Estudo
detalha o impacto da crise do clima sobre a biodiversidade e aponta os
micos-leões entre os mais vulneráveis no Brasil.
As
mudanças climáticas podem extinguir espécies de plantas e animais nos lugares
mais biodiversos do mundo, alerta um novo estudo, publicado em 08/04/2021 na
revista Biological Conservation.
Equipe
global de cientistas liderada por Stella Manes e Mariana Vale, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro/UFRJ, analisou quase 300 hotspots de biodiversidade,
lugares com números excepcionalmente altos de espécies animais e vegetais, em
terra e no mar. Pesquisadores verificaram que animais endêmicos, aqueles que só
ocorrem em regiões exclusivas do planeta, têm 2,7 vezes mais probabilidade de
extinção do que outras espécies se as emissões de gases de efeito estufa
continuarem a aumentar, impactando seus habitats únicos.
As
políticas atuais colocam o mundo no caminho de 3°C de aquecimento. Neste
cenário, um terço das espécies endêmicas que vivem em terra e cerca da metade
das espécies endêmicas que vivem no mar enfrentarão a extinção. Nas montanhas,
84% dos animais e plantas endêmicas podem ser extintas a essas temperaturas,
enquanto nas ilhas esse número sobe para 100%. Em geral, 92% das espécies
endêmicas terrestres e 95% das endêmicas marinhas sofrerão consequências
negativas, como redução de populações.
“A
mudança climática ameaça áreas transbordantes de espécies que não podem ser
encontradas em nenhum outro lugar do mundo. O risco de que tais espécies se
percam para sempre aumenta mais de dez vezes se falharmos os objetivos do
Acordo de Paris”, afirma Manes, autora principal do estudo. Para ela, há pouco
conhecimento sobre o valor da biodiversidade.
“Quanto
maior for a diversidade de espécies, maior será a saúde da natureza. A
diversidade também protege contra ameaças como as mudanças climáticas”, explica
Manes. “Uma natureza saudável fornece contribuições indispensáveis às pessoas,
como água, alimentos, materiais, proteção contra desastres, recreação e
conexões culturais e espirituais.”
Espécies
endêmicas incluem alguns animais e plantas mais icônicos do mundo, como
mico-leões do Brasil, que podem perder mais de 70% de seu habitat até 2080,
segundo o estudo. A América do Sul será uma das regiões mais afetadas
exatamente por ter importantes hotspots de biodiversidade, com até 30% de todas
as suas espécies endêmicas em alto risco de extinção. As ilhas do Caribe podem
perder a maioria de suas plantas endêmicas até metade do século, e os recifes
de coral da região também podem desaparecer.
“Confirmamos nossas suspeitas de que espécies endêmicas estariam particularmente ameaçadas pelas mudanças climáticas. Isto poderia aumentar muito as taxas de extinção em todo o mundo, uma vez que essas regiões ricas em biodiversidade estão repletas de espécies endêmicas”, explica Mariana Vale, uma das autoras da pesquisa e também pesquisadora da UFRJ. “Infelizmente, nosso estudo mostra que esses pontos ricos de biodiversidade não poderão atuar como porto seguro contra as mudanças climáticas”.
Tartaruga-de-pente, espécie ameaçada de extinção, flutua debaixo d'água em recife de corais no Oceano Índico.
Mais de
1 milhão de espécies do planeta estão ameaçadas de extinção.
Relatório
inédito mostra que danos aos ecossistemas são os mais críticos da História da
Humanidade.
Tartarugas
marinhas que aninham em muitas praias da América do Sul e Central, são
vulneráveis ao aumento da temperatura. No Havaí, plantas nativas icônicas, como
a palavra-de-prata Haleakala, poderiam se extinguir, assim como aves nativas
simbólicas, como os honeycreepers havaianos. Outras espécies ameaçadas de
extinção pelas mudanças climáticas incluem lêmures, exclusivos de Madagascar,
leopardo da neve característico dos Himalaias, além de plantas medicinais como
o líquen Lobaria pindarensis, usado para aliviar a artrite.
Wolfgang
Kiessling, especialista em vida marinha da Universidade Friedrich-Alexander
Erlangen-Nürnberg e coautor do estudo, explica que espécies exóticas
introduzidas em um determinado habitat se beneficiam quando as espécies
endêmicas são extintas. “Nosso estudo mostra que um mundo uniforme e
provavelmente sem graça está à nossa frente devido à mudança climática”.
“Por
natureza, estas espécies não podem se deslocar facilmente para ambientes mais
favoráveis”, explica Mark Costello, especialista em vida marinha da
Universidade Nord e da Universidade de Auckland e também coautor da pesquisa.
“As análises indicam que 20% de todas as espécies estão ameaçadas de extinção
devido à mudança climática nas próximas décadas, a menos que atuemos agora”.
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