este tema começou sendo tratado na Conferência Rio-92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e enfatizado anos depois pela Sociedade Real de Londres (Royal Society of London), Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, OECD, Comissão Europeia, Conselho Nórdico, PNUD, até chegar ao Acordo de Paris. As complexidades são enormes e as consequências de falhas são sérias e óbvias.
Não
se pode permitir que estas cadeias de suprimentos e as relações do comércio
internacional, como conhecemos hoje, voltem ao “normal” após a pandemia, embora
muitos estejam defendendo isto, usando o Estado para fortalecer o sistema
capitalista e manter os negócios como sempre (BAU). Considerando as ineficiências
e disrupção da atual cadeia de suprimentos da indústria de carnes tem que se
pensar num “novo normal”, com mudanças profundas no setor, talvez privilegiando
o mercado local com mais emprego e melhorias de renda em cada localidade.
Para
isto, novos tipos de desenvolvimento econômico e modelos de governança exigem
um pensar profundo, mudanças de comportamento e ações bem pensadas.
Embora
se reconheça a necessidade de transição para uma produção e consumo
sustentáveis, a degradação global só faz aumentar, razão pela qual alguns
autores oferecem uma orientação que nos leva a distinguir entre os que defendem
a persistência da insustentabilidade e os que propõem mudanças estruturais para
os atuais sistemas insustentáveis de produção e consumo.
Infelizmente
alguns continuam enfatizando o lado do consumo dentro de uma visão estreita de
consumo sustentável e consciente, mas sem desafiar as contradições sociais,
ambientais e as raízes das desigualdades e injustiças na economia global e sem
reconhecer a importância de coprodução de conhecimento e ações voltadas para
mudar os sistemas de produção e consumo em direção à sustentabilidade.
Diante
destas duas visões, a Covid-19 marcará um ponto de virada e uma oportunidade
única para gerar mudanças radicais no sistema de produção e consumo ou, mais
uma vez, a assistência do Estado servirá para resgatar o sistema capitalista.
Nesta janela de oportunidades, a Covid-19 desmascarou o mito de que as atuais
formas de produção e consumo são as únicas opções. Pode-se refletir que
aspectos do velho “normal” podem ser aproveitados, mas é chegado o tempo de se
criar um “novo normal”.
O
governo e boa parte da classe política desprezaram a Pandemia e o resultado
está sendo catastrófico. Depois de um ano de destruição e isolamento humano,
desprezar a sociedade e os rumos de uma economia sustentável será outro
desastre pior. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário