Análise comprovou alta
incidência do lixo tóxico nas praias de Santos/SP.
Não é novidade que a bituca
de cigarro é um resíduo que se configura entre os maiores contaminantes dos
oceanos. De acordo com um relatório da ONG Cigarette Butt Pollution, de 2018,
ao longo de 32 anos o item foi o mais coletado nas praias em todo o mundo,
somando aproximadamente 60 milhões de unidades.
Estudo inédito do Instituto
do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp) – Campus Baixada
Santista, publicado no periódico científico Waste Management, identificou a
ocorrência e analisou a toxicidade das bitucas de cigarros nas praias de
Santos/SP.
Os resultados comprovam que esses filtros representam um risco potencial aos ambientes onde são descartados e, por isso, os pesquisadores concluem que a adoção de políticas públicas que visem minimizar esse problema é fundamental.
Passo a passo
O trabalho foi publicado pela
pesquisadora Christiane Freire Lima, aluna de mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira, do IMar/Unifesp.
Com a orientação principal do docente e vice-diretor do instituto, Prof. Ítalo
Braga Castro, o estudo foi conduzido a partir da preocupação com o descarte
inadequado de lixo no mar em Santos e seus impactos sociais, econômicos e
ambientais.
A pesquisa se dividiu em três
grandes etapas:
Primeira etapa – O passo
inicial foi constatar a ocorrência de bitucas de cigarro nas praias de Santos.
A operação foi realizada por meio de mutirões de limpeza em parceria com ONGs.
Após contabilizar a quantidade de lixo recolhido, os pesquisadores
identificaram que as bitucas estão em primeiro e segundo lugares entre os itens
mais encontrados na praia – representando 51% e 34% do lixo nas coletas de
verão e inverno, respectivamente.
Segunda etapa – O passo
subsequente consistiu em caracterizar as bitucas que foram encontradas. Para
tanto, o grupo identificou as marcas de cigarro mais frequentemente descartadas
nas praias. Este passo foi fundamental para entender que empresas seriam
eventualmente responsáveis por esse tipo de contaminação. Essas informações do
estudo podem contribuir para a implantação de uma política de logística
reversa.
Terceira etapa – Na etapa
final, foram realizados os estudos laboratoriais de sedimentação. Nesse
processo, foi possível verificar o tempo de permanência das bitucas na coluna
d’água: ou seja, se os resíduos, quando caem no mar, permanecem na água ou
afundam para os sedimentos no fundo do oceano. A análise foi feita através de
experimentos, usando provetas contendo água do mar em diferentes condições
(agitação ou estático). Foi verificado que, em média, a partir do terceiro dia,
as bitucas deixam de flutuar e atingem o fundo do mar, portanto contaminando
também os sedimentos.
“Essa etapa foi importante para entender que as bitucas liberam substâncias tóxicas tanto para a água quanto para os sedimentos do fundo, e, desse modo, os resultados confirmaram a necessidade de aplicação dos ensaios ecotoxicológicos nos dois compartimentos do ambiente”, explica o vice-diretor do IMar.
Estudo revela que bitucas de cigarro são os grandes poluentes dos oceanos.
Políticas públicas
Ainda segundo Castro, os
resultados da pesquisa demonstraram que a bituca de cigarro é um problema sério,
que leva a muitos compostos químicos perigosos ao ambiente e que podem matar ou
causar danos reprodutivos graves nos organismos aquáticos – tanto para os
habitantes da água quanto para os que vivem enterrados nos sedimentos do mar.
“É importante ressaltar que o
cigarro tem mais de sete mil substâncias tóxicas. Quando ocorre o ato de fumar,
muitas dessas substâncias ficam retidas nas bitucas que, ao serem lançadas no
ambiente, funcionam como verdadeiras bombas químicas com várias substâncias
perigosas retidas naquele filtro, e que acabam sendo liberadas e contaminando o
ambiente”, complementa o professor.
Os cientistas ressaltam que
mais estudos para compreender outros aspectos do comportamento de bitucas em
diferentes compartimentos ambientais, bem como ensaios ecotoxicológicos que
envolvam outros grupos tróficos, são recomendados e ajudarão a fornecer
informações de amparo a políticas públicas em relação a produtos derivados do
tabaco. Por isso, os próximos passos devem estudar a toxicidade das bitucas, sobre
outros grupos de organismo e sobre outras condições ambientais – como, por
exemplo, em água doce e no solo. (ecodebate)
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