Savanas estão se expandindo
na Amazônia em consequência de incêndios florestais.
José Tadeu Arantes/Agência
FAPESP – Savanas nativas estão se expandindo no interior do sistema amazônico
em consequência de incêndios florestais recorrentes, aponta estudo publicado no
periódico Ecosystems.
A pesquisa, apoiada pela
FAPESP, foi realizada por Bernardo Monteiro Flores, atualmente pós-doutorando
em ecologia na Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, e por Milena
Holmgren, professora do Departamento de Ciências Ambientais da Wageningen
University, nos Países Baixos.
“Por muito tempo, as partes
periféricas da floresta amazônica foram consideradas as mais vulneráveis,
devido à expansão da fronteira agrícola. Essa degradação da floresta, ao longo
do chamado ‘arco do desmatamento’, continua ocorrendo e constitui algo muito
preocupante. Mas verificamos que, além dela, está acontecendo também um
processo de savanização no coração da Amazônia, bem longe da fronteira
agrícola”, relata o pesquisador à Agência FAPESP.
Os autores fizeram a
descoberta em uma paisagem de ecossistemas inundáveis, no médio rio Negro, na
região do município de Barcelos, a pouco mais de 400 quilômetros a montante de
Manaus, onde manchas de savana de areia branca crescem em meio à floresta
preservada. A causa apontada são incêndios recorrentes, cuja intensidade e
frequência vêm aumentando no contexto maior da mudança climática global.
“Mapeamos 40 anos de
incêndios florestais usando imagens de satélite e coletamos informações
detalhadas em campo para avaliar se as florestas queimadas estavam mudando. Ao
analisar a abundância de espécies de árvores e as propriedades do solo em
diferentes momentos no passado, descobrimos que os incêndios florestais haviam
matado praticamente todas as árvores, possibilitando que a camada superficial
do solo, rica em argila, sofresse erosão com as inundações anuais e se tornasse
progressivamente arenosa”.
Além disso, os pesquisadores constataram que, no processo natural de recuperação das áreas queimadas, o tipo de cobertura vegetal passou por importante modificação, com a proliferação de árvores típicas das savanas de areia branca, que se tornaram cada vez mais dominantes, junto com plantas herbáceas nativas.
Incêndios florestais têm promovido a expansão das savanas no coração da Amazônia, indica estudo.
Autores do estudo fizeram a
descoberta em uma paisagem de ecossistemas inundáveis, no médio Rio Negro, na
região do município de Barcelos/AM.
Campinas
De onde vieram essas árvores
de savana? Segundo Flores, as savanas fazem parte do sistema amazônico.
Aproximadamente 11% da Amazônia está coberta por savanas. São savanas antigas,
bem diferentes de um bioma tão rico em biodiversidade quanto o Cerrado, porém,
mesmo assim dotadas de muitas espécies vegetais endêmicas. A população local as
chama de “campinas”. Vista do alto, a paisagem amazônica apresenta pequenas
ilhas de savana cercadas por um mar de floresta. As sementes das espécies
vegetais de savana são carregadas pelas águas, peixes e aves. E, quando chegam
a uma área queimada e de solo degradado, são elas, e não as sementes das
espécies de floresta, que têm maior chance de germinar e repovoar aquele pedaço
de terra.
“Nossa pesquisa mostrou que
as savanas nativas estão em expansão e podem se expandir ainda mais na
Amazônia. Não ao longo do ‘arco do desmatamento’, onde as gramíneas exóticas
estão se espalhando, mas sim a partir de manchas de savana de areia branca
disseminadas por toda a bacia, em regiões remotas”, afirma Flores.
Aqui há um ponto muito
importante a ressaltar. Na Amazônia, as florestas inundáveis, chamadas de
florestas de igapó ou de igarapé, são muito menos resilientes do que as
florestas de terra firme. Queimam com maior facilidade e, uma vez queimadas,
seu solo, lavado pelas águas, degrada-se muito mais rapidamente. “Elas
constituem o ‘calcanhar de Aquiles’ do sistema amazônico”, diz Holmgren,
coautora do estudo. “Temos evidências de campo de que, se o
clima amazônico se tornar mais seco e os incêndios mais intensos e frequentes,
as florestas inundáveis serão as primeiras a colapsar”, acrescenta.
E esses dois fatores – clima mais seco e incêndios mais intensos e frequentes – já são uma realidade, no quadro da mudança climática em curso. O próprio estudo mostrou que, durante o severo El Niño de 2016, os incêndios ocorridos na região do médio rio Negro queimaram uma área 7 vezes maior do que a acumulada nos 40 anos anteriores.
Incêndios florestais estão desenvolvendo savanas na Amazônia.
Os incêndios estão
modificando a paisagem e fazendo surgiu a Savana, segundo pesquisadores da
FAPESP.
“A perda adicional de
florestas inundáveis pode resultar na emissão de enormes quantidades de
carbono, estocado nas árvores, solos e turfeiras, e também reduzir a
disponibilidade de recursos como peixes e produtos florestais para os povos
locais. As novas descobertas reforçam a urgência de defender as florestas
remotas. Por exemplo, implementando um programa de manejo de fogo para diminuir
a propagação de incêndios florestais durante os períodos secos”, alerta Flores.
(ecodebate)
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